Com ajuda da indústria, Sudeste deve sair da recessão antes do resto do país
Valor EconômicoCom importante ajuda da indústria, a economia do Sudeste deve sair da recessão antes do resto do país, segundo um estudo sobre desempenho regional do Produto Interno Bruto (PIB) feito pela 4E Consultoria.
A partir dos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada, em conjunto com outras fontes de informação, como arrecadação de ICMS, produção industrial e movimento no comércio, a 4E estimou a evolução do PIB por Estado e por região no segundo trimestre de 2016.
O estudo mostra que todas as regiões ainda encolheram entre abril e junho, na comparação com os três meses anteriores, em linha com a evolução do PIB nacional, que caiu 0,6% no período.
O Sudeste, porém, teve um desempenho um pouco menos pior do que a média. A atividade na região caiu 0,1% no segundo trimestre, menos do que a queda de 1% observada entre janeiro e março, sempre considerando a série com ajuste sazonal.
Leopoldo Gutierre, economista da consultoria e autor do estudo, lembra que o setor industrial na região, especialmente em São Paulo, vem mostrando reação um pouco mais rápida do que na média do país, até porque a base de comparação é bastante baixa, depois de um longo período de queda da atividade. Além disso, comenta, no geral o setor instalado na região é mais sofisticado e mais competitivo do que no restante do país, o que favorece a retomada, ainda que bastante lenta, da produção. No trimestre, o ramo manufatureiro avançou 0,4% no Sudeste, puxado pela alta de 1,4% da indústria paulista. No Brasil como um todo, o PIB industrial aumentou 0,3%.
Apenas a atividade da indústria no Centro-Oeste subiu mais do que a do Sudeste, com aumento de 0,5% sobre o período de janeiro a março, segundo os cálculos da 4E. A alta, porém, não foi suficiente para ofuscar o péssimo desempenho do setor agropecuário e de serviços na região.
Com o clima desfavorável, muito seco, as safras de uma série de culturas importantes - como milho, soja e arroz - encolheram em relação ao ano passado, derrubando o PIB do setor. No país como um todo, a retração foi de 2% no segundo trimestre, mas o desempenho muito ruim ficou concentrado no Centro-Oeste, onde o PIB agropecuário encolheu 5,9% na passagem trimestral.
Gutierre explica que não apenas o desempenho do setor agrícola é afetado pela menor produção de grãos: os serviços também acabam impactos pela menor renda gerada pelo agronegócio, com efeitos em área como transportes, comércio e intermediação financeira.
Isso explica a redução de 2,3% do PIB de serviços na região no período, o que levou a economia do Centro-Oeste a encolher 2,2% entre abril e junho, em relação aos três meses imediatamente anteriores, pior desempenho entre as cinco regiões do país. Os Estados com maior queda do produto no período, Mato Grosso (-3,3%) e Mato Grosso do Sul (-3,5%), também ficam nessa área.
Para Gutierre, como as principais colheitas do ano já aconteceram - resta apenas a safrinha de milho, que dificilmente deve compensar a queda no primeiro semestre -, é difícil que haja recuperação consistente da agricultura até o fim do ano.
Por outro lado, diz, o fato de a indústria no Sudeste estar se recuperando, mesmo que lentamente, é um bom sinal para o restante da economia, porque gera demanda para outras regiões. "Se a indústria paulista volta a crescer, começa a demandar mais insumos químicos, o que puxa a atividade industrial na Bahia, por exemplo", explica.
Quem depende mais de serviços, como é o caso do Nordeste, por outro lado, deve demorar mais a se recuperar. A economia local já melhorou em relação ao primeiro trimestre, quando a queda foi de 2,6%, mas o PIB nordestino ainda encolheu 0,9% entre abril e junho, segundo pior desempenho entre as regiões do país. Todos os três componentes da oferta recuaram na área: agropecuária (-0,6%), indústria (-1,9%) e serviços (-0,7%).
"Quem é mais dependente de serviços ainda vai sofrer com a deterioração do mercado de trabalho, porque o consumo não vai se expandir muito", diz ele. Já Estados com estrutura industrial mais forte, caso de Espírito Santo, Amazonas e Pará, onde mais de um terço do PIB vem da indústria, tendem a se beneficiar do câmbio desvalorizado e da elevada ociosidade de produção, que deve manter custos controlados por mais tempo.