15/09/10 15h59

Brasil entra na rota da inglesa ARM

Valor Econômico – 15/09/10

O desenvolvimento da indústria microeletrônica brasileira atraiu a atenção da inglesa ARM, fornecedora de padrões dos módulos de circuitos integrados. Diferentemente da Intel e AMD, a ARM não vende chips, mas a propriedade intelectual do desenho dos processadores para diversos mercados, ganhando com a venda de royalties. Antonio Viana, vice-presidente mundial de vendas da ARM, chegou ao Brasil nesta semana para visitar parceiros, como Texas Instruments, NXP e ST Microeletronics, e avaliar os rumos da indústria no país. Para isso, contratou uma empresa local, a FastCompanyBrazil para estudar a abertura de um escritório no país no próximo ano. Apesar do nome, Viana é americano. O executivo é descendente de portugueses, mas não fala o idioma.

Mundialmente, a ARM é responsável pelos processadores do iPhone e do iPad, da Apple; dos chips fabricados pela Qualcomm para a indústria de telefonia móvel; e do desenho dos chips industriais da Texas, NXP, ST Microeletronics e Freescale, entre outras. A ARM está particularmente interessada nos incentivos do governo federal à indústria de microeletrônica. O Brasil tem um déficit anual de R$ 4 bilhões (US$ 2,3 bilhões) com a importação de chips e semicondutores. Esse déficit norteou, neste ano, investimentos de R$ 400 milhões (US$ 228,6 milhões) do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) na Ceitec, fábrica de processadores localizada em Porto Alegre (RS). A previsão é de que a Ceitec iniciará a produção de semicondutores em 2011.

O MCT também patrocina o CI Brasil, programa de treinamento de engenheiros e de incentivo a empresas de projetos de chips que reúne 17 companhias. São empresas ligadas a universidades e centros de pesquisas, entre elas o Cesar, de Recife (PE); a Chipus, de Florianópolis (SC); a Excelchip, de Campinas (SP); e a DHBH, de Belo Horizonte (MG), entre outras. A ARM oferece software de desenvolvimento do módulo de circuitos integrados e do ambiente que envolve o processador, em um modelo de negócios horizontalizado. Viana contrapõe esse modelo ao da Intel, que é verticalizado. A empresa americana fabrica o chip para equipamentos específicos.

A arquitetura dos processadores da ARM é baseada na tecnologia Risc de 32 bits. A da Intel é a X86, que integrou os primeiros PCs. A concorrência no campo dos netbooks e smartphones fez a Intel adquirir, no mês passado, a divisão de chips para redes sem fio da alemã Infineon. A Apple também adquiriu recentemente a Intrinsity, que licencia tecnologia ARM. Da receita de US$ 490 milhões da ARM no ano passado, 60% veio de royalties pagos pela indústria de smartphones e telefonia móvel. Nos últimos dois anos, no entanto, a empresa registrou 100% na venda de royalties para a indústria de computadores e de equipamentos não ligados às telecomunicações, como os setores de automóveis e saúde, entre outros.