28/03/10 11h39

China investe pesado no Brasil

O Estado de S. Paulo

O ano de 2010 deverá assistir a um salto no volume de investimentos da China no Brasil, com os maiores negócios da história das relações bilaterais. A maior quantidade de recursos estará concentrada nos setores de petróleo, mineração e siderurgia, que atendem a necessidades estratégicas do país asiático para manutenção do alto ritmo de crescimento econômico.

A visita ao Brasil do presidente Hu Jintao, em 15 e 16 de abril, será um marco nessa onda de investimentos. Durante a passagem do líder chinês pelo Brasil deverá ser assinado o contrato entre a LLX, do empresário Eike Batista, e a estatal Wisco (Wuhan Iron and Steel Corporation), para a construção de uma siderúrgica no Porto do Açu.  Se concretizado, o investimento será o maior já realizado pela China no setor de siderurgia em outro país, além de ser o maior investimento chinês já recebido pelo Brasil. A Wisco entrará com 70% dos US$ 4,7 bilhões necessários à concretização do projeto.

A Petrobrás e a Sinopec discutem parceria que pode levar à exploração conjunta de petróleo no Brasil e trabalham para que o acordo seja anunciado durante a visita de Hu. A estatal chinesa já tem participação de 20% em dois poços da Petrobrás no Pará. Além disso, a companhia brasileira negocia novo empréstimo de US$ 10 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China (BDC), que poderá ser anunciado na visita do líder chinês.

O interesse dos chineses em investir no setor é evidenciado pelo grande número de autoridades brasileiras ligadas ao petróleo que estão em visita oficial à China. O diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, chegou quinta-feira a Pequim, a convite do diretor da Administração Nacional de Energia, Zhang Guobao.  O diretor-geral da ANP disse que os chineses declararam "quase expressamente" que vão participar de leilões de concessão para exploração de petróleo no Brasil. O principal objetivo da visita é explicar ao governo e às estatais locais o modelo de concessão brasileiro e o papel da ANP.

Com a perspectiva de manter forte crescimento no futuro próximo, os chineses estão preocupados com a segurança energética e tentam garantir fontes estáveis de fornecimento. O descobrimento do petróleo na camada do pré-sal no Brasil abriu novo capítulo na exploração do produto e criou uma fonte potencial de fornecimento à China. "O setor de petróleo levará ao surgimento de nova geração de projetos de investimentos chineses no Brasil", disse ao Estado o embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney. O diplomata acredita que 2010 será um marco na relação entre os dois países. Ele ressaltou que as empresas chinesas estão se internacionalizando e o Brasil é cada vez mais atraente. Com US$ 2,4 trilhões de reservas internacionais, a China tem capital de sobra para investir e busca ativos que possam dar retorno ou que respondam às suas necessidades estratégicas.