30/10/23 14h57

Azul adota programa para redução da emissão de CO²

Companhia diminuiu o uso do motor auxiliar dos aviões, que é acionado em solo; medida gera menor consumo de querosene e, consequentemente, menos poluentes

Correio Popular

A Companhia Aérea Azul, que tem base em Campinas, desenvolve desde abril de 2022 um programa que visa diminuir a queima de combustível dos seus aviões e, consequentemente, as emissões de CO2 na atmosfera. Com a implementação dessa iniciativa, chamada de APU Zero, ocorre a redução do uso de um motor auxiliar das aeronaves, que consome querosene de aviação, que por sua vez é substituindo por fontes de energia externas e mais limpas. O projeto já registrou, desde sua adoção, a eliminação de 81 mil toneladas de poluentes que seriam despejados no meio ambiente.

O APU ou Unidade Auxiliar de Energia (Auxiliary Power Unit, em inglês) é um motor secundário, muitas vezes localizado na cauda de alguns aviões. Ele é acionado quando as aeronaves estão no solo, chegando ou saindo, e seu objetivo é gerar energia para manter diversos sistemas ligados durante o embarque e desembarque de passageiros. Quando está em operação, este motor utiliza parte do querosene dos tanques de combustível da nave, consumindo-o e, consequentemente, emitindo CO2 na atmosfera. "Quando em voo, os motores da aeronave são responsáveis por essa função, mas em solo o APU é o único meio de o avião ter energia elétrica sem depender de meios externos", explica Diogo Youssef, gerente de eficiência de voo da Azul.

O porta-voz conta que não há problema em não usar o APU em solo, só que nesses casos é preciso recorrer a equipamentos de suporte, que permitem que a aeronave tenha energia elétrica e arcondicionado durante o embarque e desembarque. A partir da implementação do APU Zero, que é desenvolvido através da parceria da Azul com os aeroportos, os voos são imediatamente recebidos com uma fonte externa de energia elétrica, garantindo assim a maior parte da potência necessária para manter todo este funcionamento.

O programa surgiu a partir do trabalho do time especializado da companhia que estuda formas de melhorar a eficiência de voos e reduzir o consumo de combustível por parte dos seus aviões "Todo o processo é feito em parceria com as bases, que são responsáveis por fornecer a energia necessária para que a aeronave em solo funcione normalmente para o desembarque e embarque dos clientes", informa Diogo. A ideia da iniciativa é fazer uma troca de fonte energética, substituindo a mais poluente, a queima do querosene, por outra que tenha origem mais limpa, como a energia elétrica produzida para o aeroporto.

Apesar do nome do programa, ele não visa necessariamente inibir toda a utilização do motor auxiliar. Seu objetivo é que o APU seja usado o mínimo possível, gerando mais reduções nas emissões de gases nocivos ao meio ambiente. O gerente de eficiência de voo explica que a redução não é total, pois o APU deve ser ligado antes da saída da aeronave para permitir o acionamento dos motores. "No entanto, com o processo de atendimento da aeronave em solo bem estruturado, nossos pilotos acionam o APU apenas cinco minutos antes da saída, garantindo um tempo mínimo de uso do combustível com esse equipamento", detalha Diogo.

O resultado sobre as reduções de emissão de CO2 nos últimos meses demonstra o sucesso do programa APU Zero e incentiva o seu crescimento. De acordo com Daniel Tkacz, vice-presidente de Operações da Azul, mais aeroportos têm mostrado interesse em aplicá-lo em seus espaços. "O uso de APU em solo, nas bases que adotam o nosso programa, caiu de 42%, em abril do ano passado, para 14%, em abril deste ano. E isso levou a uma diminuição de 73% no combustível consumido em solo. Só na base de São Luís a previsão é de que o uso de APU - que hoje é de 87% - caia em breve para 24%", detalha ele, explicando que o processo de diminuição é gradual.

Início campineiro

A primeira base a aderir ao APU Zero, em 18 de abril de 2022, foi o Aeroporto Internacional de Viracopos. "Começamos por Campinas pela importância e impacto da operação no nosso principal hub (espaço), onde temos cerca de 180 voos diários para mais de 60 destinos. Além disso, é importante lembrar que a Azul nasceu em Campinas, realizando seu primeiro voo a partir de Viracopos", reforça o gerente de eficiência de voo. A escolha da cidade para o ser a pioneira no programa é também simbólica. "Em média, conseguimos reduzir em até 14% o uso do APU em Viracopos. O fato de ter sido a primeira base a aderir ao programa ajuda na constante melhoria e aperfeiçoamento", complementa Diogo.

Atualmente, são 18 os aeroportos preparados para implementar e apoiar a iniciativa sustentável. Além de Viracopos, estão incluídas as bases de: Guarulhos (GRU), Congonhas (CGH), Natal (NAT), São Luís (SLZ), Vitória (VIX), Goiânia (GYN), Curitiba (CWB), Belém (BEL), Florianópolis (FLN), Confins (CNF), Brasília (BSB), Rio de Janeiro (SDU), Cuiabá (CGB), Recife (REC), Salvador (SSA), Manaus (MAO) e Ribeirão Preto (RAO). Este último, o mais recente, aderiu ao projeto em 25 de setembro.

Existe uma agenda para que aconteçam mais implementações até a conclusão de 2023, quando a companhia espera subir este número para pelo menos 20. "Temos muitas oportunidades de melhorias e de ampliação do APU Zero que dependem da colaboração de todos. Muitas equipes, de diversas áreas da Azul, já trabalham nisso e podemos até superar as nossas expectativas até o final do ano", projeta o vicepresidente da companhia. 

Economia em combustível

Uma vez que o APU é ligado com cada vez menos frequência a partir da implantação do programa, não há apenas a redução de CO2 emitido. Afinal, a economia atinge também o combustível das aeronaves, que é destinado primordialmente para uso durante os voos. Menos APU significa também menos consumo e mais eficiência no uso do recurso energético. Em Campinas, em apenas quatro meses após a implantação, foi constatada uma economia de querosene que é o suficiente para ser movimentar 80 voos entre os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

Para além do Apu Zero

As ações que estão em desenvolvimento pelo programa APU Zero não são as únicas iniciativas da Azul na busca por uma economia mais verde. "Temos o compromisso de ser uma companhia carbono neutro até 2045, e o APU Zero é apenas uma das ações do nosso Programa de Eficiência de Combustível (PEC), que somente no ano passado proporcionou uma economia de 134 mil toneladas de CO2", detalha o gerente.

Entre as ações do PEC estão a renovação da frota, com aeronaves mais modernas e com menor consumo de combustível por assento, além da otimização e redução de rotas. Daniel explica ainda que a Azul participa de discussões e possui uma equipe dedicada a estudar junto com fornecedores e parceiros as melhores soluções para o uso do combustível sustentável da aviação (SAF) produzido no Brasil. "Isso, a longo prazo, pode ser um dos principais fatores para reduzir as emissões das aeronaves", conclui Diogo.

 

Fonte: https://correio.rac.com.br/campinasermc/azul-adota-programa-para-reduc-o-da-emiss-o-de-co-1.1437468