08/08/11 16h49

Carros chineses buscam identidade brasileira

O Estado de São Paulo

Na semana em que o governo divulgou novo pacote para ajudar a indústria automobilística a melhorar sua competitividade, mais uma montadora chinesa, a JAC Motors, confirmou a construção de uma fábrica no Brasil, seguindo a Chery, que no mês passado iniciou obras em Jacareí (SP). Há outras sete companhias da China à procura de áreas e de parceiros locais ou avaliando as condições do mercado.

Se todos esses projetos se confirmarem, a China será o país com maior número de fabricantes no mercado brasileiro, à frente de tradicionais produtores como Estados Unidos, Japão e Alemanha. Já manifestaram interesse em entrar na lista de novas fabricantes a Geely, Great Wall, BYD, Lifan, Foton, Sinotruck e Changan/Haima.

Hoje, o País abriga quatro montadoras de origem japonesa (Honda, Mitsubishi, Nissan e Toyota) e uma quinta, a Suzuki, vai se instalar em Goiás. Com três fabricantes estão Estados Unidos (Ford, General Motors e International) e França (Renault, Peugeot e Citroën).

A Alemanha é representada por duas marcas (Mercedes-Benz e Volkswagen) e há planos de uma terceira, a BMW, instalar linha local. Itália e Suécia também têm duas representantes (Fiat e Iveco e Scania e Volvo) e Coreia e Índia uma - Hyundai/Caoa e Mahindra.

Fabricação local é uma forma de ganhar a confiança do consumidor, admite o diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, Tang Wei. Ainda há desconfiança em relação ao produto chinês, fenômeno que se repete na própria China. As oito maiores montadoras locais detêm 28% das vendas.

As líderes são GM (13,3% do mercado) e Volkswagen (11,3%), que atuam com parceiros locais. "O consumidor chinês é conservador e acredita mais em marcas que estão no mercado há 50, 60, 100 anos, mas esse conceito está mudando pouco a pouco e o mesmo deve ocorrer aqui", avalia Tang Wei.

A Changan/Haima, representada no Brasil pelo grupo Districar, espera anunciar ainda este mês o local onde pretende construir uma fábrica que, em cinco anos, atingirá capacidade de 60 mil carros. "Avaliamos vários Estados, mas agora estamos na reta final da escolha entre dois selecionados", diz Abdul Majid Ibraimo, presidente da Districar.

Ibraimo vai aguardar o detalhamento da nova política industrial para o setor automotivo para ver quais benefícios a fábrica local terá, mas planeja início das operações para janeiro de 2013. Além das marcas Changan e Haima, a linha deve montar modelos da também chinesa JMC e da coreana Ssangyong, processo que ele diz ser viável.

O investimento previsto é de quase US$ 200 milhões, que serão bancados pela Districar, ligada ao grupo português Tricos. "Qualquer marca que vier para o Brasil não sobrevive sem produção local", avalia Ibraimo.

A fábrica da Chery deve ficar pronta em 2013 e vai consumir US$ 400 milhões para uma capacidade de 150 mil carros ao ano. A da JAC, sem local definido, é para 2014 e produzirá 100 mil veículos. O investimento de US$ 600 milhões será dividido entre a matriz e o empresário brasileiro Sérgio Habib, do grupo SHC.

Acordos. Parceria com investidor local é o modelo de negócio buscado também pela BYD, Great Wall e Geely, dona da Volvo. Executivos desses grupos têm vindo com frequência ao País e já sondaram grupos como o Caoa, de Carlos Alberto de Oliveira Andrade, representante da coreana Hyundai, e Eike Batista, da EBX. É certo que Andrade vai fechar com um deles, mas ainda faz segredo.

"O Brasil é um mercado totalmente desconhecido para as empresas chinesas, por isso entrar com um parceiro que conheça as preferências do consumidor é a melhor alternativa", diz Wei.

Depois de conhecer melhor o mercado nacional, a Districar passou a adotar, a partir deste mês, o nome Changan nos veículos que traz da China, antes vendidos com a marca Chana, nome que não agrada aos brasileiros.

A Lifan anunciou parceria com o grupo brasileiro Effa Motors, num investimento de US$ 100 milhões em uma unidade local com capacidade de apenas 10 mil veículos ao ano. Inicialmente será feita a montagem de kits (CKD) dos modelos 320 e 620. O local do projeto não foi definido.

A Sinutruk, da área de caminhões, também quer deixar o status de importadora para ser fabricante. A marca é representada pela Elecsonic, formada por 11 sócios (dez brasileiros e um chinês) e espera vender 1,1 mil caminhões de grande porte este ano. O sócio-diretor da consultoria Vallua, Lucas Copelli, reforça que a produção local vai ajudar a diminuir "o preconceito da marca China" e da falta de qualidade dos produtos. Ele acredita que as empresas chinesas terão produtos com preços atrativos.

Habib não acredita que todas as empresas chinesas que anunciaram projetos vão efetivá-los. "Uma fábrica com capacidade inferior a 100 mil veículos ao ano não é viável, pois não consegue pagar seu custo físico", avalia.