14/12/12 12h48

Borg prepara turbo para motor a etanol

AutomotiveBusiness

Montadoras no Brasil já testam carros de passeio turbinados para atender redução de consumo do regime automotivo

Quatro fabricantes de veículos no Brasil, possivelmente cinco, já começaram a testar turbocompressores da BorgWarner em motores flexíveis bicombustível gasolina-etanol, para carros de passageiros, como uma das soluções possíveis para atender às metas de redução de consumo de combustível previstas no Inovar-Auto, a política industrial do governo para o setor automotivo que começa a vigorar no ano que vem com exigências e objetivos desenhados até 2017. “Antes da publicação do regime automotivo quem procurava as montadoras para oferecer a solução éramos nós, mas nunca houve interesse. Agora são elas que nos procuram”, afirma Arnaldo Iezzi Jr., diretor geral da BorgWarner no País.

Iezzi calcula que os primeiros automóveis com motores turbinados comecem a ser fabricados no Brasil a partir do fim de 2014. Para atingir as metas de eficiência energética do Inovar-Auto, possivelmente também deverão ser equipados com injeção direta de combustível que, combinada com a turboalimentação, pode reduzir em cerca de 10% o consumo e garantir potência igual ou superior na comparação com um motor aspirado equivalente com injeção indireta.

O maior desafio da engenharia parece ser o da injeção indireta, já largamente utilizada por fabricantes na Europa, América do Norte, Japão e China, mas nunca em motores que rodam com 100% de etanol, como é o caso brasileiro. Essa parte deverá tomar tempo maior de desenvolvimento, mas os turbos para etanol podem ser desenvolvidos bem mais rapidamente. “É necessário fazer adaptações, principalmente na proteção anticorrosiva, mas é algo relativamente simples”, explica Iezzi. Segundo ele, estão na mira das montadoras aqui turboalimentadores mais baratos e sem grande complexidade tecnológica – como é o caso, por exemplo, dos turbos de geometria variável ou duplos. “São componentes simples, com tecnologia amplamente dominada nos mercados maduros.”

PRONTO PARA CRESCER

No Brasil e Mercosul os clientes da BorgWarner são os fabricantes de veículos comerciais a diesel, que usam seus turbos e também os sistemas de ventilação para arrefecimento do motor. Cerca de 10 montadoras e o mercado de reposição consumiram este ano de 320 mil a 330 mil turbocompressores, que representam 75% do negócio na região. Na nova fábrica de Itatiba, no interior paulista, a capacidade de produção é de 350 mil unidades/ano, mas a operação atual ocupará 80% da área construída de 20 mil metros quadrados, os 20% restantes já estão reservados para a futura fabricação de turbos para motores leves ciclo otto. “Sempre apostei no crescimento desse mercado, que agora deve de fato acontecer”, diz o executivo.

“Em uma área de apenas mil metros quadrados é possível instalar uma célula de produção com capacidade para 500 mil turbos por ano, o que será suficiente para atender à demanda inicial das montadoras que esperamos para 2015 e 2016”, informa Iezzi. Ele calcula que o investimento em maquinário para a fabricação gire em torno de R$ 40 milhões.

A fábrica de Itatiba vai substituir a unidade de Campinas, a cerca de 40 quilômetros de distância, onde a BorgWarner operava com a mesma capacidade de 350 mil turbos/ano, mas sem espaço para futuras expansões. A nova unidade já foi planejada para receber ampliações e possíveis novos produtos das oito divisões de negócios da BorgWarner, das quais só duas estão em operação no Brasil atualmente (Thermal e Turbo Systems). Foi investido o total de R$ 70 milhões na mudança (que já começou este mês) para Itatiba, dos quais R$ 25 milhões destinados ao primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento da empresa na América do Sul. “Esse será nosso diferencial para desenvolver os turbos que a indústria automotiva vai precisar”, destaca o diretor geral.

Além dos novos clientes ainda em fase de negociação para os turbocompressores, já está certo que a fábrica brasileira vai abrigar a linha de produção de mais uma divisão da empresa, a Morse Tec, que faz sistemas de sincronização de motor. Em Itatiba a BorgWarner produzirá um comando de acionamento de válvulas por corrente – que substitui com maior robustez as correias dentadas. “Já temos aqui para esse sistema um cliente, que fechou pedido para um projeto global”, revela Iezzi.

BONS RESULTADOS, BOAS PERSPECTIVAS

Apesar do tombo de quase 40% na produção de caminhões no Brasil em 2012, o resultado da BorgWarner no País este ano foi de crescimento de 2,4% nos negócios em comparação com 2011, bem melhor do que o da maioria dos fornecedores do segmento de veículos comerciais pesados. “Vamos praticamente empatar com 2011 a produção de turbos, de 320 mil a 330 mil unidades”, projeta Iezzi. Segundo ele, o que salvou o ano foi principalmente o fornecimento de turbos de duplo estágio para as vans Iveco Daily e Mercedes-Benz Sprinter. “Como são duplos, contamos cada um como dois turbos fornecidos”, diz. Também houve crescimento de 7,5% nas vendas para o mercado de reposição, que contribui com 20% do faturamento. As exportações, que já representaram 30% das receitas há três anos, baixaram para 10% e devem seguir nesse patamar.

O pior resultado aconteceu nas vendas de ventiladores com embreagem viscosa, em queda de 25%, totalmente ligada ao fraco desempenho do mercado de caminhões. “Mas não houve necessidade de demitir, pois transferimos parte dos trabalhadores para as linhas de turbo, que continuaram aquecidas e representam 75% dos nossos negócios aqui”, explica Iezzi. “Também colaborou o fato de precisarmos fazer estoques, pois sabíamos que no fim do ano começaríamos a mudança de Campinas para Itatiba, com paralisação de parte da produção.” A BorgWarner emprega cerca de 500 pessoas no Brasil, perto de 400 no chão-de-fábrica.

Iezzi confirma o reaquecimento da carteira de pedidos em novembro e dezembro, com o cancelamento de férias coletivas de vários de seus clientes fabricantes de caminhões. Por isso ele já projeta crescimento das vendas em 2013 perto de 9%, considerando todos os segmentos de atuação. Atualmente, a operação no Brasil representa 5% do faturamento global da BorgWarner, de US$ 7 bilhões este ano. “A tendência é aumentar essa fatia com os novos negócios em vista para os próximos anos.”