02/12/13 16h01

BorgWarner se prepara para a era dos turbos

Valor Econômico

Menos de um ano após inaugurar uma fábrica em Itatiba (SP), onde investiu cerca de R$ 70 milhões, a multinacional americana BorgWarner começa a preparar a segunda etapa de investimentos no local para produzir turbos de carros de passeio no Brasil. O projeto prevê novos aportes de aproximadamente R$ 50 milhões nos próximos dois anos e uma área da fábrica já foi reservada para receber uma linha com capacidade de produzir até 500 mil turbinas de automóveis por ano.

No momento, a BorgWarner está em negociações avançadas para fornecer o equipamento a uma montadora - o nome, claro, não é revelado porque as partes ainda não fecharam o contrato. Em fevereiro, será testado em 50 carros o turbocompressor desenvolvido há mais de dois anos pelo grupo, num trabalho que envolveu engenheiros do Brasil e do centro tecnológico na Alemanha.

A depender do sinal verde do cliente, a instalação do maquinário da nova linha em Itatiba pode ser iniciada já em meados do ano que vem, entre junho e julho. Nesse caso, o fornecimento começaria já em 2015, diz o diretor responsável pelas operações da BorgWarner no Brasil, Arnaldo Iezzi.

Depois que o governo estabeleceu metas de eficiência energética no novo regime automotivo, as montadoras se viram forçadas a acelerar programas de desenvolvimento de motor no país, o que deve antecipar a introdução de tecnologias como o turbocompressor. O equipamento permite reduzir o tamanho dos sistemas de propulsão, sem comprometer o desempenho do veículo. Vai, portanto, perfeitamente ao encontro do compromisso firmado pelas montadoras de melhorar em, no mínimo, 12% a eficiência dos automóveis produzidos no Brasil até 2017. Essa é uma das contrapartidas cobradas pelo governo para liberar os benefícios fiscais do Inovar-Auto, como é conhecida a política automotiva em vigor no país.

Para a BorgWarner e a Honeywell - empresas já estabelecidas no interior paulista com a produção de turboalimentadores usados em caminhões, picapes, vans e máquinas agrícolas -, essas exigências vão criar um mercado superior a 1 milhão de turbos por ano até o fim da década. Ou seja, a expectativa é que o produto seja aplicado em cerca de um quarto dos carros de passeio fabricados no Brasil, dando início à "era do turbo" para os automóveis brasileiros, como já projetam alguns entusiastas.

As montadoras vêm testando protótipos de turbocompressores desde o início do ano. Ao contrário do que supunha-se inicialmente - de que a aplicação começaria em veículos mais caros, onde o custo do equipamento seria mais facilmente diluído -, os motores avaliados estão na faixa de 0.8 a 1.4 cilindrada, a mais popular do mercado. Turbos dessa gama já são produzidos pela BorgWarner na China e, agora, estão sendo adaptados para vir ao Brasil.

A Honeywell, que negocia contratos com três montadoras, também faz testes nessa faixa de motorização. Segundo a empresa, os resultados dos motores 1.0 turbinados mostram desempenho equivalente a propulsores tradicionais de potência 1.8 e 2.0, mas com redução no consumo de combustível de 15%. São indicadores promissores, mas, ainda assim, José Rubens Vicari, diretor da Honeywell na área de sistemas de transporte, não acredita na aplicação em carros brasileiros antes de 2016. Segundo ele, as montadoras ainda esmiuçam cada etapa desses projetos para ver onde é possível cortar custos e, assim, diminuir o impacto no preço final do veículo. Além disso, ainda se busca formas de otimizar o desempenho dos motores com o uso do etanol.

"A grande questão da indústria é como oferecer essas tecnologias sem perder a competitividade e os turbos são mais um componente de custo", diz Vicari.

Por outro lado, a adaptação dos turbos aos motores bicombustível - a tecnologia consagrada no Brasil - não tem exigido mudanças radicais em relação ao equipamento já usado em mercados desenvolvidos. Ainda assim, tem sido necessário buscar materiais alternativos ao ferro fundido, como ligas especiais, para enfrentar as altas temperaturas de trabalho no chamado motor flex, além da corrosão do etanol.