Com Open 5G, Campinas quer se tornar Vale do Silício brasileiro
Prefeitura e seis parceiros públicos e privados lançaram na quarta-feira o movimento tecnológico
Jornal CorreioCampinas lançou nesta quarta-feira (8) a semente para se tornar o futuro Vale do Silício brasileiro, referência à região da Califórnia que tem uma das maiores aglomerações de empresas com domínio de tecnologia de ponta do mundo. A Prefeitura e seis parceiros privados e públicos apresentaram o movimento Open 5G@Campinas, que integra universidades, institutos de pesquisa e empresas para criar um modelo de internet 5G, que está chegando ao Brasil, customizado para a realidade nacional. A iniciativa inédita no País foi acompanhada da regulamentação da lei municipal de benefícios fiscais para incentivar a instalação de empresas de alta tecnologia, que visa atrair R$ 3,5 bilhões de investimentos privados e geração de 5 mil empregos no prazo de dois a três anos.
O Open 5G@Campinas é uma iniciativa colaborativa e aberta voltada à pesquisa, desenvolvimento, experimentação, inovação em tecnologia e aplicações 5G. Além da Prefeitura, o movimento tem a participação do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Agricultura Digital (Embrapa), Rede Nacional de Ensino e Pesquisa, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Estadual de Campinas (PUC) e a operadora TIM. Está aberto também à entrada de novos parceiros.
“Campinas tem a possibilidade de se tornar o Vale do Silício brasileiro. Tem todos os atrativos, tem institutos de pesquisas, universidades e é desenvolvedora de tecnologia e conhecimento”, afirmou o prefeito Dário Saadi (Republicanos). Para ele, essas características e as ações que visam tornar Campinas mais amigável para investimentos criam condições para a formação de um ecossistema que impulsione a criação e o refinamento de tecnologias, aplicações e modelos de negócios relacionados ao 5G.
Parceiros
Para o vice-presidente de Tecnologia da TIM, Leonardo Capdeville, o movimento nascido em Campinas pode desenvolver soluções voltadas para a realidade nacional de aplicações da internet de quinta geração. Elas podem envolver desde o desenvolvimento de equipamentos para a instalação da infraestrutura de rede até a criação de novos softwares e hardwares. A empresa investirá R$ 14 bilhões nos próximos três anos no País, valor destinado à ampliação da rede e pequisas.
Capdeville cita, por exemplo, que o Japão tem projetos avançados de uso de 5G na educação e a Coreia do Sul, na telemedicina, mas são países com realidades diferentes do Brasil. “Nós temos que criar soluções para os nossos problemas”, afirma.
A internet de quinta geração promete um salto evolutivo ao permitir altíssimos padrões de velocidade de conexão e de usuários simultâneos, transmissão simultânea maior de dados e processamento mais rápido das informações.
A rede 4G disponível atualmente no País é capaz de entregar a velocidade média de conexão, de aproximadamente 33 Mbps. Estima-se que o 5G será capaz de entregar velocidades 50 a 100 vezes maiores, podendo alcançar até 10 Gbps. Será uma nova realidade disponível para todos, inclusive para o usuário comum, pois possibilitará a chamada “internet das coisas”, com mais equipamentos conectados e inteligentes. A geladeira poderá, por exemplo, ser programada para avisar se algum produto está acabando e até fazer a compra online.
O 5G estará disponível, a partir do próximo mês, em todas as capitais e no distrito federal. O cronograma da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) prevê a operacioalização em todas as cidades com mais de 500 mil habitantes até julho de 2025.
O presidente do CPQD, Sebastião Sahão Junior, aponta que o centro investirá R$ 53 milhões nos próximos anos em dois projetos que envolvem o 5G, valor que não inclui os 10% da receita anual destinada às pesquisas. O CPQD, sediado em Campinas, é um dos maiores centros de pesquisa e desenvolvimento da América Latina e está voltado à inovação de tecnologias da informação e comunicação.
