15/08/11 17h50

Companhias de São Paulo intensificam as pesquisas

Valor Econômico

Na contramão do restante do país, as empresas paulistas têm aumentado seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e contratado mais pesquisadores. É o que revela estudo inédito da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a ser publicado nos próximos dias na nova edição dos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo. Em 2008, as empresas do Estado concentravam, de acordo com o levantamento, 53% dos pesquisadores, enquanto no Brasil a média era de 33%.

Os dados mostram que, pela primeira vez, o ambiente corporativo superou o mundo acadêmico paulista em número de pesquisadores. Do total de quase 63 mil profissionais do Estado, as instituições de ensino superior (IES) abrigavam 42% deles. Os 5% restantes estavam em institutos de pesquisa. Em 2001, a relação era inversa: as IES concentravam 51% dos pesquisadores e as empresas, 43%. Os institutos de pesquisa somavam 6%.

O número de pesquisadores nas empresas paulistas praticamente dobrou em relação a 1995, quando se deu início à estabilidade monetária no país. Naquele ano, as corporações tinham 17.133 profissionais em P&D. Em 2008, já eram 33.528, o um incremento de 96%.

A mesma tendência era verificada no país como um todo: em 1995, as empresas abrigavam 33.079 pesquisadores; em 2008, somavam 69.747 profissionais. No entanto, as IES brasileiras continuam concentrando a maior parte deles, com 152.519 em 2008 (ou 67% do total), mas com tendência decrescente. Em 1995, o mundo acadêmico era responsável por 70%.

Para o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, os números indicam uma mudança do comportamento empresarial, que começou a considerar a inovação tecnológica como elemento importante nas estratégias de concorrência e crescimento. "Houve um empenho maior do empresariado paulista em melhorar a sua capacidade de criação e desenvolvimento. Mas esse ainda era um grande desafio nos outros Estados", afirma Brito Cruz, que também é professor do Instituto de Física da Universidade de Campinas (Unicamp).

Ele explica que, de acordo com o estudo da Fapesp, no restante do país o investimento corporativo em pesquisa foi reduzido. Em 2001, as empresas brasileiras detinham 39% dos pesquisadores, enquanto as IES contavam com 54% e os institutos de pesquisa, 7%. Em 2008, a proporção era de 33% nas empresas, 61% nas IES e 6% nos institutos.

Segundo o diretor da Fapesp, a diferença entre São Paulo e o restante do país pode ser justificada: o EStado tinha - e tem - uma economia mais industrializada, parecida com a de países desenvolvidos, realidade que não se constatava nas demais regiões.

O professor revela que o setor com mais pesquisadores era o automobilístico, cujas indústrias estavam concentradas em São Paulo e, por isso, tinham peso no cálculo dos indicadores das corporações privadas. Esse setor era responsável por quase um quarto do P&D industrial brasileiro e mais de 30% em São Paulo. Depois, aparecia o de outros equipamentos de transporte, particularmente a indústria de aviões, ou seja, a Embraer. Em terceiro lugar, vinha a indústria química e, em quarto, a de aparelhos e equipamentos de comunicação.

No país como um todo, quase a metade da pesquisa industrial se concentrava em três setores: automobilístico, coque e refino de petróleo e álcool e produção de aeronaves. Uma curiosidade: de acordo com pesquisa de 2008 do Departamento de Inovação, Universidades e Habilidades do Reino Unido, cinco empresas brasileiras apareciam no ranking mundial das que mais investiam em P&D: Petrobrás, Vale, Embraer, Braskem e WEG.

Apesar dos indicadores positivos, o Estado e especialmente o país estavam longe dos indicadores de outras nações. "Nos Estados Unidos, 80% dos pesquisadores estavam nas empresas; na Coreia do Sul, 79%; e na China, 75%. Estamos mais próximos da Espanha, onde 50% dos profissionais trabalhavam nas companhias", informa Cruz.

Para ele, o investimento em P&D está diretamente ligado à macroeconomia e, apesar do desenvolvimento registrado no país a partir de 2005, as empresas brasileiras ainda não apostavam em pesquisas mais ousadas. "Elas ficaram muito presas ao incremental, para sobreviver no mercado", constata. A explicação nem é nova: a taxa de juros, os encargos trabalhistas, o câmbio e a carga tributária. "Uma empresa brasileira tinha custo trabalhista menor para fazer pesquisa na Califórnia (EUA) do que no Paraná."

Para o diretor científico da Fapesp, a tendência é de diminuir a velocidade do crescimento em P&D no ambiente corporativo nos próximos anos, em função dos efeitos da crise mundial de 2009, que reduziu o ritmo de desenvolvimento econômico e que terá grande influência nos futuros indicadores.

"Enquanto as empresas não conseguirem recuperar a sua capacidade de investimento, certamente os próximos indicadores mostrarão um ritmo mais lento em P&D. Mas ele aposta que dois setores deverão avançar em pesquisa e desenvolvimento nos próximos anos: petróleo e gás, em função do pré-sal, e bioenergia e biocombustível.

O estudo da Fapesp considerou o universo de pesquisadores em empresas e institutos de pesquisas, de professores universitários com título de doutor, em regime de dedicação exclusiva ou não, e de estudantes de doutorado ou pós-doutorado com bolsas concedidas por instituições públicas. O levantamento compilou ainda informações do Censo do Ensino Superior, Capes, CNPq, institutos de pesquisa estaduais e federais no Estado de São Paulo, Ministério da Ciência e Tecnologia, Pesquisa de Inovação Tecnológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e da própria Fapesp.