19/08/13 16h17

Cadeia se prepara para a chegada de montadoras

Brasil Econômico

Produtores de autopeças se estruturam para dar conta das exigências do Inovar-Auto e do crescimento da demanda do mercado automotivo brasileiro a partir de 2015

Do fim de 2012 para cá, a alemã BMW, a sul-coreana Kia e as chinesas JAC e Chery anunciaram a instalação de fábricas no Brasil. A também germânica Mercedes e a anglo-indiana JLR (Jaguar Land Rover) admitem oficialmente a pretensão de seguir as primeiras. Por trás dos novos players no mercado—que deverão começar a mostrar a que vieram a partir de 2015 —, a cadeia de suprimentos, a base da indústria automotiva nacional, se prepara para o que considera uma reinvenção.

“Temos a responsabilidade e a obrigação de acompanhar isso”, resume André Munari, da Arcelor Mittal, uma das empresa que se prepara para dar conta dos desafios que estão por trás de expansão e qualificação alavancados pelo programa Inovar-Auto, regime automotivo lançado para promover a competitividade da indústria automotiva nacional.

Com atuação no segmento de aços planos—componente que já integra nove em cada dez carros feitos no país e amplamente utilizado nos modelos premium, como é o caso da BMW—, a Arcelor Mittal iniciou no ano passado o investimento de US$ 150 milhões para a implementação no país da plataforma global S-in Motion, capaz de oferecer soluções para aos mais rígidos processos de fabricação.

“Alguns aços já são produzidos localmente, outros estão em desenvolvimento para atender as novas plataformas que serão implementadas no Brasil”, acrescenta Munari, gerente de vendas para o mercado automobilístico da companhia. Sob o parâmetro de eficiência energética dos veículos que será aplicado gradativamente pelo governo para que a BMW conquiste os certificados do Inovar-Auto , a solução em aço pode representar uma redução de 20% no peso da carroceria. “O mercado tema demanda e nós disponibilizamos solução”, finaliza.

Outra empresa que oferece soluções em diversas áreas, a Dow investe também no setor automotivo através do elastômero, polímero que suporta grandes deformações. Neste ano, a empresa trouxe para o país a mais moderna resina já desenvolvida. A solução é utilizada em larga escala nas peças de plástico que compõem os veículos, como painéis, porta-objetos, tampas de airbag e para-choques.

“Detectamos a necessidade de desenvolver novas tecnologias para acompanhar as mudanças do setor”, explica Renata Brambilla, gerente de Marketing da Dow. Na prática, o elastômero patenteado de Engage XLT proporciona a utilização de menos material para se produzir peças mais leves, econômicas e com maior flexibilidade de moldagem. Ou seja, maior segurança e menor peso.

Na avaliação de Mário Bernardes Junior, analista do setor pelo BB Investimentos, o cenário de reestruturação e fortalecimento da cadeia já começou. “Os fornecedores tier 1 e tier 2 (que são níveis na cadeia de produção) serão os mais beneficiados a médio prazo. E por mais que exista um risco de um cenário um pouco menos favorável em2014, o investimento é certo. Pode ser menor por parte de algumas empresas, mas essa realidade está consolidada”, explica Bernardes Junior.

Ele acrescenta ainda que, “pelos investimentos anunciados até 2015, o setor deve investir US$ 50 bilhões. É um número praticamente certo e que pode aumentar”.

Regulamentado na semana passada por meio da Portaria Interministerial 772, publicada no Diário Oficial da União, o Inovar-Auto exigirá aos fabricantes instalados no país o investimento de 0,15% do faturamento bruto em Pesquisa e Desenvolvimento já em2013. Os percentuais subirão até 0,5% nos próximos quatro anos.

No caso das áreas de engenharia, processo industrial e capacitação de fornecedores, o percentual exigido será de 0,5% em 2013, 0,75%em2014 e 1%até 2017.

Incentivo para peça sem debate

Coma invasão de componentes chineses no mercado nacional, que pressionam a balança comercial — a expectativa é de recorde negativo em 2013 após o índice histórico de US$ 19,4 bilhões, o pior dos últimos dez anos—, as empresas que compõem a base do setor automotivo pedem a atenção do governo. Apesar das perspectivas favoráveis de expansão da cadeia de suprimentos, a sustentabilidade da cadeia estaria atrelada à criação de um “Inovar-Peças”.

Com a chegada das novas montadoras, a quantidade de itens importados diante de uma cadeia em desenvolvimento e com menor competitividade em relação a demais países emergentes, tanto pelo custo quanto pelo câmbio, intensificaria o cenário desfavorável. Esse é o alerta reforçado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) . No entanto, Mário Bernardes Junior, do BB Investimentos, minimiza a necessidade de um programa mais amplo para o setor.

“Os programas sempre foram voltados para as montadoras, mas a cadeia de autopeças também teve um benefício direto. Um “Inovar-Peças” seria benéfico, mas o setor se desenvolve sem esse incentivo. As empresas fizeram a lição de casa e estão tendo resultados positivos. As autopeças estão vendendo para as montadoras e as montadoras estão rodando bem”, diz o analista.