24/10/11 16h43

Companhias voltam a investir em pesquisa

Valor Econômico

Depois de reduzir os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) por conta da crise econômica mundial, em 2009, as 1.000 maiores empresas de capital aberto do planeta voltaram a aplicar mais recursos na criação de novos produtos e tecnologias.

Em 2010, os orçamentos tiveram um incremento de 9,3%, atingindo US$ 550 bilhões, segundo levantamento da consultoria americana Booz&Co. Além de uma forte retomada frente à queda de 3,5% em 2009, os valores aplicados também superaram os investimentos feitos em 2008, período que antecedeu a crise. De acordo com Roberto Leuzinger, sócio da consultoria, o resultado reposiciona os investimentos em P&D de volta à tendência histórica de crescimento. "O ano de 2009 foi um ponto fora da curva", diz o executivo.

Apesar de significativo, o aumento de 9,5% nos orçamentos de pesquisa foi menor que o crescimento de 15% nas receitas totais de US$ 15,41 trilhões das companhias pesquisadas durante 2010. Devido a esse descompasso, a intensidade dos investimentos em P&D, ou a proporção entre esses gastos e o faturamento das companhias, teve uma ligeira queda de 3,76% em 2009, para 3,52% em 2010.

Segundo a Booz&Co, o ajuste é natural, tendo em vista que em 2009 as empresas não cortaram os orçamentos na mesma proporção em que as vendas caíram em todo o mundo. Em 2009, os investimentos em P&D até subiram como percentual do faturamento das empresas: de 3,46% em 2008 para 3,75%.

Pela primeira vez desde que o estudo começou a ser publicado, em 2005, nenhuma companhia do setor de tecnologia da informação (TI) ficou entre as três maiores investidoras em P&D. Assim como no levantamento do ano passado, a farmacêutica Roche liderou o ranking. Durante 2010, a companhia aplicou US$ 9,64 bilhões em P&D, o equivalente a 21,1% de suas vendas. Na segunda e na terceira colocação ficaram as também farmacêuticas Pfizer e Novartis, respectivamente, que ampliaram seus investimentos em torno de 20% cada.

Com o resultado, as companhias ultrapassaram a Microsoft e a Nokia, que no ranking do ano passado ocupavam a segunda e a terceira posição respectivamente. Com uma redução de 3,3% em seus gastos com P&D, a dona do Windows caiu para a quarta posição na tabela de 2010. A Nokia, por sua vez, ficou com o oitavo lugar, com uma retração de 0,8% no orçamento. Na avaliação de Leuzinger, o melhor desempenho das companhias do segmento farmacêutico pode estar relacionado a algum desenvolvimento específico realizado durante o ano de 2010.

Na comparação entre setores, as empresas de computação e eletrônicos mantiveram a dianteira nos investimentos em P&D. Com um crescimento de 6,1% em seus orçamentos - acréscimo de US$ 16,9 bilhões -, elas foram responsáveis por 28% do total de recursos aplicados pelas 1.000 maiores empresas. O segmento de saúde foi o que teve o segundo maior orçamento, respondendo por 22% dos US$ 550 bilhões. As empresas do setor automobilístico tiveram o terceiro melhor desempenho, com 15% do total dos investimentos.

Apesar de o volume de recursos investidos ser importante para medir os esforços de uma empresa se diferenciar no mercado, Leuzinger destaca que parece não existir uma relação direta entre esse montante aplicado em P&D e a percepção de quanto as companhias são inovadoras. "Essa tendência começou a aparecer no estudo do ano passado e se confirmou agora", diz o executivo.

Quando questionados sobre quais as empresas que consideravam as mais inovadoras do mundo, os executivos ouvidos para o levantamento da Booz&Co citaram apenas algumas colocadas entre as dez que mais investem em inovação. Na verdade, 70% deles citaram a Apple, companhia que figura na 70ª posição do ranking, com investimento de US$ 1,782 bilhão. Em segundo lugar ficou o Google, que ocupa a 34ª colocação, com orçamento de US$ 3,762 bilhões. A surpresa da lista foi o Facebook que, por ter capital fechado, nem entra no ranking da Booz. "A inovação não é tanto uma questão de quanto se investe, e sim de como se investe", diz Leuzinger.