Basf tem plano de triplicar negócios na região até 2025
Valor EconômicoA gigante alemã Basf, que completa 150 anos de história em 2015, prepara um novo salto dos negócios na América do Sul. Em dez anos, o faturamento da companhia química na região, cujas operações são comandadas a partir do Brasil, deve chegar a € 9 bilhões, o equivalente a quase o triplo das receitas de € 3,5 bilhões registradas no ano passado. Globalmente, a companhia teve vendas de € 74,3 bilhões em 2014, e cerca de 5% foram geradas pela operação sul-americana.
Importante impulso virá do pacote de € 1,1 bilhão em investimentos programados entre 2013 e 2017, incluindo o aporte de € 540 milhões no Complexo Acrílico de Camaçari, na Bahia. Prestes a ser inaugurado, o projeto baiano tem três fábricas, de ácido acrílico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes (SAP), usados em uma série de indústrias, e corresponde ao maior desembolso da companhia alemã no Brasil em 104 anos de presença local.
Em entrevista ao Valor, o presidente da Basf para a América do Sul, Ralph Schweens, afirmou que a previsão de crescimento de três pontos percentuais acima do mercado até 2025 reflete a estratégia de lançamento de novos produtos - na região, as vendas provenientes de inovação desenvolvida regionalmente devem alcançar 3 bilhões de euros naquele ano - e investimentos em expansão.
Do lado da capacidade adicional, contou o executivo, embora o destaque do pacote atual de investimentos seja o Complexo Acrílico, que ganhou menção no relatório de resultados globais de 2014, a Basf tem realizado aportes em outras áreas, como por exemplo na expansão da produção de agroquímicos na fábrica de Guaratinguetá (SP). A companhia planeja ainda aportes de infraestrutura, especificamente em armazenamento, e na Suvinil, marca de tintas da Basf, a aposta é crescente em inovação.
Sobre a operação de tintas no país - a Basf atua há 60 anos no mercado de tintas imobiliárias com a marca Suvinil e não tem esse negócio em nenhuma outra parte do mundo -, o executivo diz que um dos principais ativos é o "portfólio jovem". A companhia também produz pigmentos e aditivos. "Em Camaçari, vamos produzir acrilato de butila, que usado na produção de tintas. Logo, faz todo o sentido manter essa operação", afirmou.
Na Bahia, a inauguração do megaprojeto de ácido acrílico, que usará propeno fornecido pela Braskem, deve ocorrer ainda no primeiro semestre. A expectativa é a de que o investimento em Camaçari tenha impacto positivo de cerca de US$ 300 milhões ao ano na balança comercial brasileira, dos quais US$ 200 milhões via redução de importações e outros US$ 100 milhões em aumento das exportações. Dessa forma, o projeto trará alívio, ainda que relativamente pequeno, ao elevado déficit comercial da indústria química brasileira, que superou US$ 31 bilhões no ano passado.
O empreendimento se somará às outras 12 unidades industriais da Basf no país, onde a principal área de atuação, diferentemente da operação global, é o agronegócio. Na América do Sul, o campo é responsável por 33% das vendas companhia, enquanto mundialmente o segmento de soluções para agricultura gerou, em 2014, apenas 7% das vendas - o negócio de químicos e o segmento de materiais e soluções funcionais responderam pela maior fatia das receitas.
De acordo com Schweens, o processo atual de enfraquecimento da economia brasileira não altera os planos para os próximos anos, mas pode ter algum impacto no ritmo de crescimento no curto prazo. "Os planos gerais não mudaram muito. Estamos há 104 anos no país e não é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma situação difícil", afirmou.
Segundo o executivo, a liderança da Basf na Alemanha sabe que o desenvolvimento econômico do país é "irregular" e, embora esperasse crescimento mais forte do país, "não está em pânico". No setor de químicos, a redução da atividade econômica nacional se refletiu em queda de 1,87% da produção no primeiro trimestre, redução de 1,05% das vendas internas, retração de 0,4% do consumo aparente nacional (CAN) e baixa de 5,7% nas importações, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).
O comando da gigante alemã, por outro lado, está atento às oportunidades na área de bioquímica, diante da elevada oferta de biomassa no Brasil. "Estamos muito interessados no tema.
A mensagem que mando para a Alemanha é que, se alguma indústria pode desenvolver o setor de biomassa, é a do Brasil", afirmou Schweens. De olho nesse potencial, a Basf mantém contato com a GranBio, dona da primeira usina de etanol celulósico do Brasil e que pretende avançar sobre a área bioquímica.
Uma das metas globais da Basf até 2020 é justamente adaptar todas as suas soluções químicas a critérios de sustentabilidade. Para tanto, a companhia lançou em 2011 o programa "Sustainable Solution Steering", que prevê a classificação de todo o seu portfólio de produtos em quatro categorias conforme o atendimento a normas de sustentabilidade. "Já houve caso de retirada do produto do portfólio", contou o executivo, ressaltanto que a Basf foi "a primeira empresa química a fazer esse exercício".