28/01/11 11h00

Com chip orgânico, Brasil ganha chance em semicondutores

Valor Econômico

O Brasil perdeu oportunidades recentes de ter sua própria indústria de semicondutores. Mas uma nova chance de o país ganhar espaço nesse mercado parece surgir com os avanços em uma área ainda pouco conhecida da tecnologia: a eletrônica orgânica. A técnica usa compostos de moléculas baseadas em carbono no lugar de elementos como silício e cobre na fabricação de componentes. Por usar material comum, como flúor e enxofre, a eletrônica orgânica demanda investimentos mais baixos. "Com US$ 100 mil já é possível montar uma fábrica", diz o professor Roberto Mendonça Faria, coordenador do Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica (Ineo) da Universidade de São Paulo (USP) em São Carlos. Uma fábrica de chip de silício custa cerca de US$ 3 bilhões.

A fábrica de componentes orgânicos também dispensa investimentos maciços na montagem de áreas livres de impureza, as chamadas salas limpas, e de sistemas de vácuo. "A eletrônica orgânica será a grande indústria do século XXI. Precisamos embarcar nessa viagem agora", diz Faria. O mercado de dispositivos eletrônicos orgânicos movimenta anualmente R$ 5 bilhões (US$ 2,9 bilhões) no mundo e pode chegar a R$ 600 bilhões (US$ 353 bilhões) em 15 anos, conforme dados da consultoria IDTechEx. No mercado brasileiro, o potencial é de atingir R$ 18 bilhões (US$ 10,6 bilhões) ao ano no mesmo período.

Em seu estágio atual, a tecnologia não pode ser aplicada à fabricação dos processadores centrais de celulares e computadores - dois dos tipos mais comuns de chips. A tecnologia já pode, no entanto, substituir a eletrônica tradicional em material semicondutor usado na fabricação de sensores, telas flexíveis, painéis para captação de energia solar, lâmpadas e etiquetas inteligentes. "As embalagens de remédio podem ter circuitos que mudam de cor para indicar quando o medicamento passa da data de validade", exemplifica Faria. Cartões inteligentes e papel eletrônico são outras possibilidades. Só no Ineo existem mais de 30 grupos de pesquisa estudando aplicações e conceitos científicos relacionados à eletrônica orgânica.