Cidades médias têm bons recursos
Valor EconômicoHá pouco mais de quatro anos, quando estavam prestes a concluir o período de incubação no Cietec, em São Paulo, os sócios da XMobots, fabricante de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANTs) começaram a colocar na balança os prós e contras de deixar a capital paulista para instalar a empresa em outro endereço. "Faltava mão de obra com competência aeronáutica, os custos de operação eram muito altos, o aluguel custava o dobro do cobrado no interior e, acima de tudo, precisávamos voar", lembra o sócio Giovani Amianti. "A única área com autorização liberada era em Sorocaba."
Diante da necessidade de buscar uma nova sede, os empreendedores começaram a desenhar a estratégia de saída, tendo como rota de análise as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São José dos Campos e São Carlos. Entre os pontos avaliados estavam nível de cultura aeronáutica, perfil de universidades, número de empresas do setor aeronáutico, disponibilidade de espaço aéreo, além de bons preços de custo fixo operacional e salários. "A opção foi por São Carlos, distante cerca de 240 km de São Paulo, que conta com duas universidades de ponta, dois cursos técnicos na área e a TAM como principal empresa contratante na época, além de aluguéis e salários com valores que cabiam no orçamento", lembra Amianti.
A XMobots desembarcou na cidade com oito pessoas e hoje conta com 35 funcionários, transformando-se na primeira fabricante de Vants nacional a obter licença da Anac para voar.
O caminho percorrido pela XMobots tem se tornado rotina para muitas empresas dos mais variados tamanhos e especialidades, que buscam cada vez mais cidades com boa infraestrutura e custos para transferir ou iniciar seus negócios. "Uma infraestrutura bem trabalhada impacta diretamente no crescimento econômico do município e da região, cria um bom ambiente para o desenvolvimento econômico, para o nascimento de novas empresas e melhora das condições de vida da população", enfatiza João Melhado, gerente de pesquisa e mobilização da Endeavor e um dos coordenadores do estudo Índice de Cidades Empreendedoras 2014, que avalia a infraestrutura das cidades brasileiras em favor do fomento ao empreendedorismo.
O estudo computou como infraestrutura o transporte urbano (densidade das estradas, número de voos diretos, distância do porto mais próximo), condições urbanas (acesso à internet, custo da energia elétrica, preço médio do m2, tempo de deslocamento e taxa de roubo de veículos), itens que impactam diretamente no crescimento econômico, mas, também, no desenvolvimento da própria sociedade, quando somado à oferta de educação de qualidade, saúde e tratamento de água e esgoto.
"Uma boa infraestrutura permite a comunicação e integração espacial (rodovias, ferrovias, hidrovias), que permite de deslocamento de pessoas, produtos, mentorias, matéria-prima, além do deslocamento imaterial, ou seja, circulação de dados e ideias por meio da telefonia e da internet", afirma Maria Encarnação Sposito, pós-doutora em Geografia e coordenadora da Rede de Pesquisa sobre Cidades Médias (ReCiMe).
Embora as capitais e um bom número de cidades com população acima de 200 mil habitantes já apresentem atraentes condições de infraestrutura em várias regiões do país, ainda há muito a ser feito. Segundo o estudo Urban Infrastructure Insights, da The Economist Intelligence Unit, o crescimento urbano será tão intenso nas próximas décadas que 75% da infraestrutura presente nas cidades em 2050 ainda sequer existem.
A coleta de esgoto nas 100 maiores cidades brasileiras, por exemplo, chegava há dois anos a somente 61,4% da população, sendo que apenas 38,5% do volume captado passam por tratamento. A média nacional de perdas financeiras com água é de 38% e mais de 50% das estradas ainda não são pavimentadas.
Quando o assunto é infraestrutura, o equilíbrio traz melhores resultados e maior atratividade, na visão de Marcos Costa, professor de arquitetura e urbanismo da Faap. Está aí uma das respostas para que dezenas de cidades entre 500 mil e 1 milhão de habitantes estejam atraindo mais pessoas e empresas, em decorrência da boa infraestrutura e boa qualidade de vida, a custos menores. "O interior de São Paulo é pródigo nesse sentido. Conta com boas rodovias, comunicação, universidades de ponta e custo de vida bem menor do que as capitais", diz Costa. Como exemplo ele cita São José dos Campos, São José do Rio Preto, Araraquara, Ribeirão Preto, Bauru e São Carlos, sem falar em Campinas.