21/02/10 10h46

Brasil puxa recuperação do emprego global

Folha de S. Paulo

A força do mercado interno e o crescimento de setores como a construção e o agronegócio ajudaram o mercado de trabalho brasileiro a ser o primeiro das grandes economias globais a retornar ao nível pré-crise. Em dezembro do ano passado, a taxa de desemprego no país ficou em 6,8%, menor que a de setembro de 2008 (7,6%), quando a crise se tornou verdadeiramente global, e não apenas restrita aos mercados ricos.

Mesmo em países que, ao contrário do Brasil, conseguiram evitar a recessão (casos de Austrália e Coreia do Sul), a taxa de desemprego continua maior do que a de antes da quebra do banco norte-americano Lehman Brothers. E nos países desenvolvidos, caso dos EUA e dos europeus, as perspectivas são que vai demorar muitos anos até que o desemprego retorne ao nível anterior à crise -se é que isso vai ocorrer.

Para Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores, o fato de o PIB brasileiro ter sido menos afetado que o de outros países explica o impacto menor na taxa de desemprego por aqui. O pesquisador Claudio Leonardo Salm, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ressalta a interiorização do desenvolvimento como outro fator que ajudou o Brasil a conter a taxa de desemprego. Ele afirma que o agronegócio gerou vagas formais de baixa qualificação no interior do país, o que ajuda a absorver a mão de obra. O avanço da construção civil, mesmo no período recessivo, também foi importante para frear o desemprego no país, diz Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília

É preciso lembrar, porém, que o desemprego na Coreia do Sul e na Austrália já começou a ceder e que a taxa é menor que a brasileira -que leva em conta apenas seis regiões metropolitanas. Outro fator que precisa ser considerado é a qualidade do emprego que foi recuperado. Em 2009, entre contratações e demissões, a indústria gerou 0,15% mais vagas que no ano anterior. O crescimento em 2008 havia sido de 2,55% e, em 2007, de 5,97%. "A taxa de desemprego do Brasil se comportou melhor que a de outros países, mas não significa que o mercado de trabalho tenha ficado espetacular. O saldo de emprego ficou bem abaixo dos anos anteriores", afirma Salm, da UFRJ.