Bancos incentivam exportação de pequena empresa
Valor EconômicoCom o dólar valorizado e a demanda doméstica fraca, grandes bancos estão aumentando os esforços para incentivar pequenas e médias empresas a venderem seus produtos no exterior. A exportação desse segmento ainda é pequena, mas executivos têm notado o início de um crescimento no volume de clientes buscando estruturar vendas em outros países ou reforçar sua internacionalização.
As instituições financeiras têm se focado em facilitar a tomada de crédito no exterior, fornecer os serviços financeiros necessários para a exportação e dar informação e orientação sobre os mercados em que seus clientes querem entrar. Em alguns casos, há até mesmo ações para tentar encontrar entre os clientes estrangeiros possíveis compradores para os produtos brasileiros.
O objetivo dos bancos é começar a explorar um segmento de empresas que ainda exportam pouco e que, se internacionalizadas, irão demandar novos produtos financeiros. Para as empresas, embora ainda haja obstáculos - como os altos tributos e a insegurança jurídica -, dar início ou reforçar as vendas no exterior são alternativas para tentar driblar a demanda fraca no país e aproveitar um momento em que os preços ganharam competitividade por conta da desvalorização do real.
Marco Carvalho, presidente e fundador da Toys Talk, uma empresa que produz brinquedos interativos, intensificou suas vendas no exterior este ano para compensar a demanda mais fraca do Brasil. Ele aumentou as exportações e hoje cerca de 85% de seu faturamento vêm de vendas internacionais. Ano passado, esse percentual era de apenas 20%. "Se não fosse a internacionalização a gente estava, sinceramente, falido. Teria sido muito difícil se recuperar dessa crise", disse Carvalho. Em 2014, sua empresa faturou US$ 4 milhões e a projeção para 2016 é de US$ 15 milhões.
O Santander, que auxiliou a Toys Talk a montar sua operação no exterior, tenta ajudar seus clientes a fazer negócios lá fora por meio de uma plataforma online batizada de "portal Trade". O canal tem informações de 25 mil empresas em 186 países, e por meio dele os clientes do banco em diversas localizações podem se comunicar. "O cliente consegue colocar uma informação dele e falar com um cliente da China", afirma Ede Viani, diretor de empresas e instituições do Santander. O banco também tem promovido diversos eventos para conectar empresas.
Marlene Milan, diretora executiva do Bradesco, afirma que os pequenos empresários precisam de muita orientação para estruturar vendas no exterior. "Esse é o tipo de cliente que precisa que você ensine, pegue na mão e mostre exatamente o caminho", afirma. "Percebendo esse movimento, temos buscado dar foco específico para ensinar, orientar e focar na parte de prestação de serviços." Para isso, o Bradesco mapeou as pequenas empresas que já fizeram algum negócio no exterior e colocou um representante do banco naquela região. "Tenho 26 pontos com o foco de explorar oportunidades e orientar o cliente em suas necessidades, tanto de serviço, cobrança de carta de crédito, fechamento de câmbio", diz Marlene.
O resultado dessas ações, segundo a executiva, ainda é um "crescimento tímido" no número de pequenas e médias empresas exportando, já que há barreiras a serem vencidas, como a insegurança jurídica, os altos tributos e a burocracia de muitos processos. De acordo com Marlene, o número de companhias exportadoras com faturamento abaixo de US$ 100 mil cresceu cerca de 6,6% entre julho de 2014 e o mesmo mês de 2015, com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Já a quantidade de empresas exportadoras de maior porte, com faturamento acima de US$ 100 milhões, caiu 4,4% no período.
O Banco do Brasil fez este ano 52 seminários com pequenos empresários para apresentar seus produtos financeiros, como linhas de crédito à exportação e seguros, e capacitar os representantes com cursos sobre o tema. O banco também busca incentivar a internacionalização por meio de iniciativas em parceria com entidades que apoiam o comércio exterior, como o Sebrae e a Apex-Brasil.
Vicente Vieira, sócio fundador da Manifesto Games, empresa de desenvolvimento de jogos online, afirma que está conseguindo expandir suas vendas no Brasil mas, ao mesmo tempo, tem buscado cada vez mais negócios no exterior para aproveitar o câmbio favorável. Hoje, cerca de 60% de sua receita vêm do exterior e este ano a empresa deve faturar R$ 2,5 milhões, mais que o dobro do resultado do ano passado. "Com a alta do dólar, conseguimos oferecer nossos serviços a um preço mais competitivo", diz.
O dólar alto também criou oportunidades na mão contrária. O Itaú chama atenção para o número de empresas estrangeiras que estão se instalando no país. "Vemos empresas entrando no Brasil hoje com visão de longo prazo, não apenas para aproveitar a oportunidade de preço", diz Eneas Ferreira, responsável pelo atendimento de multinacionais no Itaú. "O que a gente busca fazer é ajudar os clientes a entender o que está acontecendo no Brasil", diz.