27/06/10 10h27

Classes A e B financiam mais imóveis

Folha de S. Paulo

Depois que a mulher engravidou, Renato Tomei, 35, piloto de avião, precisava embarcar na compra de um apartamento maior. Aquele onde o casal morava tinha 100 m2, mas só uma suíte. A ideia era encontrar um com mais quartos. O escolhido fica em um condomínio no Brooklin, zona sul de São Paulo. São 143 m2, no valor de R$ 800 mil (US$ 444,4 mil). "Financiamos R$ 400 mil (US$ 222,2 mil) em dez anos e a intenção era amortizar essa dívida depois da venda do imóvel anterior, avaliado em R$ 610 mil (US$ 338,9 mil)", afirma Tomei. Mas os planos mudaram. "Com a boa taxa de juros que conseguimos (9,7% ao ano), decidimos manter o financiamento e investir o dinheiro da venda", revela o piloto.

Esse tipo de decisão tem se tornado mais comum entre os compradores de imóveis acima de R$ 500 mil (US$ 277,8 mil), de acordo com construtoras, imobiliárias e bancos. Com juros menores e mais prazo para pagar, os consumidores das classes A e B passam a enxergar o crédito imobiliário como estratégia financeira. "Esse tipo de crédito costumava ser atrelado à necessidade, e não à oportunidade. Hoje, muitos clientes nossos que podem comprar à vista imóveis acima desse valor preferem manter as aplicações e fazer um financiamento", diz Max Basile, superintendente de produtos pessoa física do Citi.

A construtora Cyrela viu o volume de financiamentos desembolsado na compra de imóveis acima de R$ 500 mil (US$ 277,8 mil) ficar quase dez vezes maior entre 2006 e o ano passado: passou de R$ 65 milhões (US$ 36,1 milhões) para R$ 700 milhões (US$ 388,9 milhões). Luis Largman, diretor de relações com investidores da empresa, ressalta que o Brasil "rompeu uma inércia em relação ao financiamento imobiliário". Ele aposta que o uso desse tipo de crédito continuará crescendo nos próximos cinco anos, assim como os preços e a quantidade de imóveis. "Há uma demanda reprimida muito grande." Ainda no segmento de construção, a Tecnisa diz que as vendas de imóveis acima de R$ 500 mil (US$ 277,8 mil) com financiamento bancário eram quase nulas há três anos e hoje representam 90% dos negócios. Na Brookfield, a fatia passou de 10% a 20% em 2008 para 60% agora.

"Antigamente, as próprias construtoras tinham de financiar os imóveis para conseguir vender porque os bancos não faziam. Hoje, o financiamento direto não é mais uma prática", diz Luiz Rogélio Tolosa, diretor-executivo de relações institucionais da Brookfield Incorporações.