26/03/13 13h30

Classe A deve triplicar de tamanho em quatro anos

Valor Econômico

Depois de muito confete na classe C, os especialistas estão apontando para o teto. Tão importante quanto a ascensão social dos consumidores D e E para o andar de cima, é a expansão ainda maior e mais rápida dos frequentadores da cobertura. "As famílias da classe C, que eram 17,6% da população em 1992, serão 33,5% em 2017, ou seja, vão dobrar. Mas é preciso destacar que a classe A, que há 15 anos representava 0,7%, vai chegar a 2,3%, o que significa triplicar de tamanho no mesmo período", destaca Jorge Inafuco, gerente sênior da área de varejo da Price Waterhouse Coopers (PWC).

Para sua análise, Inafuco usou dados do IBGE compilados pela consultoria econômica Tendências. "Por uma questão de volume, a classe C é mais vistosa. Mas, ao mesmo tempo, nunca tivemos tantos milionários. É uma mudança sóciodemográfica muito saudável." Como outro comparativo, Inafuco usa a massa de renda do trabalho (assalariados). Pelo levantamento, de 1992 a 2017 a classe C deve manter-se estável, indo de 30,5% para 31,9%. Já os assalariados da classe A, que representavam 9,3% há quinze anos, vão mais que dobrar até 2017, batendo 19,3%.

"Isso significa que há uma grande oportunidade de negócios para quem trabalhar com produtos de maior valor agregado. Vivemos um momento de bifurcação do consumo. Enquanto a classe C passou a comprar xampu de R$ 13, há muito mais gente endinheirada pagando R$ 80 por frascos menores e com mais atributos", diz ele.

A " janela de oportunidades" também está aberta para o mercado de luxo, portanto, com crescimento de "dois dígitos previstos para os próximos cinco anos", avalia Inafuco. É bom destacar que, com os diversos patamares de valores adotados no mercado, a consultoria Tendências estabeleceu como classe C aquela que tem renda familiar mensal de R$ 1741 até R$ 4159 e, classe A aquela que supera R$ 13.026. "Com essa renda, estamos falando que cabe no carrinho de compra mais básico da classe A itens como carros mais sofisticados, viagem para Miami e bolsas de grife."

O levantamento feito pela PWC mostra outro aspecto interessante. A aceleração do crescimento da classe A não será concentrada no Sudeste, que terá um total de 18,9 % de ricos até 2017. Até lá, o Norte do país terá nessa faixa de renda 14,2% de sua população, mais do que o Sul que atingirá 13,5%.

Mas a região brasileira que terá percentualmente a maior concentração de endinheirados será o Centro-Oeste, com 26,5% de sua população na classe A.

A primeira conclusão é que as empresas de luxo terão de colocar essas regiões do país em seu radar. Mas não, necessariamente, abrir lojas em todas as capitais. "A experiência de compra é mais valorizada no mercado de luxo e o lugar onde ela é feita também é sinônimo de status. Talvez o morador de Manaus prefira comprar em Brasília ou São Paulo, e não na sua própria cidade. Mas, definitivamente, Manaus não poderá ser ignorada", destaca Inafuco.

Mas será que o aumento de novos ricos no país significa um crescimento imediato do mercado de luxo interno? Será que os brasileiros não vão continuar preferindo trazer suas sacolas do exterior? "Vivemos numa sociedade de consumo. Então, ascender socialmente significa ter mais poder de compra e incorporar bens de luxo no pacote", diz Daniela Khauaja, coordenadora acadêmica da área de marketing da ESPM. "Com isso, os brasileiros vão continuar a comprar lá fora, mas também vão comprar mais aqui dentro. Os bens de luxo são limitados, então o consumidor precisa garanti-los logo, nem sempre pode esperar até a próxima viagem."

Com mais novos ricos chegando, o mercado de luxo vai ter, segundo os especialistas, muitos consumidores no estágio de deslumbramento, aquele em que é preciso traduzir status e os códigos de pertencimento. Ou seja, as marcas consagradas e reconhecidas por seus logos vão prosperar por aqui, dizem os estudiosos. "Enquanto o europeu de alta renda opta cada vez menos pela ostentação, os consumidores dos países emergentes precisam deixar claras suas conquistas", diz Alberto Serrentino, sócio-sênior da consultoria GS&MD.

O aumento da classe A é um chamariz para novas grifes. Mas, adverte Serrentino, "todo mundo se encanta com o potencial do país e se frustra com a operação." As empresas logo que chegam precisam se reajustar diante do custo Brasil e rever suas projeções de lucros. "Por mais que tenhamos mais milionários, não são tantos assim se compararmos com a China, por exemplo. É estratégico estar no Brasil mas as margens precisam ser reduzidas no curto prazo para a operação se viabilizar."

Com o descompasso de preço - os produtos importados custam muitas vezes mais aqui do que na origem -, mais marcas "bridge" (ponte) que são intermediárias entre o segmento premium e o de luxo devem desembarcar no país. "São marcas como a Coach e a Tory Burch que não são consideradas luxo lá fora, mas que aqui, pelo preço, acabam se posicionando assim", avalia Serrentino.

De qualquer forma, o aumento da classe A significa mais consumidores exigentes no mercado e podendo pagar por suas indulgências. Quem quiser continuar no jogo vai ter de aprimorar a gestão e sofisticar o serviço. "É um momento único e um paradigma. A aceleração do crescimento da classe A significa que o luxo vai ganhar escala no Brasil nos próximos anos e essa oportunidade não pode ser desprezada", acredita Inafuco.