Café colombiano com tecnologia 100% brasileira
Valor EconômicoA Pinhalense, fabricante de máquinas para cafeicultura com sede em Espírito Santo do Pinhal, no interior de São Paulo, fechou recentemente seu primeiro negócio de grande porte na Colômbia. Vendeu, por R$ 20 milhões, para a De Los Andes Cooperativa, baseada no Departamento de Antioquia, uma instalação de benefício de café, e abriu as portas para atender a outras encomendas relevantes naquele mercado.
O aporte da cooperativa colombiana foi complementado pela doação do importador e torrefador americano F. Gaviña & Sons, e contou com financiamento da belga Incofin, gestora de fundos de investimentos com foco em projetos em países emergentes. A instalação vendida, batizada de La Chaparrala, processará café entregue por 835 fazendas, com produção total estimada em 45 mil sacas de 60 quilos por ano.
"Como todo o produto entregue pelos cooperados será preparado da mesma forma, será possível uniformizar os lotes. O projeto será, portanto, um marco em questão de qualidade", diz Reymar Andrade, presidente da Pinhalense. O maquinário utilizado para o beneficiamento úmido do café permite a separação das cerejas por grau de maturação (verde, madura, semi-madura e sobre madura) e seu processamento conforme a qualidade.
Em uma etapa seguinte, os produtos são despolpados, fermentados a seco, lavados e secados. O que garante à unidade a chancela de "ecológica" é que os secadores usam a casca do café como combustível, têm um consumo mínimo de água e os resíduos são tratados. Outra característica que diferencia o projeto é que os secadores são horizontais e rotativos enquanto o usual na Colômbia é o modelo vertical e estático. "Há projetos com a mesma tecnologia no Brasil. Como no país temos produtores de porte maior, é mais comum termos usinas maiores e mais completas do que as colombianas", esclarece Andrade.
Outra novidade em se tratando de mercado colombiano é que a instalação vendida pela Pinhalense será usada no processo de beneficiamento de café de vários agricultores, não apenas de uma propriedade. "Essa filosofia de cada produtor ter a sua máquina está mudando e quem está sendo pioneiro nesse processo são as cooperativas", afirma Carlos Brando, diretor da consultoria P&A, que representa os negócios da Pinhalense no exterior. "Isso abrirá espaço na Colômbia para negócios de maior porte". Brando lembra que o processamento conjunto de café é uma tendência global.
A P&A já está em conversações para que a empresa paulista desenvolva um projeto semelhante na China, país onde a empresa brasileira atua há 15 anos e que deverá ampliar a produção de café. "Estamos em fase de negociação de valores", disse Brando. O projeto também tem como foco o preparo do grão de diversos produtores em um único local, mas deverá levar mais de um ano para ser implementado após as partes baterem o martelo.
No ano passado, as exportações da Pinhalense, que tem clientes em 100 países, representaram 20% de seu faturamento, que cresceu 24% em relação a 2017 e alcançou R$ 193 milhões. Reymar Andrade projeta um avanço mais moderado em 2019, devido à queda das cotações do café no mercado internacional, que deverão limitar os investimentos dos produtores. "Esperamos um crescimento de 5% a 10%, considerando o momento atual da cafeicultura", diz. As máquinas voltadas para café são o principal mercado da empresa, que também atua em outros segmentos, como cacau e feijão.