Centro de pesquisa da USP recebe célula a combustível para estudos em descarbonização
Tecnologia foi desenvolvida para veículos pesados, com potencial de expansão para automóveis de passeio, e será utilizada em projetos do Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI)
Jornal da USPA USP recebeu, em evento realizado no dia 25 de março, a doação de uma célula a combustível para uso em pesquisas de descarbonização desenvolvidas pelo Research Centre for Greenhouse Gas Innovation (RCGI), um dos centros interdisciplinares vinculados à Reitoria da Universidade.
A entrega foi feita pela empresa FTXT, subsidiária da GWM especializada em tecnologia de hidrogênio, durante uma cerimônia que contou com a participação de delegações vindas da China, incluindo representantes do governo e de empresas da província de Hebi e da cidade de Baoding, onde está localizada a sede da GWM. O grupo foi liderado pelo prefeito Dang Xiaolong. Para ele, a aproximação com a USP abre portas para colaborações produtivas na área de descarbonização: “Sabemos que a USP é a universidade mais renomada da América Latina, e todos os indicadores demonstram a qualidade dos seus talentos em diversas áreas. Vejo grande potencial para parcerias significativas e intercâmbios em pesquisas nas áreas de medicina, energia renovável e humanidades”, comentou. Xiaolong também ressaltou que o município é reconhecido na China como uma “cidade verde”, destacando-se por inovações na transição energética. Segundo ele, a tecnologia de células a combustível, como a recebida pela USP, já é utilizada na frota de caminhões de lixo da cidade.
“Brasil e China compartilham vários desafios, entre eles a transição energética para a redução das emissões de carbono. Trabalhar em conjunto para superar esses desafios representa uma grande oportunidade, já que a China se tornou um dos principais players globais nesse setor”, afirmou o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, lembrando que recentemente foi inaugurado o Centro USP-China, uma plataforma que fortalece a relação entre a Universidade e empresas chinesas.
O vice-diretor científico do RCGI, Emílio Carlos Nelli Silva, apresentou as pesquisas que o centro tem desenvolvido, especialmente aquelas voltadas às emissões de gases de efeito estufa, e enfatizou a natureza transdisciplinar da equipe: “Temos um grupo formado por cientistas de diversas áreas, como engenharia, biologia, direito e psicologia, entre outras. Esses pesquisadores são oriundos de 21 estados brasileiros, além de 60 estrangeiros, o que nos proporciona uma visão ampla e diversificada”, destacou. Ele também explicou a tradição de colaboração com a indústria por meio do modelo “tripla hélice”, que integra academia, governos e empresas em projetos conjuntos.
Eficiência energética e descarbonização
As células a combustível são dispositivos eletroquímicos que geram eletricidade a partir da reação entre hidrogênio e oxigênio, sem combustão, emissão de poluentes ou necessidade de baterias grandes e pesadas. Além disso, não exigem longos períodos de carregamento.
O sistema converte diretamente, no próprio veículo, a energia química do hidrogênio em eletricidade. Inicialmente desenvolvida para veículos pesados, a tecnologia apresenta potencial para ampliação ao setor de automóveis de passeio. Testes já foram realizados em países como China, Japão, Alemanha e Canadá.
Entre as principais vantagens dessa tecnologia estão a emissão zero de gases de efeito estufa, a alta eficiência energética, a grande autonomia com pequenas quantidades de combustível e o reabastecimento rápido, similar ao de veículos convencionais. No Brasil, pesquisas conduzidas pelo RCGI buscam contribuir para a descarbonização e a redução de impactos ambientais por meio de alternativas para o setor de transportes, um dos principais emissores de gases de efeito estufa no mundo. A célula recebida na doação será utilizada em testes com um caminhão enviado pela GWM da China, com o objetivo de estudar a viabilidade do uso de etanol em veículos pesados, atualmente dependentes do diesel, um dos combustíveis mais poluentes.