Brasil é protagonista mundial em tecnologias para combater Aedes aegypti
PROTECO Brasil tem se tornado em um dos principais expoentes mundiais no combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor dos vírus da dengue, chikungunya, febre amarela, além do zika, apontado como responsável por casos de microcefalia em recém-nascidos. Biolarvicidas, inseticidas e o uso de insetos geneticamente modificados fazem parte do rol de inovações tecnológicas desenvolvidas em solo nacional para controlar a proliferação do mosquito que gerou epidemias e foi a causa de várias mortes no País.
Em audiência pública realizada pela Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (25), especialistas de diversos setores apresentaram novidades sobre as tecnologias desenvolvidas para reduzir os casos de transmissão pelo inseto. Uma das iniciativas, da empresa de biotecnologia Oxitec Brasil, é expandir em escala industrial a produção de mosquitos geneticamente modificados, chamados de “Aedes do Bem”, que não picam ou transmitem doenças. Eles transferem para os filhotes um gene mortal, que os impede de se desenvolver até a fase adulta, diminuindo a população de mosquitos.
Segundo o diretor de Negócios da Oxitec do Brasil Tecnologia de Insetos Ltda, Cláudio Fernandes, a empresa vai inaugurar nesta quarta-feira (26), em Piracicaba (SP), a maior unidade de produção de mosquitos machos geneticamente modificados do mundo. Ela terá cinco mil metros quadrados, deverá gerar 200 empregos diretos, e terá capacidade de produzir 60 milhões de insetos transgênicos por semana - volume 30 vezes superior à capacidade da atual fábrica, situada em Campinas (SP) - oferecendo proteção para 1,5 milhão de pessoas.
“A inovação, o desenvolvimento do produto e a melhoria dos processos, é tudo feito no Brasil, o que nos torna protagonista no combate ao vetor dessas doenças”, afirmou Fernandes. “O governo dos Estados Unidos, que está lidando com a questão do zika vírus na Flórida, tem desenvolvido alguns protocolos baseados no que fazemos no País. É a vez do Brasil ser o grande protagonista nessa história”, ressaltou Fernandes.
Na avaliação do diretor, a fábrica em Piracicaba possui capacidade de exportar tecnologias, conhecimento e o manejo eficiente do mosquito transgênico. “Estamos em condições de executar projetos em qualquer lugar do Brasil, e em qualquer tamanho. Estamos prontos para fazer os investimentos que forem necessários para que essa tecnologia se torne disponível e seja uma realidade para todo o País”.
A companhia confirma que experiências com o mosquito geneticamente modificado, solto em um bairro de Piracicaba, reduziu em 82% a quantidade de larvas espalhadas pela região. De acordo com Fernandes, outros testes no País e no exterior mostraram uma redução superior a 90%. “Essa tecnologia não gera riscos à saúde das pessoas, nem ao meio ambiente, ou aos animais de forma geral. Do ponto de vista de biossegurança é absolutamente segura e está pronta para ser utilizada em larga escala no Brasil”, garantiu.
Mais ações
Outra experiência no controle do Aedes aegypti é promovida pela organização social Moscamed, que desenvolveu técnicas de criação e liberação em grandes quantidades do inseto estéril, desenvolvido em laboratório. O objetivo é acabar com o mosquito ou, pelo menos, torná-lo inofensivo.
“Temos uma ampla experiência com a criação massiva de insetos e a liberação deles. Fomos responsáveis pela maior liberação de mosquitos no planeta, no caso, 1,3 bilhão. O mundo não conhecia e não conhece direito como se faz criação massal de mosquitos. Digo com alegria que os países estão vindo ao Brasil aprender como é que se faz”, informou o presidente da Biofábrica Moscamed Brasil, Jair Virgínio.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também têm desenvolvido alternativas para o controle do Aedes aegypti. Entre elas o projeto Wolbachia, que consiste em infectar os mosquitos com a bactéria que dá nome à iniciativa. Após a infecção, os insetos não conseguem transmitir o vírus da dengue. “Ao final de 24 semanas de liberações nos municípios de Tubiacanga (RJ) e Jurujuba (RJ), conseguimos o estabelecimento de mais de 80% dos mosquitos Aedes com a Wolbachia. Esse foi um resultado positivo, por mostrar que nós podemos estabelecer kits Aedes com Wolbachia para eliminar a dengue”, informou Flávia Roque, especialista da Fiocruz.
Integração
Os especialistas concordaram que integrar todas as tecnologias no combate ao mosquito Aedes aegypti é o melhor caminho para reduzir os casos de doenças, e por fim, eliminar a incidência do inseto no País. “Não há uma metodologia única, uma bala mágica, ou ação que por si só vá socorrer ou solucionar o problema das doenças transmitidas pelo Aedes. Existe uma combinação de iniciativas”, disse Flávia Roque.
Apesar de reconhecer a necessidade do uso conjunto das tecnologias no combate ao mosquito, a representante da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Tatiana Ázara, admite que o governo federal tem dificuldades para trabalhar de forma integrada. “Muitas vezes não sabemos o que o nosso colega da sala do lado faz . O que fazemos é estudar essas novas tecnologias e conseguir ter subsídios para que elas possam fazer parte da vivência do município na hora de se trabalhar no controle vetorial.”
Na opinião do presidente da Biofábrica Moscamed Brasil, Jair Virgínio, o Ministério da Saúde deveria criar, no âmbito do governo, um comitê técnico-científico com profissionais que possam assessorar a pasta em políticas públicas sobre o tema. “Por incrível que pareça, os especialistas do Brasil tem se encontrado em eventos internacionais. Temos uma carência grande que esses eventos aconteçam aqui. Vários países criaram esses comitês e isso coordena as ações no âmbito nacional, para que não haja duplicidade de esforços e perda de recursos na aplicação dessas pesquisas, que são caras.”
Até agosto deste ano foram registrados quase 1,5 milhão de casos de dengue, 216 mil casos de febre chikungunya e quase 200 mil pessoas infectadas pelo zika vírus no Brasil, de acordo com dados do Ministério da Saúde.