Cana-de-açúcar pode ser grande aliada na transição enérgica brasileira
Professor Fernando de Lima Caneppele detalha melhor a trajetória desse produto no Brasil
Jornal da USPSegundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de cana-de-açúcar de 2024/25 deve chegar a 685,86 milhões de toneladas. Mesmo que boa parte seja destinada ao refino para produção de açúcar, rapadura e derivados, hoje a cana brasileira também possui outro fim: fabricação de biocombustíveis. O professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, explica melhor a trajetória da cana, que hoje é aproveitada até o bagaço.
Do campo para a fábrica
O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e a história dessa plantação no País remonta ao início do período colonial, quando os engenhos eram estabelecidos ao longo de costas e rios. Nessa época, o produto era destinado principalmente para açúcar, e logo o ciclo da cana decaiu para dar espaço ao café.
Mas, conforme explica Caneppele, a cana voltou a representar importante papel na economia brasileira quando o potencial do material para a extração de biocombustíveis foi percebido: “Esse marco foi o precursor da era sucroalcooleira, inaugurando um novo paradigma na economia agrícola brasileira. A busca pela eficiência e pela utilização abrangente dos recursos da cana-de-açúcar levou ao desenvolvimento das usinas sucroenergéticas nas quais o bagaço da cana é convertido em vapor e depois eletricidade. Foi um avanço significativo em direção à produção mais sustentável de energia.”
Próximos desafios
Ainda com o objetivo de diminuir cada vez mais a pegada de carbono da produção sucroalcooleira, outros avanços, como o aproveitamento também da vinhaça como biomassa, representam um horizonte cada vez mais sustentável de produção energética no Brasil: “A evolução não se deteve nas conquistas já alcançadas. A transição para a produção de etanol de segunda geração e a captação de biogás a partir da vinhaça representam avanços recentes que aprimoram a viabilidade econômica e ambiental da cadeia produtiva da cana-de-açúcar”, argumenta Caneppele.
“A cana-de-açúcar, ao longo de sua evolução histórica e científica, destaca-se como um exemplo notável de como a agroindústria pode abraçar a inovação e a sustentabilidade. A trajetória dessa commodity é uma testemunha das possibilidades quando a ciência, a tecnologia e a visão de futuro se unem em prol da evolução positiva na sociedade,” complementa o professor.