Brasil continua atrativo para estrangeiro
Valor EconômicoApesar das dificuldades enfrentadas pela economia brasileira em 2015, executivos de multinacionais continuam a apontar o Brasil como um dos três destinos mais atrativos para investimentos, segundo pesquisa global da KPMG. Na lista, o Brasil ficou atrás apenas de China e da Índia. Em seguida no ranking estão México, Cingapura e Coreia do Sul, segundo o relatório "Perspectivas Para os Mercados Globais de Alto Crescimento".
As mais de 300 entrevistas feitas para o estudo foram realizadas no início do ano com executivos americanos, europeus e asiáticos.
Para Augusto Sales, sócio da área de estratégia da KPMG, os investidores estrangeiros seguem bastante atentos aos grandes mercados consumidores do mundo e olham o momento atual da economia brasileira como passageiro. "O investidor vê uma crise, uma situação como a do Brasil hoje, como uma oportunidade. Muitos ativos estão sendo colocados à venda por preços bastante atrativos", diz.
Para ele, exemplos não faltam. Um dos casos é a Petrobras, que já sinalizou a possibilidade de vender campos de petróleo e até uma fatia na Petrobras Distribuidora. "É uma oportunidade de ouro para quem quer entrar nesse mercado no Brasil".
As investigações da Operação Lava-Jato também aumentaram a lista de empresas que colocaram ativos à venda, especialmente no setor de construção, comenta Sales, para quem a desvalorização do câmbio torna essas compras ainda mais atrativas. "As empresas já estão com seu "valuation" mais barato por causa do cenário de crise doméstica. Em dólares, o preço é ainda mais competitivo", comenta.
Em relatório, Mark Barnes, sócio global da KPMG, aponta outro ponto que ajuda a explicar a posição do Brasil no ranking. Segundo os pesquisados, boa parte do aumento dos investimentos em emergentes será destinado a países em que essas empresas já operam, o que dá vantagem para China, Índia e Brasil.
Para Sales, havia certa dúvida sobre a posição do Brasil no ranking deste ano, por causa do cenário de baixo crescimento econômico e maior incerteza. "Foi uma surpresa boa. O país tem 200 milhões de habitantes, instituições fortes, se comparado a outros emergentes", diz. Além disso, ainda que a desaceleração seja menos acentuada, os demais emergentes também enfrentam economia mais fraca e desafios domésticos, segundo a pesquisa.
Para China e Índia, por exemplo, o principal entrave para fazer negócios é a dificuldade com a regulação. Já no Brasil, o que de fato atrapalha as empresas é a infraestrutura, com 69% das respostas dos entrevistados, segundo o levantamento. "Esse é um ponto que está sempre na lista das principais dificuldade e pouco mudou nos últimos anos", afirma Sales.
"A ligação entre infraestrutura e crescimento econômico é inegável", diz um dos quadros do estudo. No levantamento, a KPGM comenta que a concorrência por investimentos em dólar tende a se acirrar e que o potencial de atratividade de cada país vai depender cada vez mais da ação governamental, em áreas como infraestrutura, regulação e incentivos tributários.
Para Sales, a grande ameaça à colocação do Brasil no ranking é a perda do grau de investimento. "Esse é o elemento que poderia mudar atratividade do país de forma clara, já que muitas empresas têm dentro de sua política de investimentos cláusulas que a obrigam a investir apenas em países com esse selo", diz.