15/12/15 14h11

Carne no ponto

Brasil terá pelo menos 35% da demanda adicional mundial de carne bovina em 2024, mas há desafios para abocanhar mercado, aponta estudo de banco

Folha de S. Paulo

Os principais importadores mundiais de carne bovina vão necessitar de 10,1 milhões de toneladas em 2024. Esse volume supera em 2,8 milhões as exportações atuais desse tipo de carne.

Estudo do Rabobank, banco com foco no agronegócio, prevê que 1 milhão do volume adicional vá vir do Brasil.

Dois pontos positivos devem levar o país a ter uma maior participação no mercado internacional de carne.

Um deles é o aumento e o aproveitamento maior do milho para a alimentação de animais, o que já ocorre nos EUA há várias décadas.

Outro ponto positivo é que o país já tem uma vocação exportadora. Além disso, as grandes empresas internacionais ligadas ao setor atuam por aqui, melhorando as chances brasileiras.

A demanda internacional por proteína bovina é crescente, e o Brasil tem oportunidade de participar mais do mercado externo. Há muito por fazer, no entanto.

Adolfo Fontes, analista do Rabobank, afirma que a indústria brasileira desse setor é relativamente ineficiente em relação aos padrões globais, como EUA e Austrália.

Na avaliação dele, o país necessita elevar a produtividade, hoje abaixo da média dos principias concorrentes.

Até agora, o Brasil foi beneficiado pela produção do gado em pasto, mas o quadro atual de degradação de boa parte das pastagens traz novos desafios para o setor.

Estudos da Embrapa indicam que metade das pastagens brasileiras sofre algum grau de degradação.

Na avaliação do Rabobank, o Brasil já produz carne de alta qualidade, equiparando-se aos Estados Unidos. Boa parte do produto, porém, é vendida como "commodity".

A média nacional da qualidade é inferior à capacidade de produção do país, devido à pouco desenvolvida cadeia produtiva do setor.

Avanço em três frentes

Para elevar quantidade e qualidade da carne, Fontes acredita que o país necessita avançar em três frentes.

Uma delas é a intensificação da produção safrinha de milho, o que pode dar suporte à cadeia de proteína bovina. "Transformar o milho em proteína animal é agregar valor", afirma Fontes.

A incorporação do milho na produção de carne é importante porque acelera o abate e resulta em uma carne mais jovem.

Nos EUA, o abate dos animais ocorre com 18 meses. No Brasil, é comum abates de animais com 40 meses.

A incorporação dos grãos na alimentação do animal vai permitir ao Brasil competir com EUA e Austrália em mercados importadores que pagam mais, segundo Fontes.

A utilização do milho é importante também na composição dos custos de produção. A safrinha avança mais na região de Mato Grosso e em outras fronteiras agrícolas, próxima dos rebanhos.

Em segundo lugar, Fontes vê a necessidade de uma melhor organização da cadeia brasileira de produção.

É preciso um amadurecimento entre os elos dessa cadeia, o que vai resultar em contratos e negociações em Bolsa, como nos Estados Unidos. Os contratos estipulam datas e quantidades, garantindo estabilidade para ambas as partes.

Um desafio é o fato de a produção do país estar espalhada, dificultando essa organização. O IBGE indica que são 2,5 milhões de propriedades com gado no
país. Dessas, 72% têm menos de 50 hectares.

Finalmente, fontes diz que é preciso haver uma mudança nos critérios de negociação de bezerros. Boa parte das vendas ainda é por cabeça, e não por quilo.

A negociação por quilo dá maior competitividade ao setor, além de exigir tecnologia na produção do animal.

Confinamento

O Brasil tem várias opções de produção de carne: gado em pasto, confinamento, semiconfinamento e integração lavoura-pecuária.

Atualmente, 10% da produção de carne vem do confinamento. Em 2024, esse percentual deverá estar em 20%. Crescerá também a produção por meio da integração lavoura-pecuária, que já ocupa próximo de 5 milhões de hectares. Com isso, cai o mito de que a pastagem ruim não tem jeito. "É tudo uma questão de manejo", diz Fontes.

O aprimoramento desses tipos de produção poderá elevar a produtividade brasileira. Os EUA, com um rebanho de 88 milhões de cabeças em 2014, produziram 11,1 milhões de toneladas de carne bovina. O Brasil, com 208 milhões de animais, produziu apenas 9,7 milhões.