10/12/10 11h37

Concorrência europeia faz sapato nacional sofisticar-se

Valor Econômico

Mudam os bicos, os tons, o tipo de couro e de solado, mas não a certeza de que um bom sapato social é um item obrigatório do homem que se pressupõe elegante. No Brasil, o principal polo de fabricação de calçados masculinos é a cidade de Franca (SP), onde estão cerca de 760 empresas. A produção anual gira em torno 26 milhões de pares, sendo 85% de sapatos masculinos. A referência de estilo e qualidade vem de fora, de grifes como as italianas Ermenegildo Zegna e Salvatore Ferragamo e as inglesas Crockett & Jones e Edward Green. As europeias ditam as pequenas mudanças que atualizam o design dos sapatos de uma temporada para outra. E é a presença delas no mercado nacional que está fazendo com que o consumidor fique mais exigente.

Segundo o empresário Jorgito Donadelli, que vem de uma família que atuou por mais de 40 anos no segmento de calçados masculinos, há uma boa parcela de consumidores que não está preocupada com o preço, mas com a excelência do produto. E é para ela que o mercado deve acordar. Há cerca de dois anos, Donadelli criou uma grife com seu nome, cujos sapatos são vendidos em lojas de moda masculina - por preços que variam entre R$ 240 (US$ 141) e R$ 350 (US$ 206). A linha traz matéria-prima e acabamentos acima da média. Por exemplo: para forrar os sapatos por dentro, Donadelli usa couro de carneiro com silicone, para dar um toque sedoso, que "acaricia os pés". A palmilha é acolchoada e continua macia mesmo depois de muito utilizada.

Para o ano que vem, o empresário tem planos ousados: colocar no mercado uma linha ainda mais sofisticada, com sapatos que vão custar entre R$ 800 e R$ 3 mil. "O grande diferencial desta linha será o acabamento impecável e a riqueza e cuidado em cada detalhe. Os couros serão praticamente todos importados da Argentina, Alemanha e França, a exceção do couro de cabra, que será nacional", diz Donadelli, que terá também sapatos de couro de crocodilo e de cobra píton. O atendimento aos clientes será no ateliê do empresário, com hora marcada.

Com menos de um ano de atividade, a grife brasileira The Craft Shoes Factory, com uma loja no shopping Vila Olímpia, em São Paulo, também mira uma clientela que não se contenta com pouco. Os sapatos, que custam em média, R$ 350 (US$ 206), são todos de couro, por fora e por dentro. "Com a chegada das grifes internacionais, mudaram os parâmetros de qualidade", afirma David Gonçalves, dono da grife. O empresário, que é também consultor, trabalha com calçados masculinos desde a década de 80, passando por empresas como a Democrata e a italiana Geox. A próxima investida da The Craft Shoes é nos sapatos artesanais, feitos sob encomenda, por uma equipe de artesãos, com couros importados da Alemanha, da França e da Argentina. Os preços dos produtos vão variar entre R$ 1,4 mil (US$ 824) e R$ 1,8 mil (US$ 1,06 mil).