Com exceção de capitais, Campinas é a melhor cidade da América Latina para investimentos
Ecossistema favorável para investimentos colocou o município em boa posição no ranking internacional feito por uma consultoria britânica
Correio PopularCampinas é a melhor cidade da América Latina, com exceção de capitais, com um ecossistema favorável para investimentos, de acordo com um estudo internacional que avaliou os mil maiores municípios do mundo. A pesquisa Global Cities Index 2024 foi feita pela consultoria britânica Oxford Economics, especializada em dar suporte para empresas poderem decidir suas estratégicas de crescimento, definir novas oportunidades e otimizar as operações. O levantamento avaliou 27 indicadores em cinco categorias – economia, capital humano, qualidade de vida, meio ambiente e governança – com base em dados oficiais, definindo uma pontuação para fazer a classificação.
“Em 2023, as 1.000 maiores cidades do mundo representavam 60% do PIB (Produto Interno Bruto) global e mais de 30% da população mundial – e a importância das cidades só continuará a crescer no futuro”, ressaltou o relatório, assinado pelo diretor de Serviços Municipais da Oxford, Mark Britton, e pelos economistas seniores Anthony Bernard-Sasges e George Bowen. Britton atua há duas décadas com economia urbana e regional, sendo o responsável pelos estudos que auxiliam os clientes, tanto do setor privado quanto público, na tomada de decisões de localização estratégica.
Campinas aparece na 384ª posição mundial e na 4ª entre as cidades brasileiras, atrás apenas de São Paulo (294ª), Brasília (309ª) e Rio de Janeiro (356ª). “É um título fantástico Campinas ser a cidade mais apta a atrair investimentos, fora algumas capitais”, comemorou o prefeito Dário Saadi (Republicanos). “Isso é fruto de um trabalho que vem há muitos anos e que nós aceleramos nos últimos três anos. Nós preparamos a cidade para ser um ambiente mais amigável ao investimento, ao empreendedorismo”, afirmou. Ele enumerou medidas adotadas para atrair as empresas, como incentivos fiscais, redução do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de galpões e lançamento do Programa de Ativação Econômica e Social (PAES).
“Isso deu resultado. Essa classificação, o ranking que colocou Campinas nessa posição, é exemplo disso”, disse Saadi. No país, o estudo colocou a cidade à frente de capitais como Florianópolis (SC – 395ª posição), Curitiba (PR – 458ª) e Belo Horizonte (MG – 460ª). O ranking traz 27 cidades e duas regiões brasileiras entre as melhores do mundo. Seis são do Estado de São Paulo, com a melhor classificação depois de Campinas sendo a de Ribeirão Preto (545º lugar), seguida pela Baixada Santista (556º), Sorocaba (579º) e São José dos Campos (631º).
Fatores
Alguns fatores ajudam Campinas a aparecer em uma boa posição na lista, entre eles a existência do Aeroporto Internacional de Viracopos, o maior de cargas do Brasil, ser a 10ª cidade mais rica do país – com PIB equivalente ao de países da América do Sul –, ser cortada por cinco das maiores rodovias brasileiras, estar em uma região com 16 instituições de ensino superior, com algumas das melhores universidades nacionais, maior concentração de instituições de Pesquisas e Desenvolvimento (P&D) do interior brasileiro, e ser a sede do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que conta com o Sirius, a fonte de luz síncrotron, a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no país. O entorno formado pela Região Metropolitana conta ainda com um parque industrial diversificado, com a presença de 50 das 500 maiores empresas do mundo.
Na América Latina, Campinas aparece em 15º lugar para investimentos, sendo a única do interior nesse recorte regional. A melhor colocação é da Cidade do México (México – 280ª posição no ranking geral), aparecendo também Buenos Aires (Argentina – 284ª) e Lima (Peru – 284ª) à frente de São Paulo, a primeira cidade brasileira a aparecer no ranking global da Oxford. Estudos como esse são “indicadores que guiam os formuladores de políticas públicas das cidades brasileiras no desenvolvimento de ecossistemas mais propícios para o crescimento das empresas”, explicou a cientista política Renata Mendes, diretora de Relações Institucionais e Governamentais da Endeavor Brasil, rede internacional de empreendedores. Ela trabalha com pesquisas e iniciativas de promoção de políticas públicas para o desenvolvimento socioeconômico do país.
Novos passos
Dário Saadi também aposta em projetos em andamento para atrair novas empresas. Os três eixos principais de desenvolvimentos de Campinas definidos são o Polo de Inovação para o Desenvolvimento Sustentável (PIDS), voltado para a instalação de empresas de alta tecnologia em área do Distrito de Barão Geraldo, a região do Aeroporto de Viracopos e a área central. De acordo com o prefeito, investimentos estão sendo feitos para desenvolver esses locais.
Três empreendimentos em andamento pelo governo do Estado, que preveem investimentos de R$ 16,9 bilhões, favorecem o desenvolvimento. São eles a implantação do Trem Intercidades (TIC) São Paulo-Campinas, que teve a concessão assinada na quartafeira e será integrada a duas linhas de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que terão estações na Estação Cultura (antiga Fepasa), no Centro. O terceiro projeto é a duplicação da Rodovia Miguel Melhado, na região do aeroporto. De acordo com o prefeito, a área do complexo ferroviário será revitalizada até a inauguração do primeiro serviço do projeto do TIC, que a implantação do Trem Intermetropolitano (TIM), ligando Campinas a Jundiaí, previsto para começar a operar em 2029.
Segundo Dário, está em fase final o acordo com a União da cessão definitiva para o município da área de 200 mil metros quadrados do pátio ferroviário. A administração pretende usar os cerca de 40 prédios instalados no local para o desenvolvimento de projetos de uso misto e incentivos para ser usado por espaços culturais, turismo, eventos, gastronomia, áreas de inovação e tecnologia, instituições de ensino e pesquisa e receber novos modais de transporte. O Prédio do Relógio, que foi recentemente sede de uma mostra de arquitetura e decoração, foi o primeiro a ser recuperado. A ocupação dessa área faz parte do programa de revitalização da área central, que inclui outras medidas de incentivos para aumentar o fluxo de pessoas. Entre eles, incentivos fiscais para reforma de prédios e instalação de empresas, além da reforma de vias públicas, como a Avenida Dr. Campos Sales e a Rua José Paulino. Um ponto-chave para o futuro da região do Viracopos é definição da administração do aeroporto. A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos (ABV), que havia aberto mão do gerenciamento, está em negociação com o governo federal para seguir na operação. A previsão é que a definição ocorra no segundo semestre deste ano.
Independente da decisão, o aeroporto atraiu R$ 1,26 bilhão em investimentos nos primeiros cinco meses de 2024 para ampliar a capacidade de movimentação de cargas. Eles incluem a instalação da primeira fase do novo Terminal Logístico destinado às operações nacionais, internacionais e remessas expressas, e as ampliações de operação de duas empresas aéreas. A criação do PIDS está em tramitação na Câmara Municipal. Apenas o HUB Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que integrará o polo, tem potencial para gerar 20 mil empregos, sendo a metade nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.
Em relação ao ranking global, as cinco cidades que estão na liderança são, em ordem decrescente, Nova York (Estados Unidos), Londres (Reino Unido), São José (Califórnia, EUA), Tóquio (Japão) e Paris (França). “Avaliar os pontos fortes relativos e a importância das cidades em todo o mundo é valioso para que empresas, acadêmicos e dirigentes políticos possam tomar decisões. Tais comparações devem considerar mais do que apenas o desempenho econômico”, apontou o relatório do Global Cities Index.