25/07/07 11h39

Celular inteligente atrai fabricantes para o Brasil

Folha de S. Paulo - 25/07/2007

Os brasileiros descobriram os celulares inteligentes. Conhecidos no mercado como "smartphones", esses aparelhos -que trocam e-mails em tempo real e se conectam à internet pela rede de telefonia móvel- estão vendendo num ritmo quase sete vezes maior que o dos celulares convencionais e atraindo os maiores fabricantes do mundo. A canadense RIM, que produz o BlackBerry, anunciou ontem que está trazendo para o Brasil uma equipe de três executivos para coordenar um serviço de assistência técnica aos brasileiros. A Folha apurou que a chinesa HTC está montando um escritório no Brasil para dar início à sua operação, que contará só com "smartphones". Os aparelhos também não param de chegar às lojas. Em parceria com a Vivo, a RIM lançou ontem, com exclusividade de um mês, o Curve, novo modelo do BlackBerry. Além do preço promocional (R$ 749/US$ 389), o atrativo é a câmera fotográfica de 2 megapixels que permite até cinco lances de zoom. Na próxima semana, a Motorola coloca no mercado o Moto Q GSM, e a Nokia já despachou da fábrica três novos aparelhos. Por trás dessa movimentação, há números impressionantes. Segundo levantamento do IDC, um dos maiores institutos de pesquisa de tecnologia do mundo, o número de brasileiros que compraram "smartphones" no primeiro trimestre de 2007 subiu 140% em relação ao mesmo período do ano passado e atingiu 95.768 clientes. Estimativas das próprias operadoras indicam que, atualmente, existem 200 mil brasileiros utilizando equipamentos como o BlackBerry. Elas esperam que esse time tenha 300 mil integrantes até o final deste ano e chegue à marca de 800 mil em 2008. De fato, o desempenho brasileiro chama a atenção. O estudo do IDC mostra que, no mesmo período, a América Latina registrou vendas de 331.262 "smartphones", com uma taxa de expansão de 122%. "O Chile é o único que chega perto do Brasil", diz Oscar Castellanos, diretor comercial da RIM. O que explica esse fenômeno é uma mudança no perfil das operadoras de telefonia celular. Nos últimos anos, as companhias gastaram muito investindo nas melhorias de suas redes para dar o salto tecnológico necessário à telefonia de terceira geração, que permitirá acesso pleno à internet via celular. Como esse tipo de serviço ainda aguarda regulamentação do governo e as empresas não podem esperar pelo retorno do investimento, elas criaram alternativas em parceria com as fabricantes de telefones. "Os "smartphones" são uma das saídas encontradas", explica Álvaro Leal, analista da IT Data, consultoria brasileira. Essa tática esconde uma estratégia comercial para aumentar ao máximo a receita gerada pelos clientes das operadoras. Afinal, com uma rede mais potente, é possível fazer os clientes optarem por trocar e-mails em tempo real (os chamados "push e-mails"), baixar programas e até bater papo em comunidades do Orkut como se carregassem o computador de casa no bolso. Estima-se que, atualmente, os dados representem apenas 5% do faturamento das operadoras. Nos EUA, esse índice é de 20%. Com as redes turbinadas, as operadoras começam a aumentar esse desempenho. Na TIM, primeira a trazer o BlackBerry ao Brasil, a troca de dados já responde por 7% desde que os "smartphones" começaram a ser vendidos, há cerca de dois anos. "Até março deste ano, as vendas desses aparelhos cresceram 81%, gerando um aumento de tráfego de 186%", diz. Outro atrativo para os clientes é o preço dos "smartphones". Para Henrique de Freitas, diretor de marketing da Motorola, os aparelhos custam hoje metade do que há dois anos. O Moto Q GSM, da americana, será vendido a R$ 1.249 (US$ 649).