Câmbio pode elevar rentabilidade média de exportador em 11%
Valor EconômicoCom a perspectiva de um câmbio médio mais depreciado que o imaginado para 2015, a desvalorização do real pode garantir ao exportador ganho de rentabilidade, mesmo com a queda - também maior que a esperada - dos preços do mercado internacional. Para um dólar médio a R$ 3 no primeiro semestre deste ano, o exportador terá elevação média de margem de 4,6%, mesmo com a queda de preços de exportação estimada em 17,7%, na média, para igual período. Com dólar a R$ 3,10 o ganho de rentabilidade chega a 7,4%. Com a moeda americana a R$ 3,20, a alta de margem será de 11%. Ontem o dólar comercial subiu 2,55% e fechou a R$ 3,2941, maior cotação desde 1º de abril de 2003.
As projeções foram feitas pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a pedido do Valor. Ao fim do ano passado, a Funcex estimava queda média de 4,2% nos preços de exportação no primeiro semestre de 2015, na comparação com iguais meses de 2014. A nova estimativa para preços no mesmo período, porém, é de queda de 17, 7%. A queda deve ser mais acentuada nos básicos, puxada pelo declínio das cotações internacionais de petróleo, do minério de ferro e da soja. A redução de preços deve atingir também semimanufaturados e manufaturados, diz Daiane Santos, economista da Funcex. Um dos fatores seria o repasse parcial ao comprador externo da desvalorização nominal do câmbio.
O maior ritmo na desvalorização do real frente ao dólar nas últimas semanas, porém, deve neutralizar na média do semestre esse efeito negativo dos preços sobre a rentabilidade do exportador. Na comparação mês a mês, diz Daiane, as três projeções - dólar a R$ 3,00, a R$ 3,10 e a R$ 3,20 - mostram que em janeiro e fevereiro o exportador ainda deve contabilizar perda de rentabilidade. "A partir de março, porém, a desvalorização nominal do câmbio já passa a compensar a redução de preços de exportação."
Outra variável mais favorável ao exportador este ano, diz Daiane, é o custo de produção, mesmo contabilizando os efeitos do real mais desvalorizado no custo de insumos importados. A projeção da Funcex é que com dólar a R$ 3,00 o custo suba 2,6% no primeiro semestre de 2015 contra iguais meses de 2014. Na mesma comparação o custo deve aumentar 2,8% com dólar a R$ 3,10. Com a moeda americana a R$ 3,20, o custo de produção deve ter alta de 2,9%.
Apesar de continuar subindo, o custo de produção deve aumentar este ano em ritmo mais lento que o do ano passado. No primeiro semestre de 2014, o custo de produção aumentou 6,9% contra igual período do ano anterior. O preço recuou 4,7% no mesmo período, com desvalorização nominal do real de 13%. Mesmo com a alta do dólar, a pressão de custos e preços permitiu ganho de rentabilidade de apenas 0,8%.
O passado, diz Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento (Cedes /Uerj), precisa ser levado em conta na hora de analisar a rentabilidade que o exportador pode ter este ano com o dólar mais forte. "Há uma base de comparação baixa, porque o exportador perdeu rentabilidade por períodos sucessivos, praticamente desde que o real começou a se valorizar frente ao dólar, em 2011."
Este ano, ressalta Branco, há um quadro mais favorável à exportação, com a inversão do comportamento anterior não só do câmbio como também dos custos. Enquanto o déficit de transações correntes deve ter no câmbio um dos instrumentos de administração, diz ele, com um Banco Central menos intervencionista, o ritmo de elevação do custo de produção também caiu. Nos anos anteriores o custo crescia a taxas em torno de 6% ou até 7% ao ano, o que pressionava a rentabilidade do exportador. Com a desvalorização da moeda nacional, há efeito de elevação de insumos importados, mas há queda relativa em itens importantes, como o custo da mão de obra.
Para Daiane, o real ainda tem um longo caminho de desvalorização no decorrer do ano. "Não descarto a possibilidade de o dólar chegar a R$ 3,50", diz. Para ela, uma depreciação maior ainda é possível porque até agora a alta do dólar aconteceu mesmo sem os fatores de pressão previstos para 2015. Esses fatores, diz, ainda poderão vir e contribuir para o avanço da moeda americana.
Entre esses fatores, Daiane destaca a alta dos juros nos Estados Unidos, o rebaixamento da nota soberana pelas agências de rating com a elevação do risco político, a maior desaceleração da demanda doméstica e uma sinalização mais clara do Banco Central na política cambial.
Para Silvio Campos Neto, economista da Tendências, o câmbio deve devolver no decorrer do ano parte da desvalorização das últimas semanas e chegar ao fim de 2015 com dólar a R$ 3,06. Essa taxa foi estimada pela consultoria, lembra ele, após a volatilidade mais recente do câmbio. A taxa projetada anteriormente era de dólar a R$ 2,79 ao fim do ano. A grande mudança no nível de câmbio estimado, diz Campos Neto, mostra o quanto os movimentos mais recentes surpreenderam.
De qualquer forma, o economista concorda que a tendência será de desvalorização do câmbio médio em 2015, na comparação com 2014. Esse quadro de depreciação da moeda nacional, avalia ele, deverá se manter para os próximos anos, num movimento que favorecerá o exportador e permitirá maior rentabilidade. Ele destaca que a maior vantagem do avanço do dólar será para a exportação das indústrias, cujos preços de exportação devem ter quedas menores. "Há setores de produtos manufaturados com pouca ou nenhuma queda de preço para neutralizar. Os de mão de obra intensiva devem ter vantagem adicional, com a queda relativa do custo com salários."
Para a indústria, diz Campos Neto, não há muita solução a não ser o setor externo. "O mercado doméstico está muito desfavorável." O crescimento do embarque de manufaturados será ainda lento este ano, avalia, e poderá dar sinais mais claros de recuperação somente em 2016. Para a exportação total, a Tendências estima queda de 0,7% em 2015, na comparação com o ano passado. O recuo estimado das importações é de 3,1%, com superávit comercial de US$ 1,5 bilhão.