30/05/10 11h06

China acelera aquisições no Brasil

O Estado de S. Paulo

Para um país que até 2009 quase não aparecia nas estatísticas do Banco Central sobre investimentos estrangeiros no Brasil, a China começou 2010 de maneira surpreendente, com anúncios de projetos que envolvem US$ 9,7 bilhões. Esse número significa quase um terço do valor total dos recursos externos destinados a atividades produtivas que o Brasil recebeu no ano passado. Os chineses desembarcam no País em velocidade recorde e estão longe de se interessar apenas pelas áreas de recursos naturais. Os projetos divulgados nos últimos nove meses se espalham pelos setores de petróleo, energia, siderurgia, mineração, agricultura, automóveis e máquinas.

No dia 16 de maio, a estatal State Grid, maior empresa de eletricidade do mundo, comprou de empresas espanholas sete concessionárias de transmissão de energia no Brasil por US$ 1,726 bilhão, o que foi por um breve período o maior investimento da China no país. A cifra foi superada menos de uma semana depois pelos US$ 3,07 bilhões desembolsados pela Sinochem por 40% do campo de petróleo Peregrino, na bacia de Campos, pertencente à norueguesa Statoil.

Como a maioria das empresas chinesas que realizam investimentos de alto valor no Brasil, a Sinochem é um gigantesco conglomerado estatal, que atua nas áreas química, petrolífera, financeira e imobiliária. A participação no campo Peregrino é o maior negócio já realizado pela companhia fora das fronteiras da China. Mas operação de maior valor dos chineses no Brasil anunciada até agora é o acordo entre a estatal Wuhan Iron & Steel (Wisco) e a EBX, do empresário Eike Batista, para a construção de uma siderúrgica no Porto do Açu (RJ), que ainda está em fase de estudo de viabilidade.

Se concretizado, será o maior investimento da China no Brasil e o maior investimento do país asiático no setor siderúrgico no exterior. Pelo acordo, a Wisco entrará com 70% do investimento de US$ 4,7 bilhões, o que representa US$ 3,29 bilhões. No ano passado, a Wisco já investiu US$ 400 milhões na compra de 21,5% do capital da MMX, a empresa de mineração de Batista, que fornecerá o minério de ferro para a siderúrgica, caso o negócio seja concretizado. As empresas chinesas têm dinheiro de sobra no momento que o mundo desenvolvido enfrenta sua mais séria crise das últimas sete décadas e se debate com a escassez de recursos financeiros. Com os investimentos no Brasil, as estatais chinesas cumprem a determinação do governo de Pequim para se internacionalizar e tentam garantir o suprimento de produtos essenciais para o crescimento econômico da China, como petróleo e minério de ferro.