Com fábrica em Suape, Shineray mira SP e RJ
Valor EconômicoCom a inauguração da sua primeira montadora fora da China, no complexo industrial de Suape (PE), a chinesa Shineray deve zerar as importações de motos da marca no Brasil até novembro. Para driblar o quarto ano consecutivo de retração na indústria de motos no país, a companhia vai buscar expansão em São Paulo e no Rio de Janeiro, mercados praticamente inexplorados pela marca presente no Brasil há dez anos.
A fábrica da Shineray foi construída com recursos de quatro sócios do grupo pernambucano Total, que atua nos ramos de combustíveis, importação de veículos e de material de construção, e fatura R$ 4,8 bilhões. Até agora, eles desembolsaram R$ 130 milhões no projeto, mas já estão previstos mais R$ 70 milhões para ampliação da área de estocagem da unidade e construção de um laboratório de testes. A previsão é de que as obras iniciem ainda neste ano.
Única montadora de motos do Brasil fora de Manaus, a unidade passou a funcionar na semana passada com capacidade para produzir 250 mil motos por ano, mais do que o dobro do que Shineray vendeu no país em 2014 (117 mil).
Segundo Paulo Perez, sócio-diretor da montadora, a saída para escoar a produção é explorar novos mercados. Atualmente, mais da metade das vendas da Shineray no país, que somaram R$ 417 milhões no ano passado, foram no Nordeste. Isoladamente, o maior Estado em volume de vendas é Minas Gerais, mas trata-se de caso isolado da empresa no Sudeste. Em São Paulo e Rio, a companhia tem "baixíssima" atuação, assim como em alguns estados importantes do Nordeste, como o Ceará.
Esses estados deverão receber a maior parte das concessionárias exclusivas da marca no próximo ano, afirma Perez. Estão previstas entre 80 e 100 novas unidades, que devem se somar as atuais 170 (considerando os pontos de vendas não exclusivos, são 230). O empresário destaca ainda a parceria de vendas com a rede Magazine Luiza para conquistar o mercado paulista.
Perez diz que a unidade abre as portas em um momento desafiador para o mercado de motos, especialmente o focado no consumidor das classes C, D e E, que tem dificuldade para acessar crédito e sofre imediata redução do poder de compra por conta da inflação. "O que há de pior hoje para o nosso consumidor é a alta dos preços. Trabalhamos com um cenário de que não haverá ganho real na renda no próximo ano. É um horizonte desafiador", afirma o empresário.
Depois de um pico de produção em 2008 e 2011 (ver arte), a produção de motos no Brasil deve encolher 6,9% esse ano em volume, segundo projeção da Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Biclicletas e Similares (Abraciclo).
Na contramão do mercado, Perez prevê que a Shineray conseguirá crescer 11% no Brasil, neste ano em volume, para 130 mil unidades, com a expansão em novos estados. Para o próximo ano, que concentrará a abertura de grande parte das novas concessionárias, é previsto um desempenho ainda melhor, de alta de 15% na produção, para 150 mil unidades ao ano. "Daí para frente, o ritmo de produção da montadora será ditado pela nossa capacidade de abrir outras concessionárias. Não é fácil convencer um empreendedor a entrar nesse negócios em um momento de crise", diz.
A maior parte dos componentes das motos Shineray continuarão a ser importados da China. Por isso, a alta do dólar vai compensar as economias com logística e incentivos de produção no Brasil. "No fim da contas, a produção local não vai permitir a redução nos preços, mas vai impedir que eles subam", afirma
Com capital fechado, a Shineray se define "líder" na fabricação de motos no seu país de origem. A empresa exporta para mais de 86 países número superior a 100 modelos, que vão de 50 a 400 cilindradas. Em Pernambuco, serão fabricados 20 modelos.
No Brasil, a Shineray é hoje a terceira maior marca de motos do em vendas (atrás de Honda e Yamaha) e a quinta no ranking de emplacamento (atrás também de Suzuki e Dafra), de acordo com Perez. O modelo mais barato da marca custa R$ 3.900 e o mais vendido sai por R$ 4.600.
Carro-chefe da empresa, as motos de 50 cilindradas -também conhecidas como cinquentinha -, não exigem emplacamento e têm fiscalização precária. Perez diz que a Shineray destinará todo o seu orçamento de marketing deste ano a campanhas educativas. "Nosso maior inimigo é a violência no trânsito. Se conseguirmos reduzir isso, mais pessoas buscarão o nosso produto".