Bosch cresce em 2015 com base nas exportações
Valor EconômicoCom o mercado automotivo doméstico em forte retração, a desvalorização do real foi a única boa notícia do ano para as operações da fabricante de autopeças alemã Bosch no Brasil. Graças ao câmbio, a companhia aumentou as exportações e o faturamento em 2015, ao mesmo tempo em que ampliou a nacionalização de linhas de produtos para reduzir as importações e atenuar o desequilíbrio da própria balança comercial.
Segundo o vice-presidente executivo da empresa para a América Latina, Wolfram Anders, o dólar próximo dos R$ 4 elevou a participação das vendas externas sobre o faturamento de menos de 10% em 2014 para quase 20% neste ano e vai garantir o crescimento de 8% a 9% das receitas totais em reais na mesma base de comparação.
No ano passado, a Bosch havia faturado € 1,3 bilhão no Brasil, o equivalente a pouco mais de 80% do total de € 1,6 bilhão apurado em todo o mercado latino-americano, informou o executivo, durante reunião da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha de Porto Alegre. O país também é responsável por quase 95% da produção industrial da empresa na região.
Conforme Anders, a alta das exportações foi mais acentuada para os Estados Unidos, principalmente com embarques de componentes como sensores e sistemas de injeção para motores a gasolina e a diesel. No Brasil, o segmento com melhor desempenho no ano foi o de reposição. "Quando caem as vendas e carros novos, é preciso reparar os velhos", comentou.
Já o aumento da nacionalização de produção incluiu itens como freios ESP, que reforça a estabilidade dos veículos, além de sensores e ainda ferramentas elétricas, outra área de forte atuação da companhia. Como as importações estão mais caras, a empresa busca melhorar o equilíbrio da sua balança comercial, que é negativa e prejudica a rentabilidade das operações locais.
Para o executivo, a situação do setor automotivo e de autopeças no país está "dura" por conta das crises econômica e política e deve permanecer assim em 2016, pois só é possível ver "luz no horizonte" a partir de 2017. Ele lembrou que as vendas de automóveis de passeio de pequeno porte são predominantes no Brasil e sentem mais a retração dos consumidores de renda média, que são mais afetados pela recessão e pelo desemprego.
No acumulado de janeiro a novembro, a comercialização de automóveis de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus no mercado interno recuou 25,2% em comparação com o mesmo período de 2014, para 2,34 milhões de unidades, o pior volume em oito anos. Os dados foram divulgados na semana passada pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Este é o terceiro ano consecutivo de queda.
Segundo o vice-presidente da Bosch, a companhia vai acompanhar as montadoras e dar férias coletivas de duas a três semanas na virada do ano para os funcionários das suas duas principais fábricas no Brasil, em Campinas (SP) e Curitiba (PR). Ficarão de fora apenas os trabalhadores das linhas voltadas às exportações, que estão produzindo mais em 2015 e também garantiram a manutenção do quadro total de cerca de 9 mil empregados da empresa no país em 2015, acrescentou o executivo.