05/04/18 11h39

Câmaras têm US$ 22 bilhões para incentivar projetos

Valor Econômico

Segurança alimentar é um dos temas mais caros ao mundo árabe. Primeiro porque 60% de tudo o que consomem é importado - e o Brasil fornece metade disso. Depois porque o consumo tem de seguir regras rígidas de produção, que passam pelo que preconiza o islamismo. E por fim porque, apesar de investirem em centros logísticos sofisticados, com zonas francas que incentivam o investimento estrangeiro na região, negociam com mercados que não acompanham tal evolução e têm vocação para produção de commodities, o que os impede de ampliar a importação em busca de produtos manufaturados.

"As câmaras de comércio árabes querem negociar com indústrias estrangeiras e incentivá-las a exportarem por lá. Temos US$ 22 bilhões em crédito para viabilizar esses projetos", diz Alaa Ezz, da Federação das Câmaras Egípcias. Os grandes centros logísticos da região ficam em Omã, Egito, Dubai e países do Golfo Pérsico, que planejam expandir seus negócios com o Brasil e com a América Latina.

A Vale foi uma das primeiras empresas brasileiras a testar o modelo. Em 2012, inaugurou um complexo industrial com duas plantas de pelotização e um centro de distribuição junto a um porto de águas profundas em Sohar, a duas horas de Mascate, a capital de Omã. O projeto exigiu investimentos de US$ 1,35 bilhão e funciona como um hub, capaz de receber grandes navios de minerais. A estrutura atende à demanda crescente por produtos de minério de ferro no Oriente Médio, norte da África e Índia. "A BRF também investiu em uma fábrica nos Emirados Árabes e queremos que outras empresas brasileiras aproveitem nossa vantagem logística", diz Anders Kron, gerente comercial do Porto Sohar e da Zona Franca de Omã e do Oriente Médio.

Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV), a segurança alimentar e a logística têm papel central na integração entre Brasil e o mundo árabe especialmente porque 73% das exportações brasileiras para a região são de alimentos.

Se os acordos multi ou bilaterais avançarem - como o da Jordânia com o Mercosul - um dos portos a serem favorecidos no Brasil é o de Itaqui, no Maranhão. A estação portuária recebe produtos de sete Estados e do Distrito Federal por meio de 2 mil quilômetros de ferrovias e tem vantagem operacional marítima de 25 metros de profundidade e sete de variação de maré.

"Isso permite redução de custo de frete entre US$ 4 e US$ 6 por tonelada de transportada", calcula Ted Lago, presidente do porto de Itaqui. "Estaremos em Dubai na semana que vem para um possível acordo para criação de um hub operacional entre os dois portos e assinamos com o Egito um acordo para o transporte de boi vivo e de proteína animal de Itaqui para o Canal de Suez", diz Lago.

O executivo lembra, no entanto, que o constante desenvolvimento e adoção de tecnologias inovadoras são fundamentais para que esse tipo de integração seja feita - e, segundo a Embrapa, o tema somente agora entrou de fato na agenda de discussão estratégica entre as delegações desses países. "Em 35 anos de profissão é a primeira vez que sentamos com os Países Árabes para falar sobre conexão tecnológica para aprimorar a logística e segurança alimentar com foco nos acordos que desejam", diz Eduardo Assad, professor e pesquisador da Embrapa. Segundo ele, o Brasil hoje é referência no desenvolvimento de ciência agrária. "Conseguimos abater boi com 18 meses de vida e submeter essa carne a temperatura superior a 2 graus devido à inovação tecnológica. Podemos trocar nossa experiência com os árabes", diz.