29/03/11 11h06

BRF planeja investimento e vê custos mais altos

Valor Econômico

Ao mesmo tempo em que espera uma definição do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre seu futuro, a BRF Brasil Foods planeja investir R$ 1,5 bilhão (US$ 882,4 milhões) no país este ano. "É lógico que não vamos colocar em risco [o investimento] antes de saber o parecer do Cade, mas temos que nos planejar", disse José Antônio do Prado Fay, presidente da BR. Fay, que apresentou ontem a analistas o resultado da empresa em 2010, disse que o plano é aplicar os recursos em novos projetos, como unidades de produção, e em ganhos de produtividade, com modernização de fábricas. Esses investimentos garantirão um crescimento de 6% a 7% nos volumes produzidos e de 10% a 12% na receita da empresa nos próximos dois anos, segundo ele.

Mas, como deixou claro o executivo, a concretização dos aportes vai depender da decisão do Cade sobre a união entre Perdigão e Sadia, que deu origem à BRF, há dois anos. No momento, segundo Fay, o relator do caso - Carlos Ragazzo - "está refazendo" o relatório da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), pois havia "imperfeições que precisavam ser corrigidas". O presidente da BRF não detalhou quais seriam essas imperfeições.

Segundo a BRF, a fusão entre as duas empresas gerou uma saldo de sinergias de R$ 74 milhões (US$ 42,1 milhões) ano passado. "As sinergias estão ocorrendo e há uma influência positiva no resultado", disse Fay. Com receita líquida de R$ 22,6 bilhões (US$ 12,8 milhões) em 2010, a BRF vendeu R$ 13,5 bilhões (US$ 7,8 bilhões) no mercado interno - 11% acima de 2009. No mercado externo, as vendas somaram R$ 9,166 bilhões (US$ 5,2 mbilhões) em 2010, alta de 4% sobre o ano anterior.

Apesar de mostrar otimismo com a demanda - tanto no mercado interno quanto no externo -, Fay admitiu que o cenário de pressão sobre os grãos deve se manter este ano, o que significa impacto no custo. "Este é um momento de insegurança em relação aos preços de grãos porque os estoques de passagem são baixos", observou. Milho e soja são importantes insumos da ração de aves e suínos. A safra brasileira não preocupa, segundo Fay, apesar do atraso na colheita. "Teremos uma safra brasileira grande, maior do que o previsto". Mas estoques baixos - principalmente devido ao maior consumo na Ásia - e produtividade menor nos EUA geram incertezas. Os custos de grãos já estão pressionados desde o segundo semestre do ano passado, o que levou a BRF a fazer um reajuste médio de 3,6% nos preços de seus produtos nas vendas ao varejo. "Repassamos pouco no decorrer do ano", avaliou Fay. Para ele, o "bom momento de demanda" no Brasil deve permitir "absorção" de alta pelos consumidores, "com algum limite".

Além do plano de investir R$ 1,5 bilhão (US$ 882,4 milhões) em operações no mercado interno, a BRF também quer investir no exterior. Hoje a empresa tem operação na Europa - a Plus Food -, e foca outra aquisição fora do Brasil. Entre as regiões possíveis estão África, Oriente Médio e América Latina. "Greenfield não é o primeiro approach (...) Com aquisição, ganha-se tempo", argumentou. Segundo Fay, a BRF chegou a avaliar possibilidades na China recentemente, mas as diferenças culturais pesam. "Nunca iríamos para a China sozinhos". Segmento em que a BRF não tem obtido bons resultados, os lácteos são foco de um projeto especial da empresa para os próximos três anos. O planejamento prevê aquisição em refrigerados e melhoria na utilização da capacidade de distribuição, além da alavancagem de outras marcas da companhia que podem ser usadas no segmento de lácteos. "Queremos incorporar aos lácteos a vantagem que temos em carnes", concluiu.