Aplicações
Para o reitor da PUC, Germano Rigacci Júnior, a Open 5G@Campinas é uma oportunidade para a universidade cumprir o seu papel nas três áreas a que se destina: ensino, pesquisa e extensão. Ela formará desde a preparação de mão de obra para a nova realidade do 5G até o desenvolvimento de novas tecnologias para essa área.
O presidente da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Renato Lopes, lembra que a instituição teve participação destacada em duas tecnologias nacionais - o uso do etanol como combustível e a digitalização da comunicação, como o desenvolvimento da fibra ótica. O 5G amplia essas possibilidades.
O Centro de Pesquisa em Engenharia, chamado SmartNess 2030, tem a previsão de investir R$ 56 milhões nos próximos oito anos para projetar e operar as redes de telecomunicações. O centro é uma parceria entre a Unicamp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a empresa Ericsson e outras universidades.
A chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agricultura Digital, Carla Macário, afirma que a internet de quinta geração abrirá uma ampla gama de aplicações na agropecuária. Ela aponta que apenas 23% das propriedades rurais brasileiras estão conectadas à rede mundial de computadores e geralmente são grandes produtores, como de soja e trigo. Para Carla, o 5G permitirá a integração das pequenas e médias propriedades.
O Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) no Brasil foi de R$ 1,129 trilhão em 2021, sendo que o uso da internet poderá aumentar o montante em 10%, estima Crla Macário. Ela cita o exemplo do uso de drones para monitorar as propriedades e enviar imagens em tempo real para o proprietário. Em caso de necessidade, completa, o equipamento poderá fazer a aplicação de defensivo na quantidade necessária para uma área específica, reduzindo o impacto para o meio ambiente.
Instalada em Campinas, a Agropecuária Digital é uma das 43 unidades da Embrapa. Sua atuação é focada no desenvolvimento de soluções de tecnologia da informação e comunicação (TIC) para atender às demandas do setor agropecuário.
Empresas de alta tecnologia terão benefícios fiscais
O lançamento da Open 5G@Campinas ontem foi acompanhada pela regulamentação da lei municipal de benefícios fiscais para incentivar a instalação de empresas de alta tecnologia, que visa atrair R$ 3,5 bilhões de investimentos privados e geração de 15 mil empregos no prazo de dois a três anos. O prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), foi ontem à noite a São Paulo para fazer uma apresentação desses benefícios em um encontro com empresários. Na segunda-feira, o prefeito realizará uma live no YouTube para mostrar o Open 5G@Campinas para empresas, startups e instituições interessadas.
O Programa de Atração de Novos Investimentos e Geração de Empregos no Município de Campinas é um das 20 ações - e a principal - do Programa de Ativação Econômica e Social (PAES), com previsão de receber 87,5% dos investimentos e angariar 25% dos novos postos de trabalho. O PAES, lançado no final do ano passado, inclui medidas de iniciativa às micro e pequenas empresas, desburocratização dos processos da Prefeitura e outras para atrair R$ 4 bilhões em investimentos e geração de mais de 20 mil empregos. O decreto 22.166, publicado ontem do Diário Oficial do Município, estabelece que as empresas que se enquadrarem terão direito à isenção de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU), do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) e do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) para a construção civil, além de redução do ISSQN de 5% para 2%. Os benefícios poderão vigorar por 6 a 20 anos, dependendo do investimento feito e do número de empregos gerados, e serão válidos tanto para empresas já sediadas no município que ampliarem as operações como para as novas que se instalarem. Poderão se beneficiar indústrias, centros de distribuição, unidades de logística e serviços, call centers e empresas de informática das áreas de tecnologia da informação e de comunicações, etc.
Segundo o secretário municipal de Finanças, Aurílio Caiado, a lei de incentivos não significa renúncia fiscal. “São empresas que não investiriam aqui, que estávamos perdendo para outras cidades e que vão gerar impostos, empregos e renda em Campinas”, explica. Sem citar nomes, a secretária de Desenvolvimento Econômico, Tecnologia e Inovação, Adriana Flosi, disse que a Prefeitura negocia a instalação de duas empresas interessadas nas isenções oferecidas.