04/04/08 11h44

Brasil prepara plano para ser o maior fornecedor agrícola do mundo

O Estado de S. Paulo - 04/04/2008

O governo brasileiro prepara uma estratégia para tentar transformar o setor agrícola nacional no principal fornecedor de alimentos e commodities para uma série de mercados. O Ministério da Agricultura está concluindo um mapeamento dos mercados externos que o País deve priorizar em termos agrícolas. O levantamento ainda está sendo debatido com os setores privados. Mas, com problemas ainda a resolver internamente no que se refere às condições fitossanitárias, o governo admite que o aumento das exportações agrícolas pode esbarrar na elevação das barreiras por parte dos outros países. Para o setor privado, o governo ainda precisa fazer sua lição de casa. 'O Brasil será cada vez mais perseguido', afirmou Luiz Carlos Oliveira, diretor do Departamento de Negociações Sanitárias e Fitossanitárias do Ministério da Agricultura. A estratégia que vem sendo estudada é a de deixar de focalizar apenas nos mercados tradicionais e passar a avaliar quais são as economias com o potencial de se tornar grandes consumidores de produtos agrícolas nos próximos anos. O mapeamento está ocorrendo em três etapas. A primeira é a análise dos indicadores econômicos e de mercado dos diferentes países. Uma segunda etapa está sendo a identificação das eventuais barreiras existentes e os critérios fitossanitários para as exportações. Uma vez concluído esse estágio, o governo então passaria a avaliar ações de promoção das exportações. Representantes do setor de frutas e de carnes, por exemplo, já foram consultados para opinar sobre o mapeamento. Mercados como o da China, Índia, Leste Asiático, países do Golfo Pérsico, Norte da África, Rússia e outros estão em avaliação. No caso da Índia, há indicações de que o país pode enfrentar uma crise no setor agrícola nos próximos anos, diante da falta de água e das práticas quase arcaicas de produção. Para o Brasil, essa seria uma oportunidade para a exportação não apenas de produtos agrícolas, como também de maquinário. O setor privado considera os levantamentos como uma iniciativa positiva. Mas alertou que o governo precisa fazer seu dever de casa antes de querer 'conquistar o mundo'. Para Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), o que interessa é se há ou não exigências sanitárias em um país e o que deve ser feito para eliminá-las. A primeira delas foi questionar os americanos por suas leis que exigem que uma importação passe por entre seis e dez etapas de avaliação. Os americanos rejeitaram as críticas, mas admitiram conversar com o Brasil. Outra barreira identificada foi um projeto na Malásia para cobrar de cada empresa uma taxa de US$ 30 mil por ano para ser certificada e autorizada a exportar. O Brasil considera a Malásia como uma importante plataforma de exportações para o Sudeste Asiático e outros países muçulmanos. Por isso, já admitiu pagar por inspeções para garantir que as empresas trabalhem no abate, como manda o Corão. Mas se recusa a pagar a nova taxa. Para completar, o Brasil se queixou dos mexicanos e suas proibições às importações de carne cozida e preparada. A esperança é de que as queixas tenham servido para acelerar a solução dessas barreiras. Mas o governo admite que, em alguns casos, terá de tratar do assunto também na esfera política. 'Temos a maior pecuária do mundo e um dos  maiores setores agrícolas. Mas teremos de nos defender', concluiu Oliveira.