28/04/15 13h54

Carlyle fica com 8% da Rede D'Or por R$ 1,7 bi

Valor Econômico

O fundo de private equity americano Carlyle fechou ontem um investimento de R$ 1,75 bilhão na maior rede de hospitais do país, a D'Or, controlada pelo cardiologista e empresário Jorge Moll e que tem o banco BTG Pactual como sócio.

O investimento, na forma de aumento de capital, dará ao fundo americano uma fatia de 8,3% da rende de hospitais. Moll e BTG serão diluídos nessa proporção. Assim, o BTG ficará com 23,6% da rede e a família Moll, com 68,1%.

O fechamento da transação foi antecipado ontem pelo Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor. Trata-se da maior transação de investimento estrangeiro direto no país neste ano até agora.

Já com os novos recursos em caixa, a Rede D'Or foi avaliada em R$ 19,5 bilhões. Os planos são de levar a Rede D'Or para a bolsa entre 2016 e 2017, segundo fonte próxima à empresa.

O Valor apurou que Moll e BTG negociam ainda a venda de uma fatia de suas ações, algo a ser fechado em cerca de 30 dias. Um consórcio de fundos soberanos é o mais forte candidato a levar essas ações. Em conjunto, Moll e BTG poderiam vender entre R$ 1,5 bilhão e R$ 3 bilhões.

O fechamento da transação é o passaporte de Jorge Moll para o hall de bilionários do país. Seus 68,1% em ações valem mais de R$ 13 bilhões.

A transação fechada ontem marca uma valorização espetacular da Rede D'Or. Há apenas cinco anos o BTG investiu R$ 600 milhões na compra de debêntures conversíveis em ações da empresa que lhe deram direito a aproximadamente 28% da Rede D'Or.

Agora, a fatia de 23,6% que ficou com o banco vale R$ 4,6 bilhões. Antes disso, o banco já havia ganho R$ 400 milhões na venda dos laboratórios Labs D'Or para o Fleury - operação fechada em 2010.

O processo da venda anunciada ontem não foi aberto a vários concorrentes. Embora outros investidores financeiros e estratégicos tenham demonstrado interesse, a conversa se concentrou no Carlyle. Este, apurou o Valor, está disposto a aumentar sua fatia de 8,3% na Rede D'Or se o preço for interessante.

O relacionamento do fundo com o BTG contribuiu para isso, assim como fato de Heráclito Gomes, ex-presidente da Qualicorp, ser hoje presidente da Rede D'Or. O Carlyle controlou a Qualicorp, o que deu ao fundo um conhecimento da área de saúde no país.

A Rede D'Or tem um ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) estimado para este ano de R$ 1,5 bilhão, o que por si só lhe dá uma boa capacidade de expansão. No ano passado, o lucro líquido consolidado foi de R$ 320 milhões, com crescimento de 53,2% em relação a 2013. A receita líquida avançou 21%, para R$ 4,9 bilhões.

O capital do investimento na Rede D'Or virá dos fundos Carlyle Partners VI e Carlyle South American Buyout, incluindo R$ 700 milhões do recém-fechado Fundo Brasil de Internacionalização de Empresas FIP II (FBIE II), um fundo local assessorado pelo Carlyle e pelo Banco do Brasil.

A Rede D'Or informou que os recursos provenientes da transação serão usados para sustentar seus planos de crescimento, incluindo a construção de novos hospitais, a ampliação de instalações já existentes e o financiamento de novas aquisições.

A entrada do Carlyle no capital da rede de hospitais só se tornou possível com a lei federal publicada em janeiro deste ano que extinguiu a proibição de entrada de capital estrangeiro na área de saúde.

A lei é fruto da Medida Provisória 656, uma grande colcha de retalhos. O texto original encaminhado pelo governo ao Senado já continha itens tão diversos quanto prorrogação de benefícios a construtoras do programa Minha Casa, Minha Vida e benefícios para a indústria brasileira. Mas outros 32 temas, inclusive a questão do capital estrangeiro na saúde, foram incorporados à MP pelo senador Romero Jucá (PMDB), relator da medida na comissão mista no Congresso.