01/04/13 15h09

Campinas vira centro de pesquisa em petróleo

Correio Popular

Campinas não extrai e nem refina petróleo, mas está se transformando em um centro de excelência do setor, de onde saem inovações e produtos. O mercado é promissor e, segundo prospecção feita pelo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Juan Quirós, a região deve receber investimentos de R$ 1,5 bilhão (US$ 750 milhões) até 2014, destinados a atender as necessidades do programa pré-sal. Além da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que há mais de 20 anos forma mestres e doutores na área e mantém cerca de 70 convênios de pesquisas em petróleo e gás, alguns gigantes do ramo estão instalando laboratórios em Campinas.

É o caso da Petrobras, que implantará um Centro de Tecnologias de Engenharia de Poço no Parque Tecnológico do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, e da Cameron do Brasil, que vai investir cerca de US$ 8 milhões em uma unidade de pesquisa no Parque Científico da Unicamp para desenvolver equipamentos e materiais necessários à exploração da camada de pré-sal.

O setor de petróleo tem atraído especialmente as novas empresas que contam com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras — as chamadas startups. Uma delas, a Adest, incubada na Companhia de Desenvolvimento do Polo de Alta Tecnologia (Ciatec) e em parceria com o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) desenvolveu tecnologia para fabricar um filtro usado em poços de petróleo, para separar a areia do óleo, a Tela Premium. O filtro está em fase de iniciar a produção comercial — a Adest vai montar uma fábrica para isso e será a primeira brasileira a fabricar o filtro, cuja tecnologia, semelhante, é produzida apenas por três empresas no mundo. “Nossos clientes finais serão empresas que atuam no Brasil”, disse Samuel Tocalino, dono da Adest.

Outra startup que mergulhou no setor de petróleo é a DPR Engenharia, graduada em 2011 na Incubadora de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp). Com base em convênio com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), está desenvolvendo pesquisas na área de produção de petróleo. Ela presta serviços de análise de estruturas marítimas de produção de petróleo em águas ultraprofundas através de simulações computacionais e ensaios experimentais.

A Softway atende ao mercado de petróleo e gás, com softwares que tratam de regimes aduaneiros especiais, gerenciam a entrada de produtos importados que serão usados para a exploração de petróleo e também de componentes para a construção de plataformas. A GEA Westfalia Separator do Brasil Indústria de Centrífugas Ltda. produz centrífugas usadas no tratamento de fluídos utilizados na perfuração, separação de óleo de “água produzida/drenada”, drenagem de petróleo cru, separação de partículas finas de catalisador.

A Petrobras, disse Walter Carvalho, dono da Fotônica (uma das empresas chamadas de “filhas” da Unicamp), é o maior cliente do País, com capacidade de alavancar muitas empresas. Em Campinas, segundo ele, onde há formação de mestres e doutores na área, e um campo importante de inovação, trabalhar como parceiro da estatal é promissor. Durante anos a Fotônica forneceu cordões e distribuidores para a rede ótica de plataformas e desenvolveu uma caixa de fibra de vidro para sistemas, que são usadas pela estatal em ambientes corrosivos.

Um dos laboratórios importantes na área do petróleo instalado em Campinas é o Labpetro, da Fundação de Apoio ao Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (Facti), uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia — ali são desenvolvidos projetos de pesquisa e atividades tecnológicas para atender demandas do mercado, principalmente projetos voltados para o pré-sal. O Labpetro presta serviço nas áreas de simulação numérica e desenvolvimento de software aplicados à engenharia de petróleo.
 
Tanque simula condições do mar
Um tanque de 30 metros de profundidade está sendo construído no Parque Científico da Unicamp para simular as condições próximas das encontradas no mar e assim servir de ferramenta para a análise de impactos dos sistemas marítimos sobre as estruturas utilizadas para trazer o petróleo da área do pré-sal até as plataformas. O tanque é parte do Laboratório de Sistemas Marítimos de Produções e Risers e será o primeiro do mundo em inovação, segundo o professor do Departamento de Engenharia de Petróleo da universidade, Celso Morooka.

A previsão é que o laboratório fique pronto até o final do ano, com recursos da Petrobras (R$ 6 milhões / US$ 3 milhões). Nele serão feitos experimentos para melhorar a tecnologia que impede que as longas e delgadas tubulações que levam o óleo e o gás do poço no fundo do mar até a plataforma, os chamados risers, se rompam devido a vibrações provocadas pelas correntezas submarinas, ou com o impacto no fundo do oceano.

A Unicamp, disse, é referência no estudo do petróleo. “Há 25 anos trabalhamos na área, com pesquisas em engenharia de reservatório, de poços, de escoamento e elevação de petróleo, de sistemas marítimos de petróleo e risers, sem contar áreas da química, engenharia química, elétrica, computação”, afirmou.  OCentro de Petróleo (Cepetro) inovou ao unir profissionais da academia e da indústria em busca de novos conhecimentos e tecnologias para o setor e vem contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico na área de petróleo e gás no Brasil. Em seus 25 anos de existência, formou cerca de 350 mestres e doutores e produziu várias pesquisas básicas e aplicadas. Hoje há 76 projetos em andamento nesse centro.