29/09/10 13h34

Como é carregar a bola de cristal do mercado de TI

Valor Econômico – 29/09/10

"Não sei por que nunca vim ao Brasil. Viajo o mundo todo, já deveria ter vindo pra cá", diz ao Valor Peter Sondergaard, vice-presidente de pesquisa da consultoria americana Gartner, especializada em estudos sobre o mercado de tecnologia da informação (TI), pouco antes de ir para o aeroporto e encerrar sua primeira visita ao país. O executivo dinamarquês de 46 anos não representa nenhuma empresa de software ou fabricante de equipamentos, mas pode ser considerado uma das pessoas mais influentes do setor de TI no mundo.

Há seis anos como líder da equipe de analistas do Gartner, Sondergaard ajuda a decifrar os caminhos que a indústria vai seguir no futuro, criando prognósticos que influenciam todo o setor. Por ano, são cerca de 8,5 mil estudos, que direcionam as compras de TI feitas pelas grandes companhias, indicam pontos de cobertura para a imprensa especializada e mudam o hermético vocabulário do setor. Foi o Gartner que cunhou termos bastante usados que ficaram consagrados no setor, como Enterprise Resource Planning (ERP) e Business Intelligence (BI), que definem os sistemas que fazem a gestão e a análise das informações geradas pelas empresas.

Em 2009, o faturamento da companhia chegou a US$ 1,14 bilhão. A área de pesquisa respondeu por 66% do total. Os demais 34% ficaram divididos entre a realização de eventos e os serviços de consultoria. A empresa emprega 1,2 mil funcionários no mundo, sendo 730 em pesquisa. No Brasil, são 50 profissionais. Para Sondergaard, o país tem a melhor estrutura de TI entre os países emergentes do Bric, o bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia e China. O país é um dos focos de investimento da companhia em meio aos esforços para reduzir a dependência das receitas obtidas nos Estados Unidos, que respondem atualmente por 55% do faturamento.

Os estudos começam com as conversas dos analistas do Gartner com os usuários e os fornecedores de tecnologia. Segundo Sondergaard, todos os meses cerca de 15 mil consultas de clientes são feitas ao Gartner. A companhia também marca 23 mil reuniões por ano com os fabricantes. "Parte do negócio está relacionado à maneira como as pessoas vão colocar as tecnologias no mercado. Por isso é importante conversar com as pessoas certas nas companhias." Com as informações em mãos, os analistas escrevem relatórios ou se dedicam ao estudo mais aprofundado de questões que podem virar tendências.

Atualmente, Sondergaard vê seis grandes movimentos no setor: a computação em nuvem, pela qual as informações e programas são acessados pela internet, dispensando a necessidade de ter tudo armazenado no computador; os sistemas para análise de dados; o redesenho da infraestrutura e dos sistemas de TI das companhias; o uso das redes sociais e das tecnologias de colaboração integradas aos sistemas de gerenciamento das informações nas empresas; e a criação de regras e normas para a tomada de decisões dentro dos departamentos de TI.