Automação eleva produtividade de portos
Nos terminais brasileiros, portêineres substituem os velhos guindastes móveis e RTGs tomam o lugar das antigas empilhadeiras
Estado de S. PauloA corrida para alcançar os melhores índices de produtividade provocou uma revolução nos terminais brasileiros de contêineres. Nos últimos anos, seguindo uma tendência mundial que começou há mais tempo, antigos e obsoletos equipamentos deram lugar a máquinas modernas e eficientes, que juntas ajudaram a reduzir o tempo que os navios permanecem em terra. Cada minuto economizado na operação significa um cliente novo para os terminais, que travam uma briga ferrenha pelos melhores indicadores de produtividade.
No processo de modernização, máquinas gigantes passaram a compor a paisagem dos portos brasileiros. Os velhos guindastes móveis foram substituídos pelos portêineres – equipamentos sob trilhos elevados, que fazem o embarque e desembarque dos contêineres nos navios. No pátio, as velhas empilhadeiras deram lugar aos eficientes RTGs, pórticos sobre pneus que cuidam da disposição do armazenamento nos terminais. Isso sem contar todo o planejamento de carga e descarga e o armazenamento dos contêineres nos pátios.
Além de sistemas desenvolvidos para melhorar o acesso e a segurança das movimentações, as empresas também investem em sofisticados sistemas operacionais usados pelos melhores terminais do mundo.
Desde a entrada do caminhão na portaria do terminal até a saída do navio com os contêineres, tudo é controlado e acompanhado por sistemas online. Num terminal eficiente, a organização e a disposição dos contêineres nos pátios de armazenagem fazem parte de uma operação super planejada. Perder um contêiner dentro do terminal é um erro que não se pode cometer e custa alguns milhares de reais.
“Não adianta ter um portêiner (que custa alguns milhões de reais), se o resto não estiver adequado. Precisamos de um pacote completo”, afirma José Roberto Rocco, gerente de manutenção da Embraport, terminal inaugurado em 2013, no Porto de Santos, e considerado um dos mais modernos do País. Para ele, o funcionamento de um terminal eficiente depende de um modelo integrado, como se fosse uma engrenagem. Se uma parte não funciona, com promete todo o resto.
O executivo conta que o planejamento do terminal começa no agendamento de caminhões para carga e descarga. Quando chega no portão de acesso, o veículo já é direcionado ao endereço para descarregar o contêiner. “Tudo isso de forma informatizada. Entre 25 e 30 minutos o caminhão entra e sai do terminal”, diz Rocco.
Uma das vantagens da Embraport, empresa da Odebrecht Transport com a Dubai Port World, é que todo o projeto foi desenvolvido e construído levando em conta os melhores layouts do mundo, que facilitam a movimentação da carga no espaço de armazenagem. Os terminais mais antigos tiveram de criar todo esse trabalho com a operação a todo vapor.
A Santos Brasil, maior terminal de contêineres do País ao lado da Brasil Terminal Portuário (BTP), foi arrendada para a iniciativa privada na década de 90 e hoje está na lista das mais moderno se eficientes. Para chegar nesse nível, teve de trocar todos os equipamentos e informatizar o planejamento do terminal. Em2009, por exemplo, a empresa implementou um novo sistema operacional, que faz o controle de pátio e navio e a distribuição automática do plano de embarque e descarga dos contêineres. “A chave da produtividade é planejar. Máquinas novas e modernas são um complemento”, diz o diretor de Operações Portuárias e Logística, Ricardo Molitzas.
Ele conta que, em 1997, o terminal fazia 11 MPH – que representa o número de contêineres que são movimentados dentro do navio por hora. Em 2015, diz ele, esse número já estava em 110MPH.“Oplanejamentoé feito para que o navio permaneça o menor tempo possível no cais. Isso porque a estadia de uma embarcação no terminal pode custar entre US$ 20 e US$ 25 mil por dia.”
Segundo Molitzas, entre 1997 e 2015, a empresa investiu R$ 2 bilhões em novos equipamentos e softwares. Daqui para frente, com a renovação antecipada do arrendamento do terminal e o compromisso de investir outro R$ 1,3 bilhão, a empresa já pensa em renovação de algumas máquinas. “Portêiner é como um iPhone. Cada dia tem um mais moderno. Por isso, temos uma equipe que vai visitar alguns portos dos Estados Unidos para avaliar o que há de mais modernos nos terminais.”
Na Libra Terminais, empresa que detém arrendamentos nos Porto de Santos e do Rio de Janeiro, além da troca de equipamentos feita nos últimos anos, uma das apostas para melhorar a produtividade foi implementar um novo sistema operacional que permite maior planejamento do pátio com o menor número de movimentos possível.
No Rio, demorou um ano a implementação do Sistema Operacional de Terminais (TOS) N4 da Navis, considerado o mais eficiente sistema de planejamento de pátio e navios do mundo, segundo o diretor executivo do Grupo Libra, Roberto Teller. “Começamos a troca do sistema no Rio. Em Santos, por causa da renovação da concessão e da expansão do terminal, decidimos postergarem dois anos a implementação do programa”, afirma Teller.
Nos últimos quatro anos, a empresa conseguiu reduzir em25% os custos de movimentação de contêiner. “A gente teve uma evolução gigantesca, usamos tecnologia de ponta para melhorar nossa produtividade e investimos em metodologia de processos e redução de custos.” Tudo isso foi complementado com treinamento de pessoal para usar adequadamente equipamentos e sistemas.