29/03/10 11h46

C&C torna-se mais casa e menos construção

Valor Econômico

O mercado brasileiro de materiais de construção passou por uma reviravolta durante a crise, que vem repercutindo ainda hoje entre os principais players. A filial brasileira da francesa Leroy Merlin ultrapassou a líder do setor, a C&C Casa e Construção, que pertence ao grupo Alfa, do banqueiro Aloísio Faria. Segundo o ranking elaborado pela revista da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), com base em informações de fornecedores do setor, a C&C caiu para a terceira posição em 2009, atrás mesmo da também francesa Saint-Gobain (considerando não só a sua principal rede, a Telhanorte, como também as bandeiras Telhanorte Pro e Center Líder).

Maior rede do país desde a sua criação, em 2000 (com a incorporação da Conibra e da Madeirense), a C&C não está disposta a ver sua fatia ruir em um mercado que movimentou R$ 45 bilhões (US$ 22,8 bilhões) no ano passado, com alta de 4,2%, e que promete avançar ainda mais em 2010. Para dar novo ânimo aos negócios, a rede do grupo Alfa decidiu redobrar sua atenção ao público feminino, que já soma 55% da clientela, e remodelar seus pontos de venda, tornando-os ambientalmente sustentáveis. Hoje, mais do que metais, cerâmicas, tintas e parafusos, é possível encontrar na C&C fogões, geladeiras, micro-ondas, cafeteiras, liquidificadores, além dos mais variados artigos de móveis e decoração - de cama de casal a sinos de vento.

"As utilidades domésticas e os artigos de decoração oferecem margem maior, em torno de 30%, contra 15%, em média, da margem obtida com materiais de construção", explica o presidente da C&C, Jorge Gonçalves Filho que, além de dar início à venda de linha branca, acaba de criar a "diretoria do cliente feminino", só para entender melhor as consumidoras e atender as suas preferências. "As mulheres já são mais da metade do público e, somando as que vão com o marido, a representatividade delas sobe para 80%", diz Gonçalves Filho.

Daí o motivo para a C&C se tornar mais casa e menos construção, o que é uma tendência no varejo do setor, segundo o consultor Eugênio Foganholo. "As grandes redes trabalham cada vez menos com itens básicos, como cimento e cal, que geram pouca rentabilidade e acabam sendo comprados nos depósitos de bairro", diz ele.

De uma fatia inexpressiva até pouco tempo atrás, as utilidades domésticas e os itens de decoração representam hoje 20% do faturamento da C&C, não revelado. A mudança de estratégia levou à adoção de um novo layout para as lojas, que passam a ser organizadas pelas áreas da residência - cozinha, banheiro, sala, quarto, varanda/jardim -, seguindo o conceito "Sinta-se em casa", com a ambientação dos espaços. Trata-se, por sinal, de uma ideia semelhante à já adotada pela concorrente Leroy Merlin e pela megaloja de decoração Etna.