24/06/10 15h52

Brasil é eleito a base de expansão da Shire

Valor Econômico

A farmacêutica Shire, a terceira maior empresa de biotecnologia da Inglaterra, escolheu o Brasil para ser sua sede na América Latina. "O Brasil tem uma posição estratégica na região. O potencial desse mercado sozinho é importante para a Shire, comparado com outros países", disse ao Valor Angus Russel, CEO global da companhia. A Shire não pretende construir uma fábrica no Brasil, o que não quer dizer que o país não seja atraente para investimentos, afirmou Russel. Com foco nas áreas de terapia genética humana (HGT, em inglês), e especialidades médicas, a companhia está de olho no potencial brasileiro para esses mercados.

A expectativa é de que a partir de julho o medicamento "blockbuster" da empresa (campeão de vendas), o Vyvanse, seja aprovado para comercialização no Brasil pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária). Este produto representa cerca de 70% da receita global da companhia e é voltado para o tratamento de déficit de atenção e hiperatividade. Este nicho de mercado representa cerca de 5% de um universo de 47 milhões de crianças e jovens entre 6 e 18 anos no país como potenciais portadores desse distúrbio. A estimativa é de que menos de 100 mil pessoas fazem uso de algum tipo de medicação.

A Shire aposta que o Brasil se tornará seu terceiro maior mercado até 2012, atrás dos Estados Unidos e da Europa, disse Russel. O mercado global de "déficit de atenção" movimenta cerca de US$ 4,5 bilhões por ano. Com faturamento de US$ 3,008 bilhões em 2009 e duas fábricas nos EUA, a Shire investe entre 18% a 20% de sua receita em pesquisas. Com atuação marcante em mercados maduros, a farmacêutica busca ter 25% de seus lucros fora dos EUA e Europa nos próximos anos.

No país, pretende-se intensificar acordos de cooperação com universidades para estreitar pesquisas e ensaios clínicos. "A empresa investe em ensaios clínicos no Brasil, Argentina e Uruguai e tem acordo com universidades em São Paulo e Porto Alegre", afirmou Sylvie Grégoire, presidente da divisão de HGT da companhia. A Shire atua no Brasil desde 2007, com produtos voltados para a síndrome de Hunter, doença de Fabry e angiodema hereditário. As vendas da farmacêutica no Brasil são feitas diretamente para o governo. Nesse segmento, a companhia concorre com fármaca americana Genzyme.

A estratégia global da companhia, explicou Russel, continuará a olhar ativos que possam ser interessantes para a Shire. As recentes aquisições do grupo foram feitas nos EUA e Europa, mas segundo o executivo, as regiões da Ásia e América Latina possuem pequenos laboratórios voltados para as áreas de atuação do grupo e que podem ser, no futuro, possível alvo. Russel explica que os investimentos da Shire não são necessariamente em infraestrutura, mas voltados para pesquisas.