05/09/16 14h45

Chineses veem janela de oportunidade no Brasil

Valor Econômico

A China poderá ser o investidor estrangeiro a mais buscar projetos do pacote de US$ 269 bilhões que o governo oferecerá em concessões, outorgas e privatizações entre 2016-2019. É o que acreditam membros da delegação brasileira em Hangzhou.

Os ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e das Relações Exteriores, José Serra, viram sinais positivos do presidente Xi Jinping para mais investimentos em infraestrutura no Brasil, abrindo novas "boas oportunidades" para os negócios.

A avaliação é de que uma parte central na agenda futura Brasil-China será ocupada por negócios na área de infraestrutura. Os chineses buscam oportunidades no exterior, já que no mercado interno há excesso de capacidade em vários setores.

A China vê uma "nova janela" de investimentos, com novos protagonistas privados buscando parcerias com empresas no Brasil. "As relações bilaterais ganham novos galhos onde antes havia apenas o tronco", diz um negociador.

Primeiro o que explodiu foi o comércio bilateral. O Brasil acumulou superávit de US$ 46 bilhões com os chineses entre 2009-2015, vendendo commodities. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil aumentou as importações de manufaturados chineses, de 4% em 2001 para 21% em 2015. Mas 70% das exportações brasileiras são de produtos básicos e a China impõe barreiras à compra de manufaturados. A CNI mapeou 14 segmentos de produtos que o Brasil possui vantagem competitiva para exportar, da indústria e agroindústria, e que sofrem com barreiras à entrada na China.

São eles: carne de aves, bovina e suína; café torrado, em pó e essência; extratos e suco de frutas, suco de laranja; soja em grão e óleo; bebidas processadas e vinhos; couros e peles; celulose e papel; produtos químicos; máquinas e equipamentos médico e hospitalares.

Agora a aceleração é esperada do lado dos investimentos. Conforme o Itamaraty, em razão da desvalorização de muitas empresas brasileiras, corporações chinesas têm realizado grandes aquisições no Brasil. Segundo levantamento da consultoria Dealogic, de Londres, entre janeiro e agosto os chineses investiram US$ 10,6 bilhões em aquisições no Brasil, mais do que o dobro dos US$ 5 bilhões registrados no passado inteiro.

Na sexta-feira, em Xangai, foram anunciados mais investimentos, como um projeto de construção de siderurgia de US$ 3 bilhões no Maranhão e a criação de um fundo de US$ 1 bilhão para agricultura brasileira.

"Em termos de valores, os investimentos chineses em setores intensivos em recursos naturais são muito mais significativos. Além disso, muitos dos investimentos têm sido em aquisições e não greenfield [projetos incipientes]", segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Industria (CNI), Carlos Abijaodi.

Os investimentos chineses na indústria cresceram mas, com a queda do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil nos últimos anos, eles arrefeceram um pouco. A China é ainda um ator muito pequeno em investimentos industriais se comparado aos EUA, Japão, Europa ou mesmo a Coreia do Sul. O total dos investimentos chineses só alcança 4% do estoque total de Investimento Direto Estrangeiro (IED) no país.

O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, disse que vê oportunidades inclusive no turismo. "Mais de 100 milhões de chineses fazem turismo fora. Imagine se atrairmos um milhão de chineses por ano."

Mas Nese saiu frustrado de Xangai. Um acordo de cooperação entre Brasil e China no setor de serviços, uma espécie de guarda-chuva para ampliar negócios bilaterais, não foi assinado.