15/08/11 17h51

Centro da Basf vai acelerar soluções para agronegócio

Valor Econômico

O projeto vinha germinando desde 2005, e há um mês entrou em plena produção. Trata-se do Laboratório de Desenvolvimento de Formulações e Analítica da Basf, montado na planta de Guaratinguetá (SP), que coloca o Brasil em pé de igualdade com os centros de pesquisa da empresa na Alemanha e nos Estados Unidos. Ali serão feitos os mesmos testes e análise dos outros dois, agilizando a fabricação de produtos específicos para a agricultura local.

Montar um laboratório de nível internacional tornou-se fundamental para a multinacional alemã pelo potencial apresentado pelo país, afirma Leandro Martins, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da Unidade de Proteção de Cultivos para a América Latina. O Brasil é o maior mercado mundial de agricultura. Em termos de proteção de patentes e outras condições de mercado, deixa a China para trás, por exemplo. "As condições são muito diferentes", diz Martins. Além de grande celeiro global, o Brasil é o segundo maior mercado em defensivos agrícolas do mundo. E a operação nacional é a segunda principal em toda a Basf.

A empresa não revela o total de recursos investidos no laboratório brasileiro. Em P&D, a multinacional investiu € 1,49 bilhão em 2010 e, em 2009, € 1,38 bilhão. A área de agricultura recebeu 26% do total.

Os três laboratórios mundiais trabalham de forma conectada e agem globalmente. "A equipe de fungicidas sabe tudo que acontece nos outros laboratórios", afirma o diretor. A cada três ou quatro meses, as equipes costumam se reunir e fóruns de discussão são rotineiros. Além de fungicida, o laboratório conta com as áreas de herbicidas, inseticidas e tratamento de sementes, tecnologia de aplicação e química analítica.

Aliada à pesquisa feita na estação experimental de Santo Antônio de Posse, o laboratório de Guaratinguetá ganhou agilidade em técnicas de campo. Formulações de dispersante ou protetor solar são testados diretamente no campo, onde são simuladas as condições encontradas pelos agricultores brasileiros. Com solo e clima brasileiros bastante diferenciados em relação à Alemanha ou aos EUA ou, enfim, ao resto do mundo, a agilidade para testar e analisar os novos produtos é fundamental para a multinacional.

Antigamente as moléculas que tinham potencial de implementação no país chegavam da Alemanha para que sua aplicação fosse simulada aqui. Sem técnicas modernas de avaliação, eram necessárias 100 moléculas, que então passariam pelos testes. Hoje chegam dez moléculas, que são analisadas e rapidamente reduzidas a duas. O laboratório desenvolve outros produtos além de defensivos agrícolas, por exemplo. É o caso da tecnologia Yield Max, um sistema integrado que indica o melhor momento de aplicação de fungicidas ou defensivos na lavoura. Levando em conta a temperatura do ar, a umidade e a quantidade de chuva, a empresa consegue determinar a chegada de doenças e analisar se é preciso aplicar um produto mais preventivo ou curativo.

Não é apenas na rapidez que o laboratório traz benefícios às operações da Basf. O Standak Top, lançado em 2010, foi totalmente desenvolvido em Guaratinguetá. No produto há três ativos para tratamento das sementes. Para desenvolvê-lo, os técnicos precisavam cobrir as sementes de forma rápida, para deixá-las secas também rapidamente, e aplicar nesse processo um corante a fim de verificar a extensão e qualidade da cobertura. O trabalho levou vários anos, mas hoje o produto, que fornece ao mesmo tempo ação fungicida e inseticida para controlar as principais pragas e fungos, é um dos líderes em vendas.

De acordo com Martins, 80% dos produtores de soja utilizam o Standak Top. Há também versões do produto para sementes de trigo e milho, que aguardam registro. "É um exemplo de produto que nasceu dentro de casa", afirma.

Aproveitando um momento de mercado, a Basf firmou um convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O objetivo é desenvolver soja tolerante a herbicidas, geneticamente modificada. A Embrapa entra com a semente, desenvolvida para as condições brasileiras, e a Basf com o restante da tecnologia. Há muitos anos a soja geneticamente modificada da Monsanto, a Roundup Ready, é comercializada, mas pode estar apresentando queda de resistência. "Aparecer resistência é da natureza", diz o executivo. Por isso a Basf se adiantou. Junto da Embrapa investe US$ 20 milhões, que devem resultar na primeira soja geneticamente modificada produzida no Brasil.

A previsão é de que a Cultivance chegue ao mercado nacional para a safra de 2012/2013 e seria uma alternativa aos produtores, já que até hoje a Monsanto é a única a fornecer o produto. Cultivance é, na verdade, um sistema de produção que envolve, além da soja modificada e tolerante a herbicidas, um sistema para controlar diversas ervas daninhas.

O acordo entre a multinacional e a estatal brasileira está estimado em cinco anos. Não há limite de projetos e, segundo Martins, há vários sendo formulados, mas ainda não é possível discutir todos. Um deles prevê o desenvolvimento de uma bactéria que fixa nitrogênio nas plantações de cana de açúcar, dispensando a adubação hidrogenada. Na soja atualmente a aplicação de adubo nitrogenado é zero. A Embrapa possui a bactéria. "Mas não tem a tecnologia de formulação que nós temos", afirma Martins.

No caso dessa bactéria, os técnicos da Basf precisam descobrir como fazer para que continue viva e possa ser transportada. O segundo piloto é o cultivo de uma bactéria capaz de controlar a ferrugem da soja. Depois de testada, as duas empresas devem se reunir para analisar o melhor modelo de negócios para sua comercialização.

Adepta do modelo de inovação aberta, a Basf participa de cerca de 1900 projetos de cooperação no mundo todo. No Brasil, criou um programa, o Top Ciência, que incentiva o desenvolvimento de trabalhos na área da agricultura entre cientistas da América Latina. O projeto começou em 2005, com um encontro com pesquisadores de universidades.

A primeira patente de um trabalho apresentado no Top Ciência veio em 2009, com uma pesquisa sobre aplicação de fungicida e retenção de nitrogênio em videiras. A segunda patente, com trabalho exibido no ano passado, avaliou o uso de diversos fungicidas na qualidade industrial do trigo, assim como a presença de microtoxinas. "Todo ano aumenta o número de pesquisadores e de trabalhos", afirma Martins. E no mínimo 40% diz respeito a novos participantes.