Cargill desenvolve óleo para indústria cosmética
Valor EconômicoUma etapa posterior à fabricação do óleo de soja vai levar a americana Cargill, conhecida pela atuação no agronegócio, a disputar o mercado de ingredientes para produtos de beleza. A multinacional informa que alcançou um patamar inédito de pureza para óleos vegetais, que integram as fórmulas de xampus, filtros solares, cremes e até maquiagens. Com isso, espera abocanhar de 12% a 15% do mercado de óleos vegetais para uso em cosméticos no Brasil até 2020, quando alcançará o ápice de produção.
Os óleos vegetais cosméticos são biodegradáveis, têm uma textura leve na pele e são menos propensos a provocar reações alérgicas. O interesse da indústria pelo ingrediente é crescente, diz Paulo Hoffmann, gerente geral da Cargill Industrial Specialties.
Com investimentos de US$ 300 mil, entre testes e a adaptação do processo da fábrica em Mairinque (SP), e um ano e meio de pesquisas, a Cargill elevou a estabilidade do óleo vegetal de seis meses para até três anos, sem a utilização de metais ou antioxidantes. Isso significa que o tempo na prateleira é igual ou mesmo superior aos derivados minerais e sintéticos. "Tivemos uma significativa evolução técnica", afirma Hoffmann.
A tecnologia desenvolvida pela Cargill pode ser aplicada a qualquer tipo de óleo, como canola, girassol, palma ou milho. De acordo com especificações químicas, é possível também combiná-los, segundo Cintia Baradel, gerente de contas da companhia e especialista em cosmetologia. "Além de a soja ser um dos grãos mais abundantes e baratos no Brasil, o seu óleo é um dos mais difíceis de estabilizar, por isso começamos por ele", diz Cintia. A tecnologia é patenteada. A empresa não revelou o preço do insumo.
A primeira produção ocorre neste mês de outubro e a estimativa é que sejam refinadas 150 mil toneladas mensais até abril de 2017. A empresa pretende aumentar gradualmente a fabricação até atingir a marca de 1 mil a 1,5 mil toneladas ao mês em 2020, com faturamento de US$ 18 milhões a cada ano. A capacidade de produção em Mairinque é suficiente para atender o Brasil e a América do Sul. A tecnologia pode ser replicada pelas outras unidades globais da Cargill.
A tecnologia para a fabricação desses óleos vegetais cosméticos foi desenvolvida pela empresa no Brasil e contou com a ajuda dos laboratórios americanos na fase final de testes. A Cargill tem um centro de desenvolvimento de produto em Mairinque e uma unidade de inovação em Campinas, ambos no interior de São Paulo.
Em 2015, por conta de uma revisão estratégica global, a empresa decidiu apostar no segmento de aplicações industriais, que hoje representa de 10% a 12% do lucro global. Nos próximos cinco anos, a meta é triplicar o ganho e aproximar-se de US$ 420 milhões.
Em quatro anos, o segmento de cuidados pessoais no Brasil deve representar por 20% a 25% do faturamento da área de óleos industriais da Cargill, que inclui ainda biolubrificantes automotivos, tintas e fluidos elétricos para transformadores. "A empresa quer ser referência e líder em cuidados pessoais, a primeira opção em produtos ecológicos", destaca Hoffman.
No ano fiscal de 2016, encerrado em maio, o lucro líquido da companhia no mundo somou US$ 2,38 bilhões, 50% acima do registrado no ano fiscal anterior. O ganho ajustado, que considera a venda da unidade de negócios de suínos e outros assuntos, ficou em US$ 1,64 bilhão, queda de 15%.