Cofco Agri planeja ampliar usinas no Brasil
Valor EconômicoA Cofco Agri, controlada pela estatal chinesa de alimentos Cofco e dona de quatro usinas sucroalcooleiras em São Paulo, planeja um forte crescimento no setor no Brasil. O foco, no curto prazo, é a expansão da capacidade de produção de suas plantas no país, mas o crescimento também pode vir a partir da aquisição de usinas.
A meta da companhia, com faturamento global estimado de quase US$ 40 bilhões, é elevar sua capacidade instalada de processamento de cana no Brasil para 18 milhões de toneladas até 2019, o que representaria um crescimento de 20% em relação ao potencial de produção atual, de 15 milhões de toneladas. No longo prazo, porém, o objetivo é "dobrar de tamanho", afirmou Marcelo Andrade, diretor global de açúcar da Cofco Agri, durante o Seminário Internacional do Açúcar, realizado pela Canaplan em São Paulo.
Andrade disse que a companhia está atenta a oportunidades no mercado brasileiro, mas ressaltou que a empresa quer "crescer de forma sustentável". "Com a alta do preço do açúcar, todo mundo achou que poderia vender [usinas] a um preço absurdo", afirmou o executivo, que não vê possibilidade de aquisições de plantas ocorrerem por valores já registrados no passado. Ele se referia a preços entre US$ 80 e US$ 100 por tonelada de capacidade instalada.
Para o diretor da Cofco, o valor justo para adquirir uma usina seria entre US$ 50 e US$ 75 por tonelada de capacidade instalada. Além disso, ressaltou, a usina a ser eventualmente adquirida precisa ter uma estrutura forte para ser atrativa. Isso significa ter capacidade de cogeração e canavial próprio. "Não adianta ter usina e não ter cana".
Na safra atual brasileira (2016/17), iniciada em abril, a Cofco já realizou alguns ajustes em suas unidades que permitiram aumentar a parcela do caldo de cana destinado à produção de açúcar, que ficou em 65%, e focar apenas na produção de açúcar VHP. "Focamos no que somos bons e tiramos a complexidade".
Dessa forma, a produção de açúcar em suas quatro usinas paulistas deve totalizar nesta safra 1,150 milhão de toneladas de açúcar. Na temporada anterior, a produção de açúcar ficou em 800 mil toneladas, parte com açúcar cristal.
O maior foco na produção de açúcar acontece desde o ano passado, quando a Cofco decidiu ampliar a área plantada com cana e antecipar a fixação dos preços de venda do açúcar. A companhia estima que encerrará a safra atual no Brasil no início de dezembro com uma moagem entre 14,5 milhões e 14,7 milhões de toneladas de cana, bem acima das 11 milhões de toneladas processadas no ciclo precedente.
Para a safra 2017/18, a Cofco projeta um processamento de 14 milhões de toneladas de cana, com um mix ainda mais açucareiro do que na safra atual. Segundo Andrade, a fixação de preços do açúcar pela empresa também está à frente da média das demais usinas brasileiras, atualmente em 30%, conforme último levantamento da Archer Consulting.
O plano de crescimento da estatal chinesa na produção de açúcar no Brasil está alinhado à estratégia global da companhia, que apenas neste ano adquiriu, na China, duas usinas de processamento de cana e duas refinarias de açúcar.
Na avaliação de executivos do setor, a Cofco é uma das poucas companhias com potencial real de crescimento no setor sucroalcooleiro do Brasil porque tem presença tanto na produção como na comercialização, negociando globalmente 4 milhões de toneladas de açúcar por ano.
A aposta da Cofco ocorre a despeito da perspectiva de que o maior importador de açúcar do mundo, a China, possa reduzir suas importações nesta safra internacional 2016/17, iniciada em outubro passado, em decorrência da redução do déficit interno de oferta e da liberação de estoques de açúcar do governo.
Segundo a companhia - que embora seja estatal, nega ter conhecimento das políticas do governo para o setor -, já foram ofertadas 520 mil toneladas de açúcar das reservas estratégicas, das quais 350 mil toneladas saíram das reservas do governo central e 170 mil toneladas das reservas da província de Guanxi, maior centro produtor de açúcar no país.
Do volume total, 370 mil toneladas foram adquiridas por um preço considerado elevado, próximo de 7.000 renmibi por tonelada, segundo Mauricio Sacramento, diretor de trading de açúcar da companhia no Brasil. "Isso pode incentivar que mais estoques sejam liberados", disse o executivo, evitando dar uma projeção sobre quanto açúcar ainda será ofertado.
A estimativa de consenso do mercado é que a China tenha cerca de 7 milhões de toneladas de açúcar em suas reservas, mas há dúvidas sobre a qualidade de parte desse produto. "O estoque está lá há muito tempo, pode estar com coloração amarelada. E há parte do açúcar de Cuba, que também tem qualidade menor", afirmou Paulo Roberto Souza, presidente da trading Copersucar. Segundo ele, a China deverá liberar em 2017 algo entre 1 milhão de toneladas e 1,2 milhão de toneladas de açúcar de seus estoques estratégicos.