Aumento de investimentos em digitalização do setor de plásticos é destaque na indústria nacional
Resultado contrasta com a maior parte do setor industrial, que apresentou acentuada queda nos investimentos entre 2022 e 2023, segundo pesquisa feita em parceria entre a ABDI e a FGV
ABDIA indústria brasileira encerrou o ano de 2023 com uma expressiva redução nos investimentos em digitalização. No 1º trimestre, o setor chegou a registrar 131,2 pontos no indicador, mas sofreu três quedas consecutivas até atingir a marca de 116,7 pontos ao término do 4º trimestre do ano passado. Contudo, se a indústria como um todo viu retração nos investimentos, o mesmo não foi observado no segmento de produtos de plástico, que fechou 2023 com o maior nível de toda a série histórica analisada, em 135,5 pontos.
Os dados são da Sondagem Transformação Digital nas Empresas Brasileiras, um levantamento trimestral fruto de parceria entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Fundação Getulio Vargas (FGV). A pesquisa, realizada em 2022 e 2023, já havia registrado um significativo crescimento nos investimentos em digitalização no setor de produtos de plástico entre o 2º e o 3º trimestres do ano passado, quando o índice saltou de 100,2 para 131,2 pontos.
O indicador mede de 0 a 200 pontos: o patamar de 100 pontos é considerado neutro; valores inferiores significam desaceleração e valores superiores sinalizam aceleração dos investimentos.
Os sucessivos aumentos que contrastam com o restante da indústria podem ser explicados pelo desafio da circularidade no setor. “A Abiplast compreende que o aumento significativo nos investimentos identificados está relacionado aos investimentos em digitalização direcionados à circularidade, refletindo o engajamento e a visão da indústria em relação à importância de identificar soluções para o redesign, logística reversa e reciclagem dos materiais plásticos”, argumenta o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Paulo Teixeira.
“Empresas ao longo de toda a cadeia de valor, incluindo produtoras de resinas, transformadoras de plástico, recicladoras, proprietárias de marcas, entre outras, estão enfrentando a necessidade de ajustar suas operações com novos modelos de negócios e práticas de circularidade”, completa.
Segundo o presidente, é possível criar um ambiente favorável para incentivar as empresas do setor a investirem na transformação digital, promovendo a circularidade e a sustentabilidade a partir de ações como oferta de incentivos financeiros às empresas e de programas de capacitação e desenvolvimento de habilidades para os funcionários, ampliação de projetos de certificação e reconhecimento a iniciativas de transformação digital, e parcerias entre empresas do setor plástico e fornecedores de tecnologia digital.
“Em um contexto global onde a indústria adota cada vez mais tecnologias de integração da cadeia de fornecimento, como ferramentas de rastreabilidade, realidade aumentada, análise avançada de dados com inteligência artificial, dentre outras tecnologias habilitadoras da indústria 4.0, setores que não buscarem se adequar ao uso dessas tecnologias perderão espaço nos negócios”, pondera Paulo Teixeira, lembrando que a indústria do plástico fornece para todos os setores da economia. “A transformação digital no nosso setor é essencial para garantir competitividade e sustentabilidade dentro dessas cadeias de fornecimento”, acrescenta.
Recircula Brasil
Uma parceria entre a ABDI e a Abiplast, o projeto Recircula Brasil propõe a implementação de uma plataforma de rastreabilidade de resíduos do setor plástico desde sua origem até a fabricação de um novo produto, com foco em gestão e governança de informações. A iniciativa não considera apenas o resíduo recuperado, mas efetivamente reinserido na cadeia produtiva.
“Segundo a ONU, somente a plataforma Recircula Brasil se mostrou capaz de comprovar as operações de todos os atores da cadeia produtiva, com informações de origem e de uso de conteúdo reciclado na fabricação de novos produtos, fechando, assim, o rastreio e o registro do ciclo da reciclagem”, ressalta a diretora de Economia Sustentável e Industrialização da ABDI, Perpétua Almeida. “Estamos entregando um produto que ajuda na transformação tecnológica e em boas práticas ambientais na indústria. Ao mesmo tempo, estamos sugerindo ao Governo Federal que adote a plataforma Recircula Brasil como parte da política pública sobre uso do plástico”, acrescenta.
Talita Daher, analista de Produtividade e Inovação da ABDI, reforça o pioneirismo da iniciativa. “Esse projeto é inédito, o que demonstra que estamos na vanguarda da busca por soluções de resíduos plásticos. Com ele apontamos um caminho para elaborar legislação que evite a bitributação, pois fica comprovado, com o uso da nossa plataforma, que as matérias-primas na economia circular estão entrando novamente no ciclo. Precisamos evitar que, a cada ciclo, elas sejam taxadas e tributadas como se fossem matérias-primas virgens”, explica.
“Uma das principais exigências no atual cenário do setor de reciclagem é a certificação de produtos que comprovadamente contenham materiais reciclados em sua composição, visando demonstrar aos consumidores a responsabilidade ambiental dos produtos consumidos e sua contribuição mínima para a geração de resíduos”, destaca Paulo Teixeira.
Com demanda significativa, o presidente da Abiplast aponta que o projeto foi criado para enfrentar de forma conclusiva os desafios que ainda existem para se estabelecer a circularidade de um produto e a proporção de conteúdo reciclado que ele incorpora. “Nesse contexto, o Recircula Brasil foi projetado como um sistema para abordar esse desafio especificamente, permitindo que seus usuários rastreiem suas operações e comprovem de maneira efetiva a inserção de conteúdo reciclado em seus produtos”, afirma.
De acordo com a pesquisa da FGV, além dos produtos de plástico, outro segmento do setor industrial que superou os níveis anteriores foi o de máquinas e materiais elétricos. No 4º trimestre, foram registrados 156,2 pontos, contra 155,0 do 2º trimestre de 2023.
Menos investimentos
A queda nos investimentos em digitalização do setor industrial foi fortemente influenciada por segmentos como a metalurgia, que atingiu 92,5 pontos, o pior nível da série histórica, contra 156,9 no 3º trimestre de 2022. Em celulose e papel, por sua vez, o indicador chegou a 142,9 pontos no 2º trimestre de 2022 para encerrar o ano de 2023 em 106,9 pontos. O segmento farmacêutico também foi outro a registrar o menor nível de todas as sondagens, fechando o ano passado em 105,7 pontos contra os 158,8 do 1º trimestre de 2023.
De acordo com a avaliação da sondagem, os resultados podem ser creditados a uma conjuntura que, apesar de condições macroeconômicas favoráveis, como alívio da inflação, redução do desemprego e queda da taxa de juros, apresenta também desaceleração no crescimento, com taxas negativas principalmente no investimento.
Quando avaliada a série histórica desde o início, a primeira metade de 2022 mostrou um foco crescente na digitalização em todos os setores. O fim daquele ano e o início de 2023 já apresentaram uma flutuação, com a indústria atingindo seu pico de investimentos e outros segmentos desacelerando ou estabilizando. Nos primeiros trimestres do ano passado, o nível do indicador de digitalização da indústria ainda era o maior entre os setores, o que não ocorreu no último trimestre, com serviços alcançando o posto.