Avanço chinês sobre a vizinhança brasileira perde força, diz estudo
Valor EconômicoA fatia da China nas importações feitas pelos países-membros do Mercosul, da Aladi e da Nafta - os três principais mercados para manufaturados brasileiros - continuou em alta de 2012 a 2015, mas o Brasil conseguiu ganhar participação de vendas em setores estratégicos no período, principalmente em produtos cuja demanda mais cresceu nessas regiões, como equipamentos de transporte.
É o que mostra levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), com base em números do Comtrade, base de dados da Organização das Nações Unidas (ONU). O estudo foi feito a partir do comportamento das exportações de manufaturados dos dois países para os três blocos: Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai), Aladi (Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) e Nafta (Canadá, Estados Unidos e México).
Depois da crise de 2008 e 2009, observa Rafael Cagnin, economista do Iedi, a China aumentou seus embarques para os três blocos como parte da estratégia de elevar a presença no continente americano para compensar a desaceleração das economias centrais.
A tática foi bem-sucedida: o valor exportado pela China aos três mercados subiu 47,6% entre 2008 e 2012, enquanto as vendas do Brasil aumentaram apenas 1,9%. No triênio seguinte, o desempenho das exportações chinesas seguiu bastante à frente das brasileiras, mas desacelerou, com alta de 8,3% em 2015 na comparação com 2012. No mesmo período, houve retração de 21,8% nos embarques brasileiros de manufaturados nas três regiões selecionadas.
Apesar do recuo de dois dígitos, o Iedi mostra que houve ganho relativo de competitividade nos últimos três anos sobre a concorrência chinesa, com destaque para produtos que tiveram maior demanda pelas três regiões, ao mesmo tempo em que o Brasil aumentou sua fatia de mercado. No segmento, classificado pelo instituto como "oportunidade aproveitada", houve avanço, entre 2012 e 2015, de 25% para 45% no total de exportações brasileiras para esses mercados. A China seguiu com participação mais elevada desses produtos em sua pauta exportadora, de 56%, mas a expansão dessa fatia ante 2012 foi menor, de 11 pontos.
O setor de outros equipamentos de transporte foi o grande responsável pela maior inserção brasileira no segmento de oportunidades aproveitadas. Em 2012, esses itens representavam apenas 0,3% do total exportado pelo Brasil às três regiões, parcela que saltou para 20,4% em 2015. "Esse resultado favorável decorre, ao que tudo indica, das vendas externas de aeronaves pela Embraer ", avalia a entidade.
Também houve melhora das exportações do Brasil na categoria chamada pelo Iedi de "oportunidade perdida". Nesse grupo, o produto ganha participação relativa nos três blocos, mas o país exportador perde representatividade nas vendas desse mesmo produto. O peso desse segmento nas exportações brasileiras para as três regiões recuou 12 pontos entre 2012 e 2015, para 13% do total, patamar ainda considerado alto pelo instituto.
Em sentido contrário, a China passou a perder mais oportunidades, uma vez que essa parcela das exportações chinesas subiu no período analisado, de 13% para 18%.
Outro dado favorável foi a evolução das vendas externas brasileiras dos chamados "produtos em declínio", ou seja, bens que estão perdendo espaço na pauta de importações dos três mercados contemplados, mas ganhando participação na pauta exportadora do país. No total exportado pelo Brasil aos três blocos, esses produtos recuaram de 33% em 2012 para 15% em 2015.
Cagnin, no entanto, relativiza os resultados positivos para o Brasil observados no levantamento. O biênio de 2014 e 2015 foi marcado por apreciação do dólar, destaca o economista, movimento acompanhado pelo yuan devido à política cambial chinesa, que tenta manter a moeda do país em torno de um preço fixo contra a divisa americana, embora a paridade não seja fixa.
Ao mesmo tempo, o real teve desvalorização em relação ao dólar, principalmente em 2015, o que aumentou a competitividade das exportações brasileiras de forma temporária, na avaliação de Cagnin. Em 2016, a divisa brasileira voltou a se apreciar, o que ameaça a reversão da tendência de perda de dinamismo das exportações brasileiras, afirma ele.
Além da depreciação do câmbio - cuja trajetória é muito volátil no Brasil e, por isso, tende a não se sustentar ao longo do tempo, na visão do instituto - Cagnin também identifica a recessão que atinge o país desde o segundo trimestre de 2014 como outro impulso às exportações. "O câmbio abre portas e a recessão te empurra para fora", disse.
O estudo do Iedi ainda avaliou o grau de ameaça das exportações chinesas em cada uma das categorias analisadas. Segundo a pesquisa, há ameaça direta dos chineses quando há aumento de participação de mercado pela China num determinado país, ao mesmo tempo em que o Brasil perde mercado no mesmo destino. Há, também, a ameaça indireta, quando o Brasil ganha participação, mas a China ganha mais.
A ameaça direta dos produtos chineses é maior no grupo de "oportunidades perdidas", em que 68,7% dos itens eram ameaçados pela concorrência chinesa em 2015. Em 2012, porém, esse percentual era maior, de 76%. A ameaça indireta chinesa no segmento de "oportunidades aproveitadas" caiu mais no período, de 36,4% para menos de 5%.
Por outro lado, observa Cagnin, a fatia de produtos brasileiros exportados ao Nafta que sofrem ameaça direta da China se expandiu entre 2012 e 2015, de 39,5% para 45,2%, resultado desfavorável, uma vez que o Nafta é o mais dinâmico dos três blocos analisados, devido aos EUA. "O ganho relativo de competitividade do Brasil não é suficiente para romper vínculos mais estruturais da relação chinesa com os Estados Unidos", disse Cagnin.