15/06/18 14h00

Canadá propõe "comércio inclusivo" ao Mercosul

Valor Econômico

Em negociações aceleradas para um acordo de livre comércio com o Canadá, a diplomacia brasileira está curiosa para conhecer um tópico específico do "comércio inclusivo" proposto pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Entre as pautas incluídas nos debates que acontecem esta semana, em Brasília, está a questão de gênero.

Em nome da futura relação comercial, Mercosul e Canadá não poderão passar por cima de políticas ambientais e da legislação trabalhista, ao mesmo tempo em que terão que facilitar o acesso de pequenas e médias empresas ao mercado comum. Essas exigências já são relativamente comuns em negociações, mas o respeito à questão de gênero ainda é um enigma no lado latino.

"Estamos totalmente alinhados com esses valores, mas confesso que ainda não conseguimos entender como isso se encaixa na política comercial", disse um negociador que pediu para não ter o nome divulgado.

Uma disposição semelhante consta do acordo entre o Uruguai e o Chile, firmado em 2016. Nele, as partes se comprometem a implementar políticas e boas práticas que promovam a igualdade de gênero em seus setores.

"As partes reconhecem o comércio internacional como um motor de desenvolvimento, e que melhorar o acesso das mulheres das mulheres às oportunidades existentes dentro de seus territórios, para que participem da economia nacional e internacional, contribui para fomentar um desenvolvimento econômico sustentável", explica o tratado.

Mais de 50 negociadores dos quatro países do Mercosul e do Canadá estão discutindo detalhes do acordo desde quarta-feira, na capital federal. Alguns dos 24 grupos formados já concluíram as conversas e a expectativa é de que as modalidades do acordo possam ser anunciadas hoje.

A próxima rodada de negociações está programada para acontecer em setembro, na cidade de Otawa, no Canadá. Em seguida, os negociadores voltam a Brasília, em dezembro, quando se pretende iniciar a troca de ofertas.

Hoje, os negociadores da América do Norte têm demonstrado alguma resistência na abertura do seu mercado aos produtos agropecuários, como frango e lácteos, setores fortemente protegidos. Do lado do Mercosul, há uma oposição forte em relação à entrada dos canadenses no segmento de serviços financeiros.

O Canadá manifestou pela primeira vez o interesse em avaliar com o Mercosul interesses mútuos para um acordo de livre comércio em 2010. As discussões, no entanto, estavam paralisadas há um bom tempo até que foram retomadas em maior de 2016.

No início do ano passado, o governo brasileiro recebeu a visita do negociador-chefe canadense, David Usher, quando foram discutidos os interesses em temas de bens, serviços, investimentos, compras governamentais, regras de origem, barreiras técnicas ao comércio, medidas sanitárias e fitossanitárias, propriedade intelectual, meio ambiente e legislação trabalhista.
O Canadá também mencionou interesse nos temas de concorrência e empresas estatais. Em abril e julho de 2017, foram realizadas reuniões técnicas entre o bloco sul-americano e o Canadá.