14/01/13 16h44

Classe C entra no foco de novos negócios

O Estado de S. Paulo

A inserção de 40 milhões de brasileiros na classe C tem gerado diversas oportunidades de negócios. E eles são criados tanto por integrantes desse grupo social, como por empreendedores com mais recursos. O empresário Marcos Salgucci é um exemplo. Depois de pesquisar durante um ano, ele decidiu investir seus recurso em duas unidades do Instituto Embelleze, rede de cursos profissionalizantes da área de beleza com foco nas classes C e D.

“Esse é um mercado enorme que se abriu nos últimos anos e que não pode ser deixado de lado”, avalia. Salgucci montou uma unidade em São Roque e outra em Itapevi. “A demanda está sempre aumentando. A área de beleza está só engatinhando no Brasil e ainda tem muito espaço para crescer.”

O empresário afirma que já capacitou mais de 1,2 mil pessoas e que, além do retorno financeiro, o negócio também proporciona grande satisfação pessoal. “Mesmo sem ter estudo, essas pessoas passam a ter uma profissão que garante um rendimento permanente. Muitas vezes precisei ampliar o número de parcelas para quem não podia pagar. Depois de algum tempo, muitos voltaram ao instituto em busca de mão de obra para seus salões, ou para fazer cursos de atualização, e fizeram questão de pagar à vista. Isso é muito gratificante.”

A marca Embelleze foi criada na Baixada Fluminense e conta com 310 unidades em todo o País. O investimento inicial para ser um franqueado fica entre R$ 65, 5 mil e R$ 103,8 mil, dependendo do tamanho da unidade e da população da cidade.

Outro empreendedor que engrossa essa tendência é o aluno de mecatrônica Welter Pereira, de 36 anos. Pertencente à nova classe média, ele trabalhava com automação industrial e decidiu aplicar seus conhecimentos criando a Welter Bike.

“Realizo consertos e venda de bicicletas.” Segundo ele, um ano e meio de atividade ainda não foi suficiente para obter retorno dos R$ 30 mil investidos. “Acredito que isso ocorrerá dentro de dois anos.” O prazo mais estendido, diz ele, se deve ao fato de estar criando o ponto. “Se eu tivesse comprado um ponto pronto, acho que seria mais rápido.”

Para incrementar o negócio a loja está passando por reestruturação sob orientação do Sebrae. “Estou implantando controle financeiro e criando um plano de marketing”, afirma.

Foco. Com o intuito de ajudar a impulsionar pequenos negócios como o de Pereira, João Faria trocou sua carreira de 12 anos no mercado publicitário para criar a Agência Cidadã.

“Coloquei minha experiência a serviço de um novo modelo de comunicação, inspirado no novo cenário econômico do País.” Faria afirma que as grandes agências não estão interessadas em prospectar clientes entre pequenos empreendedores. “Também falta uma aproximação dos profissionais de publicidade com a realidade da classe C.”

Segundo ele, a mentalidade dos pequenos empresários começa a mudar. “Eles estão vendo que é possível fazer campanhas promocionais criativas com investimentos que cabem no orçamento da empresa. Estou achando muito bom trabalhar com esse público porque é uma relação ágil, direto com quem decide.” Ele afirma que, normalmente, esses clientes solicitam pequenas ações para experimentar e, depois que veem o retorno, entendem que o valor pago à agência é um investimento, não um gasto.

Inclusão. Na década de 1990, muito antes nova classe média emergir pelo País, o dentista Paulo Zahr, de São José do Rio Preto (SP), já se preocupava com a popularização do atendimento odontológico. “Naquela época, apenas 8% da população tinham acesso a uma consulta com dentista. Hoje essa porcentagem é de 10%.” Para tentar mudar essa realidade, a solução encontrada por ele foi parcelar o tratamento. “Comprei grande quantidade de material e consegui parcelar o tratamento em mais de 20 vezes”, recorda o fundador da OdontoCompany.

A empresa chegou a ter 25 unidades até 2010, quando foi transformada em franquia, aproveitando o boom da classe média. “Em dois anos implantamos 90 unidades no Brasil. Nós criamos um método de tratamento voltado para a classe C .” O empresário afirma que para este ano, a projeção da empresa é de atender 1 milhão de pessoas, totalizando 10 milhões de procedimentos.

O empreendedor explica que alcançar essa meta será possível porque a marca lançará no final de janeiro o plano odontológico Oral System, pelo qual usuários de todas as idades pagarão mensalidade de R$ 25,00, sem nenhuma carência.

Além disso, pessoas com mais de 60 anos vão usufruir de transporte gratuito, sem qualquer custo adicional. “Basta agendar a consulta e um carro da empresa irá buscar o idoso e depois levá-lo de volta.”

Para ser um franqueado OdontoCompany, o investimento inicial fica entre R$ 60mil e R$ 160 mil.

Beleza, turismo e educação oferecem oportunidades
O consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-SP), Marcelo Sinelli, diz que três setores oferecem várias opções de negócios voltados para a classe C. “Um deles é o de estética. Em seguida vem o setor de turismo. E, com o aumento de renda da nova classe média, ela está reconhecendo, cada vez mais, o valor da educação no futuro dos filhos. Escolas de idiomas e de informática são boas opções de investimento. O setor de serviços, de modo geral, está bastante aquecido.”

O professor de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas, Rogério Chér, dono da consultoria Empreender, afirma que tem vários clientes e amigos explorando oportunidades de negócios com foco nas classes C, D e E. “Todos eles estão prosperando.” Segundo ele, a melhor forma de minimizar os riscos é empreender numa área conhecida.