02/12/20 13h46

Avicultura supera impacto da pandemia e deve ter ano rentável

Setor avícola mantém produção positiva em meio à pandemia, mas ainda requer atenção quanto à elevação dos custos dos insumos; empresa com unidade na região aposta em 'super frango' precoce

Diário da Região

Na contagem regressiva para o Natal, os consumidores ainda não sabem ao certo como irão celebrar as festas de fim de ano, em razão da pandemia de coronavírus que impôs distanciamento social e do poder econômico que afetou as finanças das famílias brasileiras. Mas as aves natalinas - as protagonistas da ceia familiar- não devem faltar, como indicam os especialistas. A demanda doméstica pela carne de frango segue firme, principalmente com a alta de preços das carnes concorrentes, como a bovina e a suína. E ainda neste cenário de impactos, no mercado das exportações, o setor avícola também exportou mais, no ano de 2020, em comparação com o ano passado.

De acordo com estimativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a produção de carne de frango deve alcançar 13,7 milhões de toneladas, contra as 13,245 milhões de toneladas de 2019. Na região noroeste do Estado de São Paulo, a avicultura de corte também se mantém aquecida. Segundo o Escritório de Defesa Agropecuária de Rio Preto, estão cadastrados, pelo órgão, 220 aviários de frango de corte, em 24 municípios, com a produção de cerca de 1,5 milhão de aves. Em 90% da produção avícola de corte, o sistema é o de granjas integradas aos frigoríficos, conforme o Escritório de Defesa Agropecuária.

Com a média de abate de 40 mil a 45 mil aves por dia, o Frigorífico Confina Alimentos, instalado em Poloni, mantém a mesma produção anual de 2019, com demanda maior para o período das festas de fim de ano. Segundo o diretor técnico da Confina, Bruno Santana Barreto, não é possível fazer um comparativo com o aumento da produção de abates de aves em anos anteriores, "mas sempre nos programamos para uma produção crescente nesta época do ano".

Na análise cautelosa, Bruno acredita que o mercado de aves está fortalecido na região noroeste, mas aponta dois lados a serem considerados. "O mercado de proteína tem preços elevados, com a alta do dólar que eleva os insumos para o setor avícola, como também o da carne bovina e suína.Por causa isso, a população procura consumir mais a carne de frango, que possui custo menor para o consumidor. Por outro lado, o salário mínimo não aumentou, o auxilio emergencial diminuiu, e esses fatores devem impactar também o mercado de aves", avalia Bruno.

O preço do quilo do frango para o consumidor, segundo o diretor da Confina, que no ano passado era comercializado, em média, por R$ 4 e R$ 5, agora, em ano de pandemia e de desvalorização do Real, chega a R$ 7 no supermercado. "Ainda não sabemos se o consumidor terá muito poder de compra neste Natal", diz Bruno, ao lembrar ainda que outros itens da cesta básica, como o óleo de soja e o arroz continuam pesando nas compras.

A pandemia do novo coronavírus, que no primeiro semestre de 2020 atingiu muitos frigoríficos de proteína no mercado brasileiro, com a contaminação de funcionários, não chegou a causar impacto na produção da Confina Alimentos, conforme Bruno. "Não tivemos muitos problemas, e seguimos todas as orientações sanitárias do Ministério do Trabalho. Continuamos com todas as precauções". Ele afirma ainda que a produção de aves também não foi interrompida, no frigorífico, em decorrência da pandemia.

No frigorífico, Bruno diz que o sistema de integração é de produção das aves de corte com 50 avicultores e a carne de frango é comercializada no mercado interno, principalmente no Estado de São Paulo. "O custo de produção está muito alto, com a elevação dos preços da soja, do milho e do óleo de soja, insumos que fornecemos para as granjas utilizarem na ração dos animais", destacou Bruno.

Adaptações

A JBS- Seara, que possui uma unidade frigorífica em Guapiaçu, na região de Rio Preto, informou por meio da assessoria de comunicação, que algumas adaptações foram feitas pela indústria, no ano de 2020, para a produção de aves de Natal, por causa da pandemia da Covid-19. "Neste ano, as famílias estarão mais próximas, teremos mais celebrações dentro de casa e, possivelmente, em grupos menores. Por isso, o desafio é trazer produtos novos e experiências que retratem esse momento, tornando as comemorações ainda mais especiais", diz a assessoria.

As opções de produtos avícolas da JBS foram diversificadas, de acordo com o paladar e orçamento das famílias, para atender a demanda do momento, em ano de pandemia onde as comemorações familiares deverão ser mais intimistas. O destaque, segundo a assessoria de comunicação, é para o lançamento de uma ave orgânica. Em relação à produção da unidade frigorífica de Guapiaçu, a assessoria informa que "a empresa não revela produção por unidade".

Custos não inibem e produtores investem no setor

A avicultura de corte vem se mantendo firme na região de Rio Preto, de acordo com o produtor rural Renato Gaspar Martins, que investiu na instalação de dez aviários, com produção anual de 2,5 milhões de frangos. "Observo que todos os frigoríficos da região estão em crescimento, com aumento de até 20% no abate de aves", diz Renato.

Para o produtor, o frango é a proteína com menor custo para o consumidor, em comparação com outras carnes, "além de proporcionar uma dieta mais equilibrada, com menos gordura". Em termos de produção, Renato avalia que a avicultura também é mais rápida, com um tempo de produção de 42 dias para a ave ser abatida, se comparada com outros animais.

O avicultor Murilo Gil explica que o trabalho da avicultura na região de Rio Preto funciona no sistema de integração entre as granjas e os frigoríficos, que fornecem a ração, os insumos e a assistência técnica. "O frigorífico aumenta a produção, mas nós, produtores, continuamos com a demanda equacionada", diz Murilo.

A expectativa da produção para o final do ano é considerada boa para Murilo, mas os altos custos de milho e soja, que tiveram elevação de preços recordes nos últimos meses, afeta a produção. "Acaba, que trabalhamos no nosso limite", afirma o avicultor. Ele avalia também que o trabalho de integração com as plantas frigoríficas dão maior estabilidade e segurança para o avicultor.

Exportações em alta

A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou, no mês de novembro, dados que mostram as exportações brasileiras de carne de frango em alta nos 10 primeiros meses de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019. Ao todo, foram embarcadas 3,498 milhões de toneladas entre janeiro e outubro deste ano, contra 3,490 milhões de toneladas no ano passado.

A China, segundo o levantamento, segue como principal destino da carne de frango brasileira em 2020. Ao todo, foram exportadas 564 mil toneladas entre janeiro e outubro deste ano, número 24% superior ao registrado no mesmo período de 2019. A Arábia Saudita foi o principal destaque, com 44,9 mil toneladas embarcadas no período, número 22% superior ao registrado no mesmo período de 2019.

Na análise do professor de Economia e Gestão do Agronegócio da Unesp - campus de Ilha Solteira -, Omar Jorge Sabbag, com o aumento das exportações para a China e a desvalorização da moeda nacional, restringiu-se a oferta de proteína animal no país, com consequente elevação dos preços para o consumidor. "Espera-se para o produtor, alguns instrumentos de política setorial, como subsídios, por exemplo, para minimizar a flutuabilidade de preços dos grãos, evitando assim não inflar demasiadamente os preços na cadeia produtiva", avalia o professor. (CC)

Empresa desenvolve 'super frango'

Apoiada em pesquisas ao longo de 15 anos, a Cobb, empresa de genética avícola, acaba de lançar no mercado um animal macho que possui maior eficiência em conversão alimentar e em ganho de peso. O diretor associado de produto da Cobb na América do Sul, Rodrigo Terra Celidonio, explica que os experimentos com o novo exemplar, foram realizados nos Estados Unidos e no Brasil, resultando em uma ave mais competitiva e eficiente para o setor.

O objetivo da Cobb - que possui unidade instalada em Guapiaçu e está no mercado de genética avícola há 104 anos- segundo Rodrigo, é o investimento em alta tecnologia. "O Macho Male [nome dado ao novo lançamento da empresa] é muito eficiente em ganho de peso, conseguindo equilibrar com uma ração mais básica, o que é muito importante para o momento, de preços altos dos insumos", explicou Rodrigo.

A linha de desenvolvimento da nova ave, que é fornecida para o setor de aves de corte, é muito interessante, conforme ressalta Rodrigo. "Não é um alimento premium oferecido, é uma alimentação que pode ser à base de milho, soja, vitaminas e minerais, que será eficiente na conversão alimentar para o ganho de peso do animal", pontua. Outro aspecto que o diretor da Cobb destaca no novo lançamento da empresa é a importância da avicultura, hoje, ocupando menor espaço das aves no ambiente do alojamento, o que contribui para a diminuição do impacto ambiental.

fonte: https://www.diariodaregiao.com.br/economia/agronegocio/2020/12/1214804-avicultura-supera-impacto-da-pandemia-e-deve-ter-ano-rentavel.html