Brasileiros têm experiência global
Valor EconômicoEmpresas brasileiras e multinacionais inovadoras apostam um montante significativo em centros de pesquisa no país para atrair novos negócios. A receita que aponta o diferencial local como um trunfo dos projetos e produtos é seguida pela Totvs, que desenvolve soluções de gestão empresarial, mas vale também para a Alstom, líder global em infraestrutura ferroviária e geração e transmissão de energia. Serve a quem produz rolamentos para automóveis, como a alemã Schaeffler, uma das líderes mundiais em componentes automotivos, industriais e aeroespaciais, do mesmo jeito que impulsiona as perspectivas de crescimento de uma provedora de tecnologia de comunicações como a multinacional americana Cisco.
Nos últimos cinco anos, a Totvs investiu R$ 832 milhões em P&D, tornando-se uma das maiores investidoras do país no quesito. A empresa conta com nove centros de pesquisa e o laboratório Totvs Labs na Califórnia, nos EUA. Neles trabalham 2 mil pessoas diretamente envolvidas com a inovação. Cada centro desenvolve trabalhos segmentados.
O centro de pesquisa de Assis (SP), por exemplo, está voltado para a agroindústria e seus desafios de disponibilidade de telecomunicações e de uso da tecnologia no campo. Oitenta agrônomos, engenheiros sanitaristas, analistas de sistemas e engenheiros de software combinam esforços para levar tecnologia aos implementos agrícolas ou monitorar os equipamentos remotamente. No centro de pesquisa de Joinville (SC), 500 pessoas se dedicam ao segmento de manufatura no desenvolvimento de tecnologias para cálculo e planejamento de produção.
No Totvs Labs, a proposta é antecipar o encontro de tecnologias que estão sendo desenvolvidas no Vale do Silício. O trabalho envolve quinze cientistas americanos, asiáticos e brasileiros. "Acreditamos que o valor da inovação para um cliente tem a ver com o conhecimento setorial e as tecnologias que podemos fornecer para transformar os negócios", diz Gilsinei Hansen, vice-presidente de sistemas e segmentos da Totvs.
"Os novos negócios são sempre focados em inovações oriundas dos centros de P&D", diz Cláudio Castro, diretor-executivo e P&D corporate da Schaeffler. O centro de pesquisa de Sorocaba (SP) atende toda a operação técnica na América do Sul. A unidade emprega 180 pesquisadores. Em todo o mundo são mais de 6 mil pessoas em 40 centros. O resultado pode ser medido pelo volume de 2.100 depósitos de patentes em 2013.
O centro de pesquisa do Brasil ficou em terceiro na cadeia de inovação da empresa, atrás da Alemanha e dos EUA, com 116 depósitos de invenção. Uma das novidades desenvolvidas pelo centro do Brasil foi o sistema de rolamento de embreagens criado para clientes locais com novos conceitos de lubrificação, de redução dos atritos e de falhas com vedações especiais que eliminaram problemas de contaminação externa.
A Alstom, com vendas de € 20 bilhões, em 2013, inaugurou este ano o Centro Global de Tecnologia Hidrelétrica em Taubaté (SP), com investimento de € 8 milhões, de olho nos projetos de grandes usinas hidrelétricas. O objetivo da empresa é desenvolver turbinas com tecnologia Kaplan, para hidrelétricas de baixa queda, entre 15 e 60 metros, que usam menos água.
O Brasil responde por 45% do futuro mercado Kaplan mundial para novas centrais elétricas. No país, a empresa já forneceu mais de cem turbinas nos últimos dez anos. "O centro vai permitir que tenhamos tecnologia adaptada, que a empresa não fique para trás tecnologicamente e que, além disso, estreite a relação com a academia", diz Ricardo Vasconcellos, gerente do Centro Global de Tecnologia da Alstom.
"Se queremos crescer além do crescimento orgânico precisamos ter acesso a oportunidades e integrar nossas tecnologias com parceiros globais e locais, que produzem as soluções que os clientes precisam", afirma Nina Lualdi, diretora-sênior de estratégia e planejamento da Cisco, que investiu parte do pacote de R$ 1 bilhão previstos para os próximos quatro anos no Brasil no Centro de Inovação localizado no Rio de Janeiro